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Mostrando postagens de janeiro, 2021

Os pescadores do Amazonas

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        De manhã, quando os passarinhos acordam gárrulos nas ramas dos arbustos que crescem junto às feitorias, os pescadores saem nas suas pequenas montarias de pesca. Então os lagos, as enseadas, o igarapé, povoam-se de canoas a cujas proas um homem de camisa e calça vermelha como a pele dele, tingidas de muruchi, em pé, um largo chapéu de grelo de tucumã na cabeça, o longo arpão em punho, o comprido cigarro de tauari na boca, atento e quedo, espera que o peixe boie. De vez em quando, sustentando a haste com uma das mãos, dá com a outra, meio agachado para alcançar a água, uma remada certa impelindo a canoa, e espera; outras vezes voga mesmo com a haste, que faz de remo. Se o peixe boia, ai dele, a haste é arremessada com força e certeza quase infalível e a fisga vai se cravar na carne branca ligeiramente rósea, através das escamas rijas e vermelhas como o bago do urucu. [...]. FONTE: VERÍSSIMO, José. Cenas da vida amazônica . São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2011. p. 43. (Con

No labirinto de ilhas do Solimões

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          Quanto mais avançávamos no labirinto de ilhas do Solimões, mais baixavam as águas e mais firme se mostrava a terra. Com isso a vida animal ia-se tornando também cada vez mais ativa. Surgiam cada vez mais bandos de pequenos e céleres  macacos, correndo com incrível agilidade ao longo dos galhos. As grandes araras e araraunas, gargalhavam sempre mais nos galhos das árvores mais altas ou voavam, cruzando o ar límpido. Garças pequenas, inteiramente brancas e uma outra espécie cinzento-claro, flutuavam através do éter, por cima da floresta. Seguiam-nas, fugindo, assustados com o ruído do vapor, ibis inteiramente pretos com desenhos encarnados na cabeça e bicos vermelhos. Pelo menos assim me pareceram os fugitivos. Abundavam os urubus e açôres; grandes bandos de alcíones e periquitos perseguiam-se ao longo da mata, nas margens do rio, dum lado para outro, enquanto pequenos bandos de crotófagas, mais tímidas, se escapuliam para dentro da floresta. Avistamos também alguns japiins, -

Cenas da vida faunística: as aves ribeirinhas

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         Esboçando cenas da vida faunística do Araguaia, pode-se assim concebê-las: em promiscuidade zoológica, que sempre dá uma tonalidade alegre à paisagem, vêm-se com frequência, no domínio das aves ribeirinhas, vastos bandos de garças reais, morenas e garcinhas; prodigioso número de sorumbáticos jaburus, que perscrutando as águas, vão pescando os incautos curimbatás. Lá no meio da alvura das garças, que alçam voo compassado, estão os róseos colhereiros e os rutilantes guarás: nesse admirável comício ornitológico não faltam os socós, os maguaris, as piaçocas, os frangos d´água e o bando de trêfegas marrequinhas, anunciadas pelo matraquear do martim-pescador. FONTE: MAGALHÃES, Agenor Couto de. Encantos do Oeste : um pedaço do Brasil onde o homem se identifica com a natureza. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1945. p. 30-31., il. Garças   Leop. Jos. Fitzinger. Bilder-Atlas zur Wissenschafthich - Popul6aren naturgeschichte der Vögel in ihren Sämmtlichen hauptformen . 1864. www.biodiv

Uma viagem pelo rio Pará

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     [...]. Nunca esquecerei do soberbo espetáculo do nascer do sol, que presenciei certa vez durante uma viagem pelo rio Pará. Nossa embarcação era uma grande escuna, e nós íamos avançando aos saltos, vergustados por uma brisa forte que fazia espremer a água, quando o dia amanheceu. O ar estava tão límpido que a borda inferior da lua cheia ainda se mostrava nitidamente delineada quando ela atingiu o horizonte ocidental ao mesmo tempo que o sol se levantava no leste. Os dois grandes globos se achavam visíveis ao mesmo tempo, e a transição da noite de luar para o dia foi tão suave que parecia ter ocorrido apenas o aparecimento do sol num dia nublado. As matas ao redor de Baião eram constituídas por capoeiras, já que as terras ali já haviam sido anteriormente cultivadas. Numerosos pés de café e de algodão cresciam entre as moitas de mato. Um aprazível caminho se estende ao longo da margem do rio por algumas milhas, acompanhando as ondulações do terreno e dando acesso às casas localizada

Magníficas borboletas

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         Os arredores de Óbidos eram também ricos em insetos. Nos amplos caminhos da floresta podia ser vista diariamente uma magnífica borboleta, a Morpho hecuba , de quinze a vinte centímetros de envergadura, planando a uns sete metros acima do solo. No meio das árvores mais baixas e dos arbustos viam-se em profusão vários tipos de um grupo de borboletas peculiares à América tropical dotadas de asas longas e estreitas ( Heliconii ). A cor básica predominante de suas asas é o negro, e sobre esse fundo escuro aparecem manchas e riscas escarlates, brancas e amarelo-vivo, em desenhos que variam de acordo com a espécie. Sua forma elegante, suas cores vistosas e sua maneira lenta e majestosa de voar as tornam muito atraentes, e seu número é tão grande que elas como que fazem parte da paisagem da floresta, compensando pela falta de flores. [...]. FONTE: BATES, Henry Walter. Um naturalista no rio Amazonas . Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, 1979. p. 104-1

Vegetais preciosos

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         Mas já é tempo de falarmos nas terras firmes, nas quais a erosão tem papel mais importante do que a aluvião e onde a flora amazônica se apresenta no seu máximo esplendor, a exibir em quantidades incalculáveis, uma variedade sem conta de essências raras e outros vegetais preciosos, que tanto se recomendam pelas suas madeiras como pelos seus óleos, pelas suas gomas e resinas como pelas suas fibras e tintas pelas suas flores e frutos como pelas suas raízes e tubérculos comestíveis; mata que é ao mesmo tempo um imenso parque florístico e uma esplêndida estufa de plantas finas, um celeiro inesgotável de matérias primas e uma farmácia bem provida de medicamentos, um laboratório em que se reúnem, lado a lado, os mais capitosos perfumes e os mais violentos tóxicos. FONTE: CRULS, Gastão. Hiléia amazônica . Belo Horizonte: Itatiaia, 2003. p. 13., il. (Reconquista do Brasil. (2a. Série. v. 170). Urucu ( Bixa orellana)  M. Blanco. Flora de Filipinas (1877-1883). ed. 3.  www.plantillustra

As Saracuras: maiores animadoras da vida dos brejais

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         As saracuras são as maiores animadoras da vida dos brejais, onde, pela manhã e à tarde as fêmeas entoam, em conjunto, uma cantoria ensurdecedora que soa, mais ou menos, trés-pot, tré-pot, tré-pot, tré-pot, pot, pot, enquanto o macho, teima na sua afirmativa, entoando mais ou menos um pót, e dessa onomatopeia lhes vem a designação popular, de três potes, por que é muito conhecida em certas regiões do Brasil. [...].          Possui, por vezes, saracuras que se acomodavam em um pequeno quintal e embora sempre se mostrassem desconfiadas, viveram anos em cativeiro, sem perderem o hábito de entoar a característica cantarola que me servia de despertador. [...].           Acredita-se ainda hoje entre nós, com visos de verdade, que quando as saracuras cantam, pelo meio dia, é que o tempo vai mudar. FONTE: SANTOS, Eurico. Da ema ao beija-flor : vida e costumes das aves no Brasil. 2, ed. Rio de Janeiro: F. Briguiet, 1952. p. 147-148. Saracuras Álbum de Aves Amazônicas 1900-1906 Desenho