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Mostrando postagens de 2016

O Uirapuru e o seu canto que trás felicidade

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"Quando o sol pende do zenith e a floresta aquecida rescende a todas as essências preciosas, que são o hálito e a fragrância da seiva rica de muitos vegetais, o Uirapuru aproxima-se das estradas ou das clareiras abertas no matagal sem fim, e desprende as primeiras vibrações, que atraem, reúnem e selecionavam uma assistência imensa de vates emplumados, alguns dos quais tomam parte no concerto, como figuras combinadas em afinações naturais, que formam e disciplinam encantadora orquestra voejante. Então, começa prestes, a execução das melodias estranhas, que nos chegam como ondas de harmonias, que etéreos fluídos trouxessem dos céus, para se espiritualizarem, sob a abóboda verde do arvoredo. Mas, daquela melopea excelsa, que se estende por uma, duas e mais horas seguidas, e mesmo quando principia em conjunto, após instrumentação garganteada em coro com outros artistas alados, a meio, em diante, somente se ouve o sopro flautado, enlevante, do músico-cantor inexcedível que, nesse

As aves nos rios florestados

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"Descer um dos rios florestados brasileiros é uma bela experiência, mas é nos seus braços secundários, remansos, restingas e portos que o observador de aves terá mais sucesso. Um rio não apresenta só aves ribeirinhas, e você deve ficar atento às espécies que cruzam de uma margem para outra, ou seguem o curso do rio para se deslocarem mais facilmente. Em todas as barrancas altas, as Arirambas (Martins-pescadores) perfuram suas tocas; são também, muito vistas em voo, sempre pelas margens. A Andorinha-de-rio e a Andorinha-buraqueira, são duas espécies comuns, entre outras, que estão sempre voando sobre a água, pegando insetos; a Andorinha-buraqueira faz, como as Arirambas, buracos nas barrancas, onde se aninha. Os Biguás-pretos aparecem pousados  nas árvores das margens e os Biguás-brancos mostram seus pescoços fora d´água; a Garça-branca-pequena é a única das garças que é vista com facilidade nesse ambiente. Japus e Japiins passam em pequenos bandos, principalmente nas regiões

Tesouros botânicos

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"Uma vegetação totalmente diferente, de uma exuberância e selvagidade autenticamente tropical recebeu-nos aqui. Árvores de folhagem, de um tamanho gigantesco nunca visto erguiam-se para o infinito. Na base dos troncos retos como velas, de uma circunferência monstruosa, corriam para todos os lados raízes em forma de paredes, que nós devíamos ultrapassar. Nas esguias palmeiras de paxiúba, que com numerosas raízes aéreas se agarravam no solo, trepavam os filodendros com folhas largas, e outros parasitas subindo para o alto. Em cada racha das árvores, em cada galho seco, em toda a parte onde poderiam  encontrar um pouco de alimento, tinham se aninhado as mais diversas orquídeas. Quantos tesouros botânicos estavam abrigados nestes desconhecidos trópicos selváticos!" Theodor Kock-Grünberg (1872-1924). Dois anos entre os indígenas: viagens n noroeste do Brasil (1903-1905) . 2005, p. 238-239.     Orquídea. Pintura de Martin Johnson Heade (1819-1904) 

Estreito de Breves: um labirinto maravilhoso

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"[...]. Ao dia seguinte, começamos a atravessar os estreitos de Breves. São um labirinto maravilhoso. Tinham-me feito uma observação que verifiquei: as gaivotas que nos acompanhavam, esteira afora, ficaram para trás. Nenhuma transpôs a entrada de Breves. Medrosas, voltaram em busca dos seus lugares prediletos. Por que esse fato? Sabe lá alguém o motivo de quantas idiossincrasias de certas aves? A estrada que o navio corta tem a largura de poucos metros. Mais vasta aqui. Mais estreita lá adiante. As canaranas e os mururés rolam na correnteza, como ilhas flutuantes. Paus decepados, galhos ainda verdes, pedaços de troncos são tangidos na onda, de bubuia... Nas margens, a vegetação, numa exuberância pasmosa, varia, num crescendo espantoso, desde a aninga, um capim tenro, o buriti, a semelhar a carnaúba, até a samaumeira gigantesca e perfilada imponentemente, espiando as águas barrosas, que correm na ânsia de precipitar-se no Oceano". Raimundo de Menezes. Nas ribas do

A confecção dos alimentos

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"Grande também era a azáfama no alpendre reservado à confecção de alimentos, onde as mulheres se agitavam às voltas com raladores, urupemas, pilões, fornos e tipitis. Umas manipulavam a mandioca, fazendo as farinhas-d´água e de carimã, e também beijus, tapioca, arubé e tucupi. Outras preparavam conservas de peixe, mixiras e piracuí, reservadas especialmente para a época das águas, quando escasseiam a caça e a pesca. Mais adiante, algumas velhas secavam favas de baunilha e guardavam-nas no óleo de castanha de caju, que lhes reteria o perfume. Havia ainda a dependência destinada à extração e envasamento dos vários óleos vegetais, de bacaba, ucuúba, andiroba e outros". Gastão Cruls (1888-1959). A Amazônia misteriosa . 1957, p. 103-104.     Mandioca. Brasilien Entdeckung und Selbstentdeckung. 1992. Albert Eckhout. 1640. 

Sapopemas

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"Pouco a pouco cai um aguaceiro; paramos sob uma grande árvore e aproveitamos o tempo para almoçar. Poder-se-ia acampar muito confortavelmente entre essas raízes; os índios chamam-nas sapopemas, grandes contrafortes achatados, que se expandem de todos os lados por duas ou três jardas e que sobem contra o tronco até o dobro dessa distância. Não sei de que espécie é; uma samaúma muito provavelmente, mas muitas das árvores da floresta têm sapopemas, grandes ou pequenas; suportes que impedem a queda da árvore. Ás vezes, os índios cortam porções de sapopemas e usam-nas como pranchas grossas; frequentemente constroem cabanas encostadas ao tronco dessas árvores, e usam as sapopemas como paredes". Herbert Smith (1851-1919). In: PAPAVERO, N. ; OVERAL, W. L. (Orgs.). Taperinha: histórico das pesquisas de história natural realizadas em uma fazenda da região de Santarém, no Pará, nos séculos XIX e XX . 2011, p. 162.         Árvore com sapopemas Pintura de Johann Moritz Ruge

A vegetação do Purus

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"A flora epífita aqui caracteriza o mato muito menos do que nas florestas da zona marítima do Brasil oriental. As orquídeas são na verdade numerosas, mas as bromélias escasseiam; e as tilandsias que com longas barbas ou flutuantes véus pendem das florestas virgens do Espírito Santo, do Paraná e de Santa Catarina, faltam aqui quase completamente. Nas citadas províncias também se vêm muito mais Passifloras (Maracujás), Fetos e Bambuseas. Sucede, pois, que para o viajante leigo na botânica a vegetação do Purus, apesar de grandiosa, vai tomando com o tempo uma feição de monotonia, e vai-se tornando sensível numa certa falta de variedade em formas e matizes nessas compactas massas de verdura [...]". Paulo Ehrenreich (1855-1914). Viagem nos rios Amazonas e Purus. Revista do Museu Paulista , t. 16,  p. 305, 1929.       Mormodes amazonicum (Orchidaceae). Margaret Mee (1909-1988). In search of flowers of the Amazon Forests. 1989. Acervo da Biblioteca Domingos Soares Fe

O esplendor do cenário tropical

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As descrições gloriosas de Humboldt são e serão sempre sem paralelo; mas mesmo ele, com seus céus azul-marinho e a rara união de poesia com ciência que exibe com tanta força ao escrever sobre o cenário tropical, com tudo isso, não chega perto da verdade. O deleite que se sente nessas horas confunde a cabeça; se tenta acompanhar os voos de uma chamativa borboleta, a vista é detida por alguma árvore ou fruta estranhas; se está observando um inseto, a pessoa esquece dele na flor estranha por onde anda; se se volta para admirar o esplendor do cenário, a característica individual do primeiro plano prende a atenção. A cabeça, é caos e deleite dos quais surgirá um mundo de um prazer futuro mais calmo. No momento só estou preparado para ler Humboldt; ele como outro sol, ilumina tudo que vejo. Charles Darwin (1809-1882)       Annona muricata.  Maria Sybilla Merian (1647-1717). 

Uma viagem pelo Solimões

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"Quando acordei na manhã seguinte, avançávamos ao longo da margem esquerda do Solimões com a ajuda da espia. A estação da chuvas se implantara na região banhada pelo grande rio; os bancos de areia e todas as terras baixas já se achavam alagadas, e a forte correnteza, de três ou quatro quilômetros de largura, passava levando uma infindável série de árvores arrancadas e de ilhas flutuantes. As perspectivas eram melancólicas; não se ouvia outro som a não ser o surdo murmúrio das águas; as margens ao longo das quais viajávamos o dia todo mostravam-se atravancadas de árvores caídas, algumas delas com a ramagem flutuando tremulamente na correnteza ao redor de pequenas pontas de terra. As mutucas - uma velha praga já nossa conhecida - começavam a nos atormentar tão logo o sol esquentava pela manhã. Garças brancas podiam ser vistas em profusão à beira da água, e em alguns lugares bandos de beija-flores zumbiam ao redor das flores. O desolado aspecto da paisagem tornava-se ainda mais ace

A vegetação da Hiléia Equatorial

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"Um passeio de bote pelo mato inundado oferece as mais maravilhosas impressões deste mundo a parte. Aqui desenrola-se em prodigiosa grandeza e luxuria a vegetação da Hiléia equatorial, cada vez mais nova, singular e deslumbrante aos olhos do europeu. Depois que o bote abre caminho por entre maciços de uma cana aquática e de Caladium (vulgo tinhorão), que de envolta com espinhosas mimosáceas guarnecem as margens, espera-nos a surpresa de não achar no mato que fica atrás nem um palmo de terreno enxuto. Árvores, trepadeiras e água a perder de vista. O mato rasteiro aqui não tem espessura, a profunda sombra das grandes árvores lhe tolhe o crescimento; tanto mais numerosos e possantes são os cipós que a guisa de grandes correntes prendem as árvores uma a outra, e as compridas raízes aéreas que, como  fortíssimas cordas, pendem dos potos abaixo, embaraçando continuamente as manobras do bote. [...]". Paulo Ehrenreich (1855-1914). Viagem nos rios Amazonas e Purus. Revista do Muse

Uma noite agradável

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"Começando a anoitecer, dirigi-me pela restinga pedregosa que forma o canal, aí então totalmente seco, e me dirigi para a praia onde ficara a canoa. Quando aí cheguei, já a minha rede estava armada em duas magníficas árvores, e junto dela a minha arma de dois canos. Na parte mais sombria da floresta, num ponto de onde se avistava a canoa, o meu piloto escolheu para nossa dormida. A frescura, o som nunca interrompido da cachoeira, a lua que magnífica ecoava sua luz por entre a folhagem, o cri-cri-cri dos insetos e a voz sonora de um caprimulgus que animava a natureza, fizeram-me gozar de uma das noites mais belas da vida nas regiões equatoriais. Ao romper d´alva do dia 13, os cantos e gritos de bandos de araras, papagaios e maracanãs, que por sobre a minha cabeça passavam para irem para a comedia vieram despertar-me. Uma frescura agradável me convidava a um passeio, pela mata, o que fiz, aproveitando o tempo em que às costas se carregava a bagagem para a praia da mesma ilha

Pequeninos e mimosos colibris

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"[...]. Um vento suave fazia ondular as canaranas à margem do rio e as copa das árvores pareciam inundadas pela luz do sol, anunciando uma jornada de intenso calor. Dentro da mata ribeirinha a algaravia de inúmeros pássaros canoros, chegava aos nossos ouvidos como um grande coro de gorjeios, a espaços mesclados aos pios das grandes aves, como mutuns, os jacamins, os aracuãs, as formidáveis arapongas (verdadeiros ferreiros das florestas) e tantas outras. E, onde existisse uma flor, a todo o instante aí surgiam os pequeninos e mimosos colibris, de variadas cores brilhantes, delicadas e formosas avezinhas que são um encanto da Natureza, a esvoaçarem rápidas, ligeiras, em torno das flores cujo néctar suga com os seus longos e pontudos biquinhos, pairando a intervalos como se estivessem flutuando no ar, dando-nos a aparência duma absoluta imobilidade, traída somente pelo ruflar elétrico daquelas minúsculas asinhas... invisíveis motores celestiais. Para além, emergiam do brilhante esp

As arirambas de jaqueta verde

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"[...]. E começa a luta pela vida. Passam alto os bandos de marrecas, irerês, os casais de patos, e ainda mais madrugadores, toda a barulhenta família dos psitacídeos. Os macacos voltam a sacudir os galhos, espiando-nos inquietos e curiosos. As arirambas de jaqueta verde e colarinho branco, passam chiando a intervalos regulares, e vão pousar em galho horizontal a pouca altura, perscrutando  a água na expectativa de quebrar o jejum. Os botos róseos ou iaras mal afamados, surgem resfolegando, no seu característico modo de nadar. As monstruosas piraíbas, dão saltos espetaculares, tombando num lençol de espuma e deixando na superfície, a estenderem-se por dezenas de metros, a sucessão de círculos concêntricos. Francisco de Barros Junior (1883-1969). Caçando e pescando por todo o Brasil. 5a. série Purus e Acre, [s.d.]. p. 41-42.       Ariramba ou Martim-pescador Eurico Santos. Da ema ao beija-flor. 1979. Acervo da Biblioteca Domingos Soares Ferreira Penna - Museu Goeldi

Um concerto discordante de perfumes e cores

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[...]. Na frente do sítio, num terreno geralmente varrido, limitado no fundo pela casa e dos lados pelo rancho do forno e pelo tendal, cresciam algumas árvores frutíferas e arbustos floríferos, como laranjeiras, um pé de sapotilheira, um outro de cupuaçuzeiro, jasmineiros brancos e de Caiena, um coqueiro cujos cocos eram exclusivamente consagrados a Santo Antônio, e uma cuieira copuda, ameaçando com seus enormes frutos esféricos a segurança de uma canoa velha erguida do chão por quatro paus, cheia de terra, onde cresciam, como num canteiro suspenso, melindres, malmequeres, manjeronas, trevos, perpétuas, cravinas e outras flores vulgares, num concerto discordante de perfumes e cores. José Veríssimo (1857-1916). Cenas da vida amazônica . 2011, p. 11.     Cuieira Curti´s Botanical Magazine, t. 3374-3457,  1835. Desenho de Horsfall. http plantillustrations.org.  

Borboletas amazônicas

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"É tão excepcional o aspecto miraculoso do mundo amazônico, que os próprios sábios, no meio das frias deduções científicas, sentem-se arrebatados, de vez em quando, para os domínios da fantasia, como se estivessem subindo a luminosa escada de Jacó de um grande enlevo poético. Foi o que aconteceu a Frederico Hartt, ao descrever complicada geologia amazônica. Quando se viu, inesperadamente, alcandorado nas regiões do sonho, ele próprio advertiu-se de que devia voltar à realidade, dizendo que não era poeta, e devia por isso, falar a prosa desataviada de uma ciência. A mesma coisa deve ter acontecido a Emílio Goeldi, quando viu, na Amazônia, pela primeira vez, o espantoso fenômeno migratório das borboletas. Já anteriormente, o naturalista Bates, no Baixo Amazonas, sentira-se maravilhado com um espetáculo semelhante. Durante um percurso de oitenta milhas, viu sempre a fervilhar no espaço, miríades de borboletas, em bandos de trinta e oitenta metros de largura, atravessando cont

Os sons da vida na floresta tropical

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" Após diversos dias em Gleba Arinos, iniciamos nossa subida pelo rio a bordo da pequena lancha Santa Rosa. Na primeira noite em que navegamos no Arinos dormi pouco, apreciando os diversos sons da água e da vida na floresta tropical. Logo após o amanhecer, começamos a descer o rio, que gradativamente perdia seu aspecto plácido e tornava-se mais belo e dramático. O rio era pontilhado por inúmeras ilhas e um grande conjunto de enormes pedras submersas, das quais brotavam plantas aquáticas cor-de-rosa. Essas pedras mostravam claramente a alteração do nível das águas nas estações de chuva - brancas abaixo da linha da água e negras acima desse nível. O rio transbordava de mergulhões, que mantinham suas cabeças negras e bicos amarelos ligeiramente acima da superfície. Ao anoitecer, araras nos sobrevoavam aos pares, com suas plumas brilhando pelos raios vermelhos do sol. Cegonhas silenciosas e solitárias, de enormes asas, voavam para suas sombrias casas na floresta. Colhi uma linda G

Orquídeas preciosas

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"[...]. Ergueu-se e apanhou a flor. Quanto valeria aquilo em Portugal? E a mata estava cheinha delas! Eram orquídeas preciosas, de recorte bizarro e cores surpreendentes, cataléas de pétalas tersas de lírio, que tinham algo de sexo virgem e fascinavam como uma ilusão. Parasitárias, as raízes que lhes davam vida prendia-se, como tentáculos, a caules de seiva rica e nunca mais desfaziam o abraço. E o drama não era único. Metade da selva vive da outra metade, como se a terra não bastasse para o império vegetal e fosse necessário sugar as árvores que chegaram primeiro. Não havia ramagem que não alimentasse, com o próprio sangue, o seu parasita - as grinaldas estranhas que a envolviam. O apuiseiro de vasta bibliografia, levava mais longe o seu despotismo: a princípio, era semente anônima, pousada numa forquilha; depois, raiz bamboleante e humilde, procurando, a medo, a terra distante e, por fim, devorava toda a árvore, até ficar sozinho. Na sua mudez, aquele mundo vegetal tinha feroc

"Se eu soubesse cantar, cantaria a banana..."

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"Santa Maria de Belém ficava a alguns quilômetros do delta do rio Pará. Belém (não Pará, porque Grão-Pará era o nome do estado, não uma cidade) tinha, vista à distância, um aspecto notável. Era imprensada pela mata, dramático fundo de quadro para aquela congérie de edifícios brancos com seus telhados vermelhos. Spruce  desembarcou no cais; "um tanto parado", opinou ele a respeito. Andou pela esplanada  sombreada por mangueiras e figueiras malditas, passou pelos prédios de dois andares, por soldados ociosos carregando negligentemente suas carabinas. [...]. Um esplêndido papagaio vermelho e verde soltava seu grito estridente e rouco ao sol poente. [...]. Em 1849 grandes esperanças  se nutriam a respeito de Belém. A cidade era o entreposto do Amazonas e com toda a probabilidade se tornaria um vasto empório para o escoamento da riqueza da grande bacia. Enquanto Spruce colhia plantas que ornavam a cidade, já se comentava a respeito daquilo que o barco a vapor iria fazer p

Museu Goeldi publica nova edição do seu Boletim de Ciências Humanas

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Museu Goeldi publica nova edição do seu Boletim de Ciências Humanas   O segundo número de 2016 trata das relações de grupos humanos com a natureza e a tecnologia   Está no ar a nova edição do Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi - Ciências Humanas, do quadrimestre maio-agosto de 2016. É o segundo número da fase totalmente eletrônica de um dos periódicos científicos mais antigos do Brasil, cujo conteúdo pode ser acessado em site próprio e “folheado” no Issuu . A edição trata da relação entre as pessoas e a natureza, focando principalmente no uso de recursos naturais.  A maioria dos artigos trata da pesca, discutida a partir do Amapá, na Amazônia, e de águas sergipanas e pernambucanas, do Nordeste brasileiro. São abordagens plurais sobre um mesmo ofício, que abarcam inclusive a perspectiva feminina, muitas vezes invisibilizada quando o assunto é pescaria. Tratada principalmente como meio de sobrevivência, a pesca é abordada também como meio de convivência, entre homens, m

Dois tucanos curiosos

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"Na primeira noite, penduramos nossas redes nas árvores que rodeavam um lago encantado. Eu não pude dormir porque prestava atenção aos sons mágicos da floresta adormecida. Somente as árvores dormiam, pois o lago estava acordado, borbulhante de peixes que saltitavam, enquanto o coral de sapos intrometia-se no lamento triste dos pássaros noturnos. Passamos nossos dias na floresta assimilando a beleza das árvores frondosas e das criaturas que viviam sob suas copas. Uma aranha marrom e peluda que se alimenta de pássaros agarrou-se ao ronco da árvore na qual eu estava encostada; um camaleão com o papo do tamanho de uma bola laranja lutava para engolir um bicho-folha tão grande e verde quanto ele próprio; dois tucanos curiosos, pousados em um galho, acompanhavam nossos gestos, com divertido interesse, enquanto lutávamos para alcançar um broto de orquídea branca que foi desalojado pelo temporal da noite anterior, ficando embaraçado em um cipó. [...]". Margaret Mee (1909-1988). F

As marrequinhas em revoada

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"[...]. O guincho da gaivota... é  sempre decorrente dum susto. Quando alguém se lhe acerca da ninhada posta nas praias, cuja eclosão sob a luz do sol vigia, o grito materno ecoa no ar, agredindo mesmo o desavisado que lhe toque na postura. As marrequinhas  ( Dendrocygna discolor ) também, debaixo das noites escuras e principalmente chuvosas, advertem o navegante, numa revoada coletiva que elas deslizam na corrente sobre um tronco de pau. O grito da marreca pela proa do  navio indica, pois, uma árvore flutuante. Isto determina o sustamento da marcha dos vapores na rede hidrográfica da bacia amazônica". Raimundo Morais (1872-1941). O homem do Pacoval. s.d., p. 247.     Marrecas. Augusto Ruschi. Aves do Brasil. v. 2, 1986. Ilustrações de Etienne e Yvone Demonte 

Esse complexo mundo vegetal...

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".[...]. Contudo, não serão apenas os cipós que concorrerão para o fausto da floresta amazônica. este dependerá também do prodigioso número de epífitas que abarcam troncos, cravejam ramos e afestoam galhos. Algumas, como o apuizeiro, revelam-se implacáveis algozes das suas vítimas; outras, verdadeiramente inofensivas, fazem-se mesmo magnânimas, recompensando com uma floração esplêndida o bom gasalhado que lhe deram as companheiras, o que acontece com a linda cebola-brava e com quase todas as orquídeas. Mas ainda a legião das Aráceas e Bromeliáceas, aquelas servindo-se do raizame aéreo para mandar amarras para todos os lados estas abrindo rosaças de verdes crus e vermelhos vivos na forquilha dos troncos vetustos, que também disfarçam as suas rugas sob a policromia de fetos, fungos, algas, musgos e líquens. E é tal a profusão desses hóspedes que só  num exemplar de grande árvore já se contam oitocentas espécies de outras plantas. Schomburgk também colecionou quatorze orquídeas d

Imperial Arsenal de Marinha em Belém do Grão-Pará

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"A nordeste uma ponta das florestas do continente projeta-se, logo abaixo da embocadura do Guamá, no Rio Pará, sobre a qual se estende a cidade de Nossa Senhora de Belém, [...]. Do ancoradouro vê-se no ângulo agudo na direção do Guamá, erguer-se das águas uma alcantilada colina coroada por um grupo composto de altos edifícios que as altas torres da catedral sobrepujam. Daí por diante a cidade bastante vistosa estende-se por mais um quarto de milha pela margem plana de rio acima, até extremar-se novamente num ângulo obtuso com as florestas da terra firme. Um pouco acima da cidade fica o Imperial Arsenal de Marinha, onde vimos uma fragata, cujo cavername, embora estivesse no estaleiro havia já dezessete anos, ainda não estava revestido. Deste estabelecimento - infelizmente muito pouco importante, não obstante estar melhor colocado do que em nenhum outro ponto da terra, pois que nem um milênio se acabará aqui a madeira de construção - segue uma magnífica aleia de umbrosas manguei

Os troncos caídos começam a impedir nossa passagem

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"Voltamos a empurrar as montarias sobre as rochas dos rápidos. Um pouco a montante, deparamos com outro pequeno travessão, transpondo-o pela brecha central. O rio aqui não passa de um riacho. Ainda há castanheiros nas margens, mas agora já se tornam mais raros. Os troncos caídos começam a impedir a nossa passagem. Para transpô-los, temos que carregar as montarias, passando-as por cima deles. Quando elas são repostas na água, estão de tal modo descalafetadas que se encheriam em poucos minutos, se não tivéssemos o trabalho de embuchar rapidamente os orifícios maiores E os "secos" vão-se sucedendo, apresentando, em determinados trechos, nada mais do que 20 centímetros de profundidade. Frequentemente somos obrigados a transportar nossa pequena carga por terra. As montarias vazias são arrastadas e empurradas à mão pelos homens, que seguem pela incerta rota do riacho, no fundo do qual passeiam as raias venenosas". Henri Coudreau (1855-1899). Viagem a Itaboca e ao

O nascer do sol refletido pelas águas do rio

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"Não impressiona menos o nascer do sol, por detrás da mata, refletido pelas águas do rio. Águas negras, brilhantes, mansas e quase impenetráveis pela nossa visão. Neste caso, é a madrugada fria, calma, com a neblina abundante a sair por entre a vegetação. Por cima, o céu estrelado mostrando-nos a boiuçu, as Três Marias, o Cruzeiro do Sul, e uma infinidade de outras estrelas e constelações. A lua em crescente, muito pálida a lançar sua luz sobre a imensidão desabitada. No fundo, para o nascente, um foco vermelho que se agiganta a cada instante. Daí a mais alguns minutos, o astro-rei que sai com todo seu esplendor, aquecendo e dando vida à natureza. A faina começa com o chilrear dos pássaros, os roncos possantes dos bugios, os bacuraus procurando alimento. São as araras ou papagaios que passam, um tucano que chama o companheiro ou um boto que aparece na superfície. Aos poucos, aquela mata surda enche-se de sons e a luta pela vida atinge talvez o seu máximo para regredir novament

As auroras e os crepúsculos na Amazônia

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"Nas regiões sob o equador, já anteriormente o disse, as auroras e os crepúsculos processam-se com incrível rapidez. A escuridão é completa. Mas, sem sabermos como apareceram, vemos no nascente umas nuvenzinhas acinzentadas, ou de um branco sujo, e de contornos esbatidos. Dez minutos depois, tornam-se brancas, e já vemos distintamente recortadas contra as profundezas do céu ainda escuro, as copas das árvores ou colinas desse lado. No poente, a escuridão é ainda completa e nem distinguimos as árvores e barrancos à nossa volta. Poucos minutos depois, já as nuvens são flocos de neve, debruados de ouro. Da mesma coloração, esguios farrapos flutuam mais alto. E já é dia. A fresca viração que começa soprando, leva um frêmito de vida às mais altas árvores, às palmas das paxiúbas e açaizeiros, agitando-as, como num espreguiçamento, para de todo despertarem. É dia claro, mas do sol só vemos, ainda, as labaredas incendiando as nuvens. [...]". Francisco de Barros Junior (1883-1969)

Diversas espécies de pássaros

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"A quantidade das diversas espécies de pássaros nas florestas do Maranhão parece maior ainda que a dos quadrúpedes. É notável que quase nenhum tem canto agradável: é principalmente pelo berrante e pela diversidade de cores da plumagem que eles interessam. Nada iguala a beleza das penas do colibri, de que vários autores falaram, e que se acham na América em toda a Zona Tórrida. Notarei apenas que apesar de que ele passa comumente por habitar somente os países quentes, não os vi em nenhuma parte mais numerosos do que nos jardins de Quito, cujo clima temperado mais se aproxima do frio do que do grande calor. O tucano, cujo bico vermelho e amarelo é monstruoso em proporção com o corpo, e cuja língua a modo de pluma solta  passa por ter grandes virtudes, não é tampouco particular do país de que trato. As variedades de papagaios e araras, em tamanho, cor e aspecto, são sem conta; entre os primeiros rareiam os inteiramente amarelos, com manchas verdes nas extremidades das asas. Deste

Ninhal de garças

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"A garça real, na alvura de suas penas e na sinuosidade de suas linhas de contorno, é dos mais belos ornatos destas paisagens ribeirinhas dos rios marajoaras. Quando a vemos à beira d´água, a projetar no espelho líquido sua silhueta esbelta, mais nos parece ver concretizado o que julgáramos criação imaginosa de pincel artista. Quando assustada pela embarcação que se avizinha, alça brandamente o voo, dando ao longo colo curvas estranhas, mas sempre graciosas, é majestosa e bela. Pousada nas árvores, a contrastar a candidez da plumagem com o verde da ramaria, é como enorme magnólia a cujo peso balouçam os galhos em que descansam. Se isolada é graciosa, na multidão é importante, pois a larga envergadura multiplicada dezenas de vezes forma grande e cândida nuvem em que a luz do sol rebrilha intensamente. A nidificação da garça real oferece espetáculo magnífico a quem lhe pode descobrir o local escolhido para esse fim. Não se encontra isolado o ninho da garça, como sucede com tan

Uma abertura na floresta como uma moldura de folhas

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"Parei por um momento para contemplar uma abertura na floresta como uma moldura de folhas, dando para as águas iluminadas do rio lá embaixo no vale sinuoso, o clarão brilhante em forte contraste com a profunda sombra do interior da floresta, que ressoava com o zunido constante dos insetos, tais como as notas agudas de mosquitos azul-metálicos, o zumbido de um besouro tonto trombando cegamente em uma árvore, e o assovio monótono das muitas cigarras, todos se misturando melodiosamente ao borbulhar distante do rio  quando passa pelos galhos pendentes das árvores e quando um martim-pescador azul mergulha como uma joia faiscante dentro d´água, de um galho avançado e murcho, coberto de bromélias carmesins, trepadeiras, orquídeas, musgos  cipós pendentes, fazendo balançar na brisa suave um ninho de japiim [...].". James W. Wells [1841-?]. Explorando e viajando três mil milhas através do Brasil: do Rio de Janeiro ao Maranhão. 1995. v.2, p. 81.     Rudolfiella aurantiaca .

O bem-te-vi e seu jeito de viver

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"[...]. Como feitio moral do bentevi, podemos compara-lo a certos indivíduos falastrões e esparramados. Mal chega a um lugar, arma logo um alvoroço. Voa daqui para ali, revoa e volta, pondo em cada fronde um alarido. [..]. São sociais e vivem em pequenos grupos e, entre os da sua malta, reina a melhor cordialidade, mas não querem intimidade com outros pássaros...Quando chega um amigo, é logo recebido com evidente e transbordante alegria, batidelas de asas, empinações de crista e uma permuta de saudações  que parecem não ter fim. O dia inteiro o grupinho vive junto em correrias e brincadeiras, entremeadas de gritos, mas nas épocas dos amores, as coisas mudam. Cada macho procura a sua companheira, e os solteirões são escorraçados, segundo me parece...". Eurico Santos (1883-1968). Pássaros do Brasil . 1960, p. 102-103.     Bem-te-vi. Ilustração de J. Th. Descourtilz (1796-1855) História natural das aves do Brasil. 1983 Acervo da Biblioteca Domingos Soares Fer

A floresta

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"[...]. Uma cigarra aguda, penetrante bem próxima, de repente assusta a gente como um escape repentino de vapor de uma máquina e atrai nossos olhos para o labirinto circundante de enormes troncos arqueados, pontilhados de líquens e musgo; os cipós, entrançados caindo com cordas festonados, enrolados sobre o chão ou envolvendo os troncos como imensas cobras; arbustos que lembram murta; os longos troncos das árvores novas lutando para alcançar a luz do sol; samambaias gigantes e palmeiras esguias; as borboletas flutuantes como manchas escarlates na luz sombreada, o leve odor combinado de especiarias, musgo e folhas úmidas em decomposição. É tudo a mesma floresta que se vê em toda parte, só variando nos detalhes, pois a cada passo ela é outra". James W. Wells (1841-?). Explorando e viajando três mil milhas através do Brasil: do Rio de Janeiro ao Maranhão . 1995, v. 2, p. 81.       Dentro de uma floresta virgem. Por Johann Moritz Rugendas  (1802 - 1858) 

Urucu

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"Urucu ( Bixa orellana ) é dedicado a Francisco Orellana, primeiro que navegou o Amazonas. É uma das plantas mais conhecidas entre nós pelo emprego que tem na arte culinária. Com as belas flores de pétalas cor de rosa, ou com as panículas de capsulas pardacentas e espinhosas, sempre se torna recomendável como árvore útil e de ornamento. O seu principal emprego está na polpa viscosa, resinosa e vermelha ou cor de laranja, segundo as variedades, que envolve as sementes. Com esta polpa que tem um cheiro esquisito, os índios se pintam, não só para se fazerem bonitos, como para evitarem as ferroadas dos mosquitos. Com essa mesma polpa preparam uma massa dura e em paus, com que tingem não só os ornatos, como a cerâmica. Esta massa é exportada para o estrangeiro que dela se aproveitam na tinturaria. A cor é fixa e não se altera com o alumem e com os ácidos, porém, altera-se, com o tempo e com o sabão. [...]. A madeira é leve e empregada pelos índios para tirar fogo. Medicinalmente, a