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Urucu

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Manuel Nunes Pereira comenta sobre o uso do urucu na Amazônia: "Urucuzeiro ou Urucueiro. Embora nenhuma das duas últimas denominações seja tão vulgarizada na Amazônia, sabe-se que elas abrangem duas variedades de Bixáceas: A Bixa orellana . Diz Paul Le Cointe: "Da polpa que envolve as sementes tira-se uma tinta vermelha que pode servir para dar cor a certos comestíveis, sem dar cheiro nem sabor especial. Na medicina popular, ainda segundo Le Cointe, a "A raiz é digestiva. As sementes são expectorantes. A tinta do urucu (bixina) protege a pele contra os raios químicos (ultravioletas) da luz solar e contra a absorção do calor solar". [...]. E os indígenas aproveitam a tinta do urucu para untar a cabeça dos recém-nascidos, protegendo-lhes a moleira ou fontanela contra a ação maléfica dos seres fantásticos, das águas e das florestas, e, em geral, contra todas as enfermidades. E o mesmo costumam fazer com a tinta do jenipapo, aproveitando-a e a do urucu, misturad

Aves que "falam"

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"Segundo uma tradição americana antigamente falavam as aves. Pouco a pouco, perderam este dom e restaram só umas poucas privilegiadas. Já em 1815 notou o naturalista Freireys a respeito do Brasil: "existem efetivamente pássaros que falam algumas palavras distintas". O povo atribui a diversas aves este dom: uma ave noturna ( Caprimulgus ) diz distintamente: "João corta pau"; uma pomba pequena ( Columba squamosa ) canta horas inteiras num só "Fico"; o Bem-te-vi grita seu nome na aproximação de uma pessoa; o jacú ( Penelope cristata ) fugindo parece caçoar com o caçador que errou o tiro, quando solta sua estridente voz: "Ha-ha". O Tahan, chamada "ave literária", profere o seu nome Tahan! que quer dizer - Vamos! avisando de noite a gente que há inimigos, etc. etc. O Papagaio, parece como que uma pessoa no meio da família. Conversa com ela, manda entrar a visita, é objeto de carícias, é o centro das hilaridades domésticas. Seu d

Breve biografia: F. A. Biard (1799-1882): o desenhista francês

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BIARD, François-Auguste. Deux annés au Brésil . Paris: Librarie de L. Hachette et Cie, 1862. 680 p. il. Nesta obra há o "relato sobre a permanência no Brasil  do desenhista francês François Auguste Biard de maio de 1858 a novembro de 1859; publicado primeiramente na revista Tour du Monde. Após sua visita ao Rio de Janeiro, onde fizera vários retratos dos integrantes da corte imperial, Biard viajou pelo Espírito Santo, Bahia, Pernambuco e pela bacia amazônica. São de interesse etnográfico seus esboços resultantes dessa viagem". FONTE: KOPPEL, Susanne. Biblioteca brasiliana da Robert Bosch GmbH : catálogo. Rio de Janeiro: Livr. Kosmos Ed., 1992, p. 367. Santarém- PA - Brasil F. A. Biard. Deux annés au Brésil. 1862.

Por muitos meses só veremos água na Amazônia

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"[...]. Nessa época do ano quase não é necessário sair de casa para pescar; o peixe está ali mesmo saltando, bem nos lugares onde nasceram os bacorinhos. Por muitos meses, só veremos água, e perguntamos, para onde teriam ido os pássaros, que, não havia muito tempo, mariscavam em bandos pelos campos. Terão ido para tão longe que até o rio sente preguiça de lá ir? Muito antes das cheias já eles teriam mudado as suas moradias, as garças fugindo em bando, às centenas, como nuvens brancas, lembrando imensos véus de noivado soprados pelo vento. Tudo parece fugir. Para onde? Os guarás que, nesse momento, dão a impressão de enormes flores de "maracujá de rato" caídas sobre o solo como ramalhetes desfeitos, para onde levarão todo o escarlate das suas penas? E, na hora do poente, não mais se verão as colhereiras a mancharem de rosa o céu, que parece todo ouro, nem as garças morenas a sujarem de cinza a limpidez do dia que morre. [...]". E. da Costa Lima. O filho da cobra gr

A viagem da naturalista

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"Após a baía de Marajó o gaiola penetrou, de novo, no verdejante dédalo de canais. De bordo, como se a viagem fora num trem que rodasse ao longo das vivendas marginais, descortinavam-se mil aspectos da terra e do homem, da natureza e do roceiro. O navio passava por uma série de canaviais verde-claros que envolviam os carunchosos e antigos engenhos de açúcar e cachaça, produtos que já haviam feito a prosperidade do município de Igarapé-Miri; passava ainda por vários arrozais recordantes dos remotos soques de arroz da capital paraense; e também por milhares de espigas douradas que evocavam as broas portuguesas e as canjicas brasileiras. D. Emília Snethlage, sentada numa cadeira de lona à proa, de binóculo em punho, ia observando esses típicos e curiosos trechos da grande orla do estuário tocantino. As manifestações botânicas, os taludes, baixos como ravinas, os sítios, bem tratados uns, abandonados outros, as barraquinhas pobres de troncos de miriti tuíras deitadas no porto, a

Um quê de cenário teatral

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"Como a manhã está muito clara, as massas de vegetação destacam-se em vários planos e há um quê de cenário teatral nesses amplos panos de verdura e bambolinas, muito verdes recortadas sobre o azul do céu. Numa delas, pousa imóvel um maguari. Por todos os lados, surgem fustes de palmeiras. São inajás portentosas, bosquetes de jauaris, esguias urucuris, marajás, tucumãs, patauás... Aqui e ali, acairelando as ilhas, uma ou outra ponta de areia branca ou atijolada, onde se esgalham araçazeiros em flor, e depois, araparis e, também, tortuosas mongubeiras". FONTE: CRULS, Gastão. A Amazônia que eu vi : Óbidos - Tumucumaque. 2. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1938. p. 53. (Bibliotheca Pedagógica Brasileira. Série 5a. Brasiliana, v. 118). Maguari Leop. Jos. Fitzinger. B ilder-Atlas zur Wissenschafthich - Popularen naturgeschichte der Vögel in ihren Sämmtlichen hauptformen. 1864. www.biodiversitylibrary.org

Animais que valem por termômetros

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Raimundo Morais comenta: "[...]. A saracura, verbi gratia , num canto metálico, ao surgir do dia e ao cair da noite, anuncia, mesmo nas quadras chuvosas, o tempo seco; o sapo, ao contrário, após tardes luminosas, com a terra comburida, prediz coaxando, o tempo úmido; a maria-já-dia, antes de qualquer outro pássaro, revela, num trinado que lhe reproduz o nome, a aurora ainda mergulhada no horizonte; a juruti, numa nota magoada e sentida, melancólica, prevê tristemente a vizinhança da noite; outro animal, o marrecão, meio pato e meio ganso, de ouvido sensível e faro fino é um guarda excelente. Ao sentir qualquer estranho se aproximar do terreiro da casa em que vive, grita, dá o alarme, como aqueles famosos gansos do Capitólio. [...]". E Eurico Santos relata: "Há, a propósito das aves, observações curiosas. Em matéria de medir o tempo e saber seguramente a hora, já que não é possível telefonar para o Observatório As tronômico, o povo do interior apela para o

Alfred Russel Wallace e sua chegada em Belém do Pará

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"[...]. Depois de muito pesquisar, finalmente conseguimos encontrar uma casa para nós. Ficava em Nazaré, a cerca de uma milha e meia a sul da cidade, defronte a uma encantadora capelinha. Logo atrás dela começava a floresta, oferecendo excelente locais para coleta de pássaros, insetos e plantas. Era uma casa de um só pavimento, com quatro quartos e uma extensa varanda rodeando-a inteiramente. O simples fato de percorrê-la consistia num longo e agradável passeio. No quintal havia laranjeiras, bananeiras, árvores frutíferas e silvestres, cafeeiros e pés de mandioca. Isidoro logo tomou posse de um velho barracão de adobe, transformando-o em sede de suas atividades culinárias. Quanto a nós outros, logo nos acostumamos a trabalhar e tomar as refeições na varanda, raramente usando os cômodos internos, a não ser para dormir. [...]". Alfred Russel Wallace (1823-1913). Viagens pelos rios Amazonas e Negro. 1979, p. 27-28. Capela em Nazaré, próximo a Belém do Pará Alfred R

Pindorama (Terra de Palmeiras)

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Diz Raimundo Morais em Paiz das Pedras Verdes: "Existem certos nomes na língua geral, nesse curioso tupi-guarani, que possuem predicados sonoros, ondulações léxicas agradáveis ao ouvido. Antes mesmo de se lhes conhecer a significação, quase lírica, já se percebe alguma coisa de belo nas sílabas orquestradas dos vocábulos. Pindorama, que significa País das Palmeiras, é um deles. O termo guarda, na ressonância clara, a nota panorâmica, o sentido pagão de Flora, os encantos artísticos e plásticos dos flabelos, das ventarolas, dos leques, das plumas, das palmas, dos penachos, que se abrem sobre os caules hieráticos desses fidalgos vegetais; e ainda parece ter sido idealizado por algum trovador silvestre perdido entre os tufos de folhagem da nossa verdoenga Planície. E se um simples nome nos arrasta ao devaneio, enredando-nos o pensamento nos cipós e nas guirlandas florestais, avalie-se o que não sucede ao sábio estrangeiro, alheio a este turbilhão de plantas, a esta repúbli

Arapaçus

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Diz Deodato Souza sobre os Arapaçus: Não confunda estas aves (família Dendrocolaptídeos) com os Pica-paus, que tomam a mesma atitude quando pousam num tronco; os Arapaçus caçam insetos, sem martelar com o bico, nos troncos das árvores, subindo por eles, e depois voando para recomeçarem em outra árvore, por baixo. A sua cor geral não varia muito, é sempre castanha, mais clara ou mais escura. São muitas espécies, difíceis de distinguir; observe  sempre o tamanho e a forma do bico, que é a melhor característica de identificação... O enorme bico, ligeiramente curvo do Pica-pau-de-bico comprido ( Nasica longirostris ) permite identificá-lo. É a maior espécie da família e vive nas florestas da Amazônia. Manuel Nunes Pereira narra interessante história envolvendo essa ave: O pássaro conhece uma raiz, que abre todas as coisas; quem quiser possuí-la tapa o ninho da ave e o Uirapaçu vai logo buscar a tal raiz para salvar os filhotes; então, espanta-se a ave, que deixa cair a raiz m

Pupunha

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Sobre a Pupunha, comenta Raimundo Morais: A pupunha, verdadeiro pão silvestre, gostosa, cheia de vitaminas, capaz de sustentar uma nação, possui tal prestígio nos meios aborígenes que o índio, tendo-a por sagrada, fruta do céu, não a derruba jamais. Seu machado de pedra nunca remorde aquele cerne augusto, obra de Tupã no seio da Natureza... Paulo B. Cavalcante explica que a "Pupunha( Bactris gasipaes ) é uma palmeira com estipe ereto, chegando aos 20m de altura e 15-25cm de diâmetro, nos indivíduos adultos. Seus frutos, após cozidos com sal, são consumidos com mel, ou açúcar, porém, com café é a forma mais usual... É importante ressaltar que os frutos são ricos em proteínas, carboidratos e vários elementos minerais, como cálcio, ferro, fósforo, entre outros, e em um alto teor de vitamina A". FONTES: CAVALCANTE, Paulo B. Frutas comestíveis na Amazônia. 7. ed. rev. atual. Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi, 2010. p. 215-216. MORAIS, Raimundo: Amphith

Jacamim, "o juiz de paz" do terreiro

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"O jacamim é, realmente, o "juiz de paz" do terreiro. Vindo da floresta, onde entoa um gemido assustador, ele trouxe para a vida familiar um generoso sentimento de concórdia e colaboração. A natureza o dotou da plumagem de um pássaro, mas logo depois, como se quisesse retificar-lhe o destino e dar-lhe função doméstica, acrescentou-lhe ao corpo as canelas finas de um galináceo. [...]. Na luta entre o pato e o peru, ou entre galos desordeiros, surge sempre o jacamim com sua autoridade, distribuindo bicadas entre os contendores e fazendo voltar a paz ao terreiro em revolução. Se uma galinha desaparece ou morre, abandonando a prole, o jacamim agacha-se, carinhoso, oferecendo o agasalho de seu corpo aos pintainhos. Quando se aproxima o dono da casa, o jacamim vem envolver os seus pés com a carícia de suas asas, e procura distrair os seus ouvidos com seus gemidos noturnos, mas revestidos de certa harmonia. Entre os índios e os paroaras, esta ave interessante é considerada

Cuias

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"A cuieira é árvore muito comum nos quintais das casas do interior, pois a cuia que ela fornece é utensílio de variadíssimas aplicações. Não tem somente as aplicações da cuia usada nos Estados do Sul, fruto de cucurbitáceas, muito conhecidas, mas muitas outras. Nas canoas e montarias, ela é indispensável, como o remo. As pequenas canoas quase todas fazem água, ou por serem  mal calafetadas, ou por serem rasas, de modo que tomam água pelos bordos quando se inclinam um pouco. A cuia é o copo, é o prato, é a vasilha mais utilizada em casa do caboclo. São célebres as cuias ornadas de Santarém e a habilidade com que são trabalhadas ali". LUSTOSA, Antônio de Almeida. No estuário amazônico : à margem da visita pastoral. Belém: Conselho Estadual de Cultura, 1976. p. 174. Cuia ( Crescentia cujete) E. Descourtilz. Flore pittoresque et médicale des Antilles.  1827. Ilustração de J. Th. Descourtilz. www.plantillustrations.org

Aguapé

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[...]. A respeito de aguapé, escreveu o notável Gen. Couto de Magalhães: "... e não se distingue o rio dos pantanais, senão porque as águas destes últimos são literalmente cobertas de plantas aquáticas, e tão completamente, que, a quem não tem experiência, se afigura que toda aquela verdura brota de um solo firme e fica muito longe de pensar que aquele tapete de ervas tem por baixo de si, às vezes, cem palmos de água. Os pantanais não são mais do que as fontes em que a água está coberta pelas plantas aquáticas de que acima falei, em um tecido tão basto e compacto que um homem deitado em cima se sustenta: e tanto é assim que, quando nas primeiras enchentes o rio destaca algum pedaço deste imenso tapete para arrastá-lo em sua serena e vagarosa corrente, os tigres costumam embarcar em cima, e assim viajar dias: a planta que forma este tecido é uma espécie de lírio aquático de flores brancas em cachos, com o cálice da corola às vezes roxo, às vezes cor-de-rosa; é conhecida pelo

Um ambiente fantástico

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"A região ferocíssima do rio-mar é prodigiosa em lendas e em mistérios deslumbrantes. O ambiente é fantástico e propício à criação de quantos mitos, que enchem a grandiosa planície. Há, de contínuo, um desenrolar de histórias de assombramentos, que descem rio abaixo, de seringal em seringal, de maloca em maloca. O caboclo é um crente obstinado de coisas espantosas. Ele atravessa a mata, com a intrepidez de um Hércules. É um desassombrado, na luta insana contra uma natureza insalubre. É capaz de afrontar as feras mais perigosas, as cobras mais traiçoeiras, os jacarés mais valentes e matreiros, os botos mais terríveis e cambalhotantes. Tem o heroísmo de todos as bravuras imagináveis. É o desbravador indômito de uma floresta bravia. Derruba árvores gigantes, despedaça todos os empecilhos em sua passagem, e abre estradas em plena mata virgem. De sol a sol, dias inteiros, e, às vezes, noites a fio, vive nas catedrais das florestas, alimentando-se das caças e das pesca

O Uiraçu (Gavião-Real)

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"Ao cair da tarde, quando parou de chover, vi, pela primeira vez em natureza, um Uiraçu ( Harpya harpija (Linnaeus, 1758). Estava calmamente pousado em uma árvore, à beira do rio, de onde assistiu à passagem do batelão, imóvel, na maior displicência deste mundo. Tinha bem marcada no pescoço a mancha negra dos machos dessa espécie. [...]. Apareceram também maguaris, garças brancas, taquiris, tucano de peito branco, andorinhas, siriris, martins-pescadores e alguns papagaios. Também pela primeira vez observei dois rouxinóis do Rio Negro em natureza, assustando sobre os mesmos o meu binóculo, cuja utilidade numa viagem desta não tem limites". José Cândido M. Carvalho. Notas de viagem ao Rio Negro. Publicações Avulsas do Museu Nacional. Rio de Janeiro, n.9, p. 36, 1952. Gavião real - Uiraçu ( Harpia harpyja ). Ilustração de E. Riou (1833-1900). J. Creveaux. Voyages dans L´Amérique du sud . 1883.

A vida aérea de nossas florestas

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"[...]. Entre as aves trepadoras sobressaem as araras, que habitam o cimo das maiores árvores, onde comem e dormem. Os papagaios, sempre casados, passam a vida no tope dos madeiros. Os naturalistas os comparam, pela irrequietude, aos macacos, da mesma forma que comparam, pela lentidão as preguiças aos tucanos. Estes, de bicos enormes se bem que leves, famosos trepadores, de vez em quando emigram dentro da própria bacia amazônica, atravessando vales e serras numa larga peregrinação que parece originária da postura. É preciso, no entanto, antes de encerrar estas linhas, e como homenagem ao gênio perspicaz de Wappaeus, transcrever ainda estas suas curiosas observações referentes à índole e ao costume dos alados. Há "aves que habitam as alturas e evitam o homem; aves que procuram os povoados e se familiarizam com eles; aves das planícies que as frequentam em bandos; aves dos campos que vivem solitárias; aves que rastejam o solo e mal se elevam no ar; aves que esvoaçam nas maior

A espinhosa palmeira Tucum

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"Quanto mais avançávamos no rio pequeno e estreito, mais bela se tornava a vegetação. Não somente troncos grossos como também mais altos e retilíneos cresciam numa simetria singular, e, contudo, numa franca comunidade, ao lado uns dos outros, atraindo minha atenção para eles. Entre as palmeiras, predominavam pelo número as espinhosas astrocárias. Por toda parte, a bem armada Tucum ameaçava os que se aproximavam. Muitas vezes, a parte superior do tronco e as bainhas das folhas parecem inteiramente pretas, graças aos espinhos de que se cobrem. As simples e pequenas euterpes desaparecem inteiramente ao lado das rústicas vizinhas...". Robert Avé-Lallemant (1812-1884). Viagem pelo norte do Brasil . 1961. v. 2, p. 152. Tucum.    Bactris setosa .  C. F. P. von Martius. Historia Naturalis Palmarum . v. 2, t. 72, 1839.  www.plantillustrations.org

Aves aquáticas à beira do rio

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"O dia apenas clariava. Um bando de tucanos passara por cima da barraca, e dirigia-se para o açaizal. Em sentido contrário, centenas de periquitos iam, numa grande algazarra, procurar a comida nas favas das sumaumeiras. Quando o pai de Rosinha chegou à beira do rio, aí é que o alvoroço foi grande e a gritaria infernal! Eram centenas de marrecas, patos bravos, cararás, garças, ciganas e outras aves aquáticas, em grande número, que levantaram o voo espavoridas e revoltadas por lhes perturbarem a quietude. Entre os aningais e capins da margem, ouvia-se o piar dos filhotes que ficaram abandonadas. Numa outra manhã, o velho João ter-se-ia demorado a apreciar aquela debandada e os piados estridentes que soltava a passarada multicor e de várias espécies passando-se para outra margem do rio onde ficariam até, que tudo se aquietasse novamente. Mas hoje, o pobre homem nem mesmo se apercebia dos jacarés que, de goela à mostra, esperavam que as jaçanãs lhes viessem fazer o favor de catar

Um cenário pitoresco

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" [...]. O cenário do Caiambé é dos mais pitorescos. A terra, dos dois lados visíveis do lago, é alta e coberta de selvas sombrias, salpicadas aqui e ali de casas caiadas de branco, no meio da alfombra verde dos roçados pertencentes aos moradores. Em frizante contraste com estas escuras florestas ondeadas, vê-se a folhagem alegre, viva e verde-clara dos bosques das numerosas ilhotas que se destacam como jardins aquáticos na superfície do lago. Bandos de patos, cegonhas e garças brancas de neve habitam estas ilhotas; e ouviam-se a gritaria dos papagaios e o coro pungente dos tamburi-parás, quando passávamos. Era uma nota de alegria, depois de depressivo silêncio e da ausência de vida nas matas marginais do grande rio". Henry Walter Bates (1825-1892). O naturalista no rio Amazonas . 1944. v. 2, p. 287. Garças e Patos. Eurico Santos. Da ema ao beija-flor . 1990.

As pupunheiras e seus frutos deliciosos

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"[...]. Outras muitas árvores e plantas úteis encontramos na Amazônia. É a sumaumeira; é o buritizeiro; é o apuizeiro, que nasce como um cipó, enroscando-se nas árvores e matando-as no fim de algum tempo; são as palmeiras, de centenas de espécies. São os jupatis , de fibras claras, usadas no fabrico de chapéus e tantos utensílios caseiros; são as jacitaras , que fornecem fibra para fabricar jamaxis ou cestos; são os buçus , cuja palmas, empregadas como cobertura de casas, duram quase vinte anos; são os ubins , com suas folhas usadas como forro e cobertura de casas e no preparo de cestos, ou paneiros; são os mururus ou murumurus , que fornecem as fibras adotadas nos largos chapéus dos canoeiros; são os caranás , com fibras empregadas nas gaiolas e alçapões; são os mucajás : dão um fruto que, amassado, produz gostoso vinho; são as pupunheiras , cujo fruto é um alimento delicioso, cosido simplesmente, ou embebido uma calda de açucar, no mel de cana ou no mel de abelhas; são os açai

Uma viagem de naturalistas

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"[...]. As margens do lago eram guarnecidos por uma larga grinalda de lírios aquáticos ( Nymphaea rudgeana ), habitada por muitas famílias de Parra jacana. Não foi fácil passar com o bote através desta cinta de folhas, e foram precisos todos os nossos esforços unidos, durante horas de trabalho, para avançarmos uma distância direta de poucos quilômetros. Era quase noite quando chegamos ao sítio de um dos nossos guias e barqueiros: dois ranchos cobertos de folhas de palmeiras. Impressionou-nos a semelhança da paisagem ao redor deste "sítio" com a da região dos campos nas partes oriental e setentrional da Ilha de Marajó, e com os caracteres físicos do interior da Mexiana, tais como os descreveu Wallace. As aves oferecem numerosas semelhanças de parentesco. Milhares de patos bravos voavam a alturas diferentes sobre as nossas cabeças, procurando voltar aos caniçais das margens do lago. [...]". Emílio A. Goeldi (1859-1917). Resultados ornithologicos de uma viagem de

Minha viagem pelos canais entre ilhas

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"[...]. No dia seguinte, antes do sol nascer, soprou uma brisa fresca; os homens levantaram-se e desfraldaram as velas. Navegávamos o dia todo pelos canais entre ilhas, com longas praias alvas, arenosas, sobre as quais víamos de vez em quando, aves aquáticas e ribeirinhas. A floresta era baixa, e tinha aspecto severo. Aí cresciam várias palmeiras, que eu não via antes. Nos ramos baixos, perto d´água, havia numerosas e lindas tanagras de cabeça vermelha ( Tanagra gularis ), esvoaçando e chilrando, como pardais. As quatro e meia chagamos à boca de um furo, onde havia vasta praia arenosa. O vento encrespara a areia em cristas e ondulações, e sobre as partes mais úmidas corriam bandos de maçaricos. Alexandre e eu fizemos grande caminhada pela praia, que aparecia como agradável digressão ao cenário monótono da floresta, em meio da qual viajáramos. [...]. Aí vi pela primeira vez um jacaré, que levantou a cabeça e os ombros pouco depois de eu ter tomado banho nesse lugar. A noite era c

O pé de ajuru

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"Será que um dia vais esquecer essa noite em que o céu e a terra se confundiam, em que tiveste esse amor a escorrer das tuas mãos, e era tanto que lhe pareceu encher mais o rio, e fez os pássaros aconchegarem-se mais nos ninhos, as folhas sussurrarem preces e arrepiarem-se de mansinho, e em que as frutas do ajuru se deixaram cair levemente sobre a areia, tal como gotas de sangue, muito rubras e carnudas. Mas Rosinha, agora, já ia longe; o pé de ajuru ficara lá na praia amadurecendo novos frutos ao sol forte que doirava aquelas terras quentes e aqueles rios guardadores de piranhas e histórias de peixes e mães-d´água...". E. Costa Lima. O filho da cobra grande : folclore marajoara. 2. ed. 1944, p. 66. Ajuru ou Guajuru ( Chrysobalanus icaco). Denisse, E. Flore d´Amérique , t. 128, 1843-1846. www. plantillustrations. org

As matas marajoaras

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"[...]. Os madeiros lá no alto como que sufocados, atiram os seus galhos em todas as direções entrelaçando-os com as das outras árvores; de longe, do meio do campo avista-se aquilo como se fosse formado por um único tronco, dando-nos a mais nítida impressão de que é um só e grande "bouquet". Às vezes para dar um ar mais poético, eleva-se uma palmeira de caule fino, delicado e esbelto, acima desses patriarcas, os quais, por estarem tão altos, sentem por vezes, das nuvens, o seu ósculo frio. Esses madeiros parecem ser os reis dessas regiões inabitadas. Na época da floração, é uma maravilha! Tornam-se de uma beleza sem igual. Ficam a tal ponto floridos, marchetados de mil cores, parecendo-nos um enorme ramalhete, não se encontrando um único lugar verde; tingem-se de amarelo, de azul, de roxo e vermelho, fascinando quem os contempla. Aspira-se então um perfume suave e silvestre, por toda a encantadora ilha. Finda a floração, vem a época dos frutos. Desprendem-se seus fru

A ave Cigana (Opisthocomus cristatus)

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"[...]. Espécie muito mais comum era a cigana ( Opisthocomus cristatus ), ave da mesma ordem de nosso galo doméstico. É mais ou menos do tamanho de um faisão; a plumagem é pardo-escura, manchada de avermelhado, tendo na cabeça uma crista de longas penas. É uma ave notável a muitos respeitos. O dedo posterior não está situado a um nível mais alto que os outros, mas no mesmo plano; a forma do pé está adaptada à vida, puramente arbórea da ave, permitindo-lhe agarrar-se solidamente aos ramos das árvores. [...]. A cigana vive em bandos consideráveis nas árvores baixas e arbustos da beira dos rios e lagoas, alimentando-se de vários frutos silvestres, especialmente de araçás ( Psidium sp.). Os naturais dizem que ela devora o fruto de Araceas arborescentes ( Caladium arborescens ) que crescem em densas massas nas margens pantanosas das lagoas. Sua voz é um assobio áspero e desagradável. Faz esse ruído quando alarmada, todos os indivíduos sibilando, a voarem pesadamente de uma árvore a o