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Mostrando postagens de 2020

Um concerto noturno

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         Todas as noites enquanto estávamos na parte mais alta do rio, tínhamos um concerto de sapos, os quais fariam os mais estranhos e extraordinários ruídos.         Há três espécies, que se ouvem frequentemente de uma vez.         Uma delas faz um ruído algum tanto parecido com aquele que só se pode esperar mesmo de um sapo, isto é, um triste e horrível coaxar.         As outras não o faziam semelhante aos de nenhum outro animal que eu já houvesse ouvido antes.         Um trem, correndo a uma certa distância, ou um ferreiro malhando com sua bigorna, eis o com que isso mais exatamente parecia.         As imitações eram tão perfeitas, que, quando eu estava deitado em minha rede, meio acordado, meio dormindo, e ouvia uma dúzia deles como que me imaginava em casa escutando os familiares ruídos de um trem de ferro a aproximar-se, ou um ferreiro a malhar em sua bigorna. FONTE: WALLACE, Alfred Russel. Viagens pelo Amazonas e rio Negro. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2004

As Lauráceas

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             Numerosas são as espécies de Lauráceas que fornecem      madeiras estimadas, e achamos nesta família madeiras próprias para os usos mais variados. O nome vulgar genérico dos representantes desta família, na Amazônia, é "louro", o que é mais apropriado que o nome "cédre" que lhes dão na Guiana francesa. No sul do Brasil o nome de "louro" é aplicado às espécies de Cordia , sendo o nome genérico das Lauráceas "canela". As Lauráceas são geralmente fáceis de distinguir pelas suas folhas lanceoladas e muitas vezes aromáticas, pelas inflorescências de pequenas flores amareladas ou brancas, com anteras que se abrem por meio de pequenas válvulas, e pelos frutos aromáticos muitas vezes circundados, na sua base, pelo cálice engrossado, de maneira que eles se parecem com  um fruto de carvalho. FONTE: HUBER, Jacques. Mattas e madeiras amazonicas. Boletim do Museu Goeldi (Museu Paraense) de Historia Natural e Ethnographia , Belém, v. 6, p. 174, 19

Ilhas de juncos flutuantes - um belo espetáculo

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        Um  dos belos espetáculos da Amazônia é ainda o das ilhas de juncos flutuantes e os comboios intermináveis de paus mortos e de árvores caídas que descem a corrente no momento da enchente. As primeiras se formam nas campinas moventes de juncais moles de nenúfares de "murerus", formados nos inumeráveis lagos que ladeiam os grandes cursos d´água e onde o vento as empurra, ao seu capricho, como jangadas sem direção, tanto em um sentido como em outro. No momento da cheia, são levadas pela corrente dos paranás e vêm em fila interminável tomar o caminho do oceano. Em caso de tempestade, não há refúgio mais seguro: de um vigoroso impulso faz-se aí subir a piroga e não há mais a fazer senão se deixar descer: as maiores vagas não chegam a quebrar sua coesão.          Elas são emolduradas pelas séries de troncos caídos que descem durante meses de todos os rios de águas brancas: bambus, caniços, arbustos árvores gigantes, todos se põem em movimento à medida que as águas sobem, l

Os troncos flutuantes no rio Amazonas

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         Na época das cheias no Amazonas, esses cedros são arrancados das florestas frondosas pela torrente, e constituem grande quantidade de troncos flutuantes, que tantas vezes vi flutuarem ao nosso encontro no rio caudaloso. [...].          Esses troncos flutuantes têm ainda uma utilidade muito singular para a navegação em pequenas canoas e igarités, como chamam as embarcações leves de tamanho médio. Quando a canoa, descendo com a corrente do rio, está em perigo de ser impelida para trás pelo forte vento contrário, os tripulantes amarram-na a um grande tronco flutuante de amiris, que arrasta facilmente a canoa e o tripulante contra o vento. Se, porém, as ondas revoltas pelo vento e açoitando por todos os lados, ameaçam encher a canoa ou fazê-la virar, há ainda um outro meio fácil de evitá-lo. Levam-na para uma ilha flutuante de canarana. O capim meio mergulhado na água quebra toda a força das ondas, ondula só ligeiramente, e o índio prossegue arrastado pela grande árvore da florest

A Preguiça (Bradypus tridactylus)

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         [...]. A preguiça era da espécie chamada por Cuvier Bradypus tridactylus e que apresenta um áspero pelágio cinzento. Os naturais chamam-na, em tupi, aí-ibiritê (preguiça da terra-firme) para distingui-la do Bradypus infuscatus , que apresenta larga faixa negra entre os olhos e é chamada aí-igapó (preguiça das vargens). Alguns viajantes na América do Sul descreveram a preguiça como muito ágil em suas matas de origem, e contestaram a justeza do nome que lhe foi dado. Mas os habitantes da Amazônia, tanto os índios como os descendentes de portugueses, participam da opinião geral e consideram a preguiça como o tipo da indolência. É muito comum ouvir-se um nativo, reprovando a preguiça de outro, chamá-lo bicho da embaúba, porque as folhas da Cecrópia são o alimento da preguiça. É estranho espetáculo ver-se a extravagante criatura, produto legítimo destas sombras silenciosas, mover-se tardamente de ramo em ramo. Cada movimento traduz, não exatamente a indolência, mas a cautela. N

As grandes araras e araraúnas no cenário amazônico

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         [...].   Daí por diante, misturavam-se grandes araras e ararúnas no cenário amazônico. Espetáculo soberbo, e realmente esplêndido, quando nos galhos mais altos das sumaumeiras trepam nuns e noutros com o auxílio do bico, dos pés e da cauda, exatamente como faziam no Mucuri no cimo das barrigudas. Mas seus gritos não tardavam a denunciar que já nos tinham visto; voavam então dali com altas gralhadas aos pares, muito juntas, ostentando ainda melhor as cores brilhantes, espargindo verdadeiras centelhas.          As araraúnas produzem também maravilhoso efeito de cores, quando voam. Mais tímidas do que as araras, voam com mais rápido bater de asas, com o que o azul de cima e o amarelo de baixo se fundem num só cambiante. FONTE: AVE´-LALLEMANT, Robert. Viagem pelo norte do Brasil no ano de 1859 . Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1961. v. 2, p. 72. Canindé ( Ara ararauna ) e Aratinga ( Ara severa ) J. Th. Descourtilz. História natural das aves do Brasil . 1983.

Cercados de água e tucuns

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        Depois de um longo dia de viagem, com a chuva nos ameaçando o dia inteiro, alcançamos, pouco depois do pôr-do-sol, o acampamento que o guia, que tinha ido na frente, escolheu para nós. No pantanal propriamente dito, é muito difícil encontrar um local seco e elevado, nesta época em que o rio se enche e inunda as margens. Este lugar onde acampamos hoje, que o guia já conhecia de viagens anteriores, já foi uma área aberta, espaçosa e agradável. Mas, agora, estávamos cercados de água e tucuns por todos os lados; mal havia espaço para montar os mosquiteiros. FONTE: OS DIÁRIOS de Langsdorff. Campinas: Associação Internacional de Estudos Langsdorff; Rio de Janeiro: Fiocruz, 1997. v. 3, p. 60. Tucum ( Bactris setosa)   Expedição Langsdorff ao Brasil, 1821-1829.  Desenho de  Taunay.

O canto do socó-boi

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           " Os dias se sucediam e a vida decorria relativamente monótona na maloca cachuianá.         Acordávamos às madrugadas frias com o canto do socó-boi, quando ainda as estrelas brilhavam pálidas e lágrimas de orvalho tremulavam na folhagem do anel de mata que nos cercava. E nos deitávamos pouco depois do surgir da lua amarela, quando o assédio dos carapanãs se tornava o menos suportável e por entre as lianas serpeantes começava a encarniçada luta pela vida dos animais da selva".    FONTE: VINHAES, Ernesto. Aventuras de um repórter na Amazônia . 2 ed. Porto Alegre: Globo, 1944. p. 161. Socó-Boi. À esquerda um jovem da espécie.  ELETRONORTE. Brasil 500 pássaros . 2000. Desenho de Antônio Martins

O Uirapuru e seu inimitável canto

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      Como rival do cauré pode-se considerar o uirapuru. Como aquele, exerce uma atração irresistível por meio do terror que sabe incutir sua vizinhança assim este atrai também, mas seduzindo, encantando pelos meios brandos da simpatia e inclinação. O uirapuru  é uma ave pequeníssima, mas que canta tão bem como nenhuma outra ave. As notas que desfere, agudas ou graves, reúnem todas as modulações, e esta avezinha, com seu inimitável canto, domina as demais que a ouvem atentas. [...].          Ao belo canto desta ave, que é imitativo, com o qual provoca o cortejo das demais, dedica, com espirituosa e irônica alusão a outros cantores o poeta maranhense Humberto de Campos o soneto:  Dizem que o Irapuru, quando desata A voz-Orpheu do seringal tranquilo, O passaredo, rápido, a segui-lo, Em derredor agrupa-se na mata. Quando o canto, veloz, muda em cascata Tudo se queda, comovido a ouvi-lo: O mais nobre sabiá surta a sonata. O canário menor cessa o pipilo. Eu próprio sei quanto esse canto é s

Uma vegetação pomposa

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          A vegetação ali, nas margens do rio, uma milha abaixo do Pará, era muito pomposa.             O meriti ( Mauritia flexuosa) , linda palmeira com folhas em forma de leque, e outra espécie, mais débil, o marajá ( Bactris maraja ), de pequeno porte, de caule todo cheio de espinhos, e que produz um fruto de agradável sabor, mas um tanto ácido, eram vistos frequentemente.           Uma moita de cactos, de aspecto verdadeiramente tropical, e de trinta pés de altura, crescia perto da casa, mas fora plantada ali.           Os matos estavam cheios de curiosas bromeliáceas e aruns , e bem assim de muitas árvores e arbustos isolados. [...]. FONTE: WALLACE, Alfred Russel. Viagens pelo Amazonas e rio Negro . Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2004. p. 57-58., il. (Edições do Senado Federal. v; 17). Arun William Curtis, 1787.  www.br.pinterest.com

O canto do Uirapuru e as aves na floresta

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        [...].  Eis que chegavam porém uma revoada heterogênea, saís, japins, rouxinóis, teu-téus, pipiras, anus, bicudos, coleiros, patativas, bem-te-vis, canários-da-terra, tangarás, maria-já-é-dia, anambés, arapongas, ferreirinhos, urutaís, andorinhas, tanguruparás. Acamparam na mistura de retirantes flagelados, em desordem, cada qual procurando uma nesga de chão desocupado. A fauna presente, em virtude do zunzum inartístico, olhou repreensiva aquela multidão de pés-rapado. Nesse interim baixou outra revoada de surucuás, arirambas, pica-paus, cujubins, aracuans, inhambus, macucauas, frangos-d´água, maçaricos, piaçocas, garças, arapapás, colhereiras, cararás, guarás, maguaris, jaburus, tuiuiús, gaivotas, mergulhões. Arrearam com o rumor seco do fechar dum grande leque.           Foi quando o alto das clareiras se encheram de frêmitos, lembrando minúsculos aviões. Aviões que não excediam de sete a vinte e um centímetros, meio verdes, meio dourados, cujas asas, em trepidante agitação,

Um enorme bando de papagaios

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        Neste momento, precisamente 5 horas da manhã vi inúmeros bacuraus brancos ( Chordeilles rupestris (Spix, 1825), apanhando insetos sobre o rio. Mais tarde um pouco, às 6,30, quatro araras vermelhas e um enorme bando de papagaios ( Amazona aestiva Linnaeus, 1758) pousados nas árvores de um braço de terra que avançava sobre o rio. Eram mais de mil, estando ali provavelmente para se alimentarem. Conforme pude observar no Alto Xingu, é esse também um local de pouso, para onde convergem diariamente centenas desses pássaros. Seu alarido e suas curtas revoadas chamaram a atenção de todos os tripulantes. Assestando o binóculo no mais próximo da margem, pude verificar serem da espécie que menciono acima. FONTE: CARVALHO, José Cândido M. Notas de viagem ao rio Negro. Publicações Avulsas do Museu Nacional,  Rio de Janeiro, n. 9, p. 12, 1952. Papagaios Proceedings of the Zoological Society of London . 1880.  www.biodiversitylibrary.org

Lendas e curiosidades: O sapo Aru e a Mãe da Mandioca

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         As  águas e as lendas correm parelhas pela planície amazônica.          Há seres estranhos no fundo dos rios e em cada recesso da floresta remexem-se na sombra monstros indecisos.          Na cabeceira dos rios vive a mãe da mandioca, deusa simplória e campestre, que protege os roçados daquela prodigiosa planta.         Em certa época do ano, o sapo aru  na forma de um guapo mancebo, sobe até às cabeceiras dos grandes cursos d´água e vai em procura da divindade.         Sem a pompa ritual dos mistérios helênicos, sem cortejos nem ruídos, e em lugar do poean   glorioso, apenas o murmúrio da brisa anuncia o chegado da divindade.          Percorre os roçados e se encontra o mandiocal cuidado e limpo, envia-lhe chuvas criadeiras e, se ao invés, o mato invade a cultura, nega-lhe os dons da sua graça.         O povo diz que onde o aru  não aparece a roça não medra.          Eis uma lenda amável e de fundo utilitário, convidando o lavrador a cuidar com amoroso afã das lides do campo

Uma viagem pelos rios da Amazônia

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         "Na  tarde seguinte, chegamos à foz do rio Unini, meia hora após passarmos por Velho Airão, uma antiga colônia na margem sul do rio Negro. Os únicos remadores da cidade abandonada eram três construções do século XVIII, que agora se encontravam em ruínas. No dia seguinte, chegamos às corredeiras do rio Unini. Logo pela manhã chamamos o Raimundo, conhecido como "guardião" das corredeiras, para pilotar nesse trecho que se estendia por alguns quilômetros.         Atracamos em uma floresta muito escura, onde árvores gigantescas estavam astutamente entrelaçadas como colunas góticas. De um dos galhos pendiam espirais de pesadas trepadeiras em forma de cordas. Dentre elas, pendurada em uma copa verde-prateada, saía uma cobra de quase dois metros e praticamente invisível contra o fundo de plantas sinuosas. Acima da serpente circulavam dois papagaios com gritos irados e estridentes, obviamente defendendo sua cria dos saqueadores. Ignorando o drama que estava sendo encenad

As palmeiras e seus nomes genéricos

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        Agora  estou descrevendo completamente toda palmeira que encontro, e tentando desenhar a maior parte delas, de maneira que, com a ajuda dos espécimes que tenho enviado à Inglaterra, espero ser algum dia capaz de estudá-las devidamente. Não estou familiarizado com o aspecto de todas as palmeiras mais comuns, mas aprendi que é muito arriscado confiar nos nomes nativos, já que eles são muitas vezes genéricos. São os casos de "açaí", "bacaba" e "marajá", entre outros. A palmeira chamada de "bacaba" no Pará e em Santarém não é a Oenocarpus bacaba , mas sim a O. distichus . No caso das "marajás", seu número é incontável. FONTE: SPRUCE, Richard. Notas de um botânico na Amazônia . Belo Horizonte: Itatiaia, 2006. p. 242. il. (Reconquista do Brasil. Série 2. v. 236). Oenocarpus distichus C. Fr. von Martius . Historia naturalis palmarum 1817-1820.

Sua majestade, a onça pintada

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    " Das raízes das árvores gigantescas surge agora um som suave e melodioso, como se alguém descuidadamente houvesse tocado as cordas de um bandolim. São as rãs musicais. Presas às árvores pela sucção de seus pés que semelham ventosas, elas emitem sons que parecem provir de centenas de pequenos anões a trabalhar numa caverna. Longe, uma rã imita o som do contrabaixo.     Agora todas as criaturas diurnas da selva já saíram de seus esconderijos. Aí vem o enorme tamanduá. Seu focinho comprido e suas enormes patas providas de fortes garras dão-lhe o aspecto de um bicho de pesadelo, desenhado por uma criança. E existe também um pássaro de chapéu-de-sol, o pavão da mata, com o aspecto de uma gralha gigantesca, que se houvesse tornado tropical e que trouxesse, no alto da cabeça, um guarda-sol todo franjado. Enquanto vocês imaginam ser este o mais estranho animal jamais visto, eis que voa um tucano, com um bico enorme, do tamanho do corpo, dando a impressão de ter enfiado o bico verdade

Uma das mais belas árvores da floresta

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"Uma das mais belas árvores da floresta é o caju-açu ( Anacardium spruceanum , Bth.). Suas folhas, especialmente quando novas, são brancas em cima e esverdeadas embaixo. Quando bem novinhas, são rosadas. Caso se encontrem na vertente de um vale e sejam vistos da vertente oposta, ficam ainda mais belos, deixando ver sua copa branca e folhosa, matizada de delicadíssimas tonalidades róseas e juncada de frutos escarlates. Quanto a estes, têm formato exatamente idêntico ao do caju comum, mas são um pouquinho menores e de sabor intensamente ácidos. Examinamos diversas dessas árvores e, vendo que elas eram praticamente do mesmo tamanho, achamos que poderiam ter sido plantadas pelos nativos numa mesma época. [...]. FONTE: SPRUCE, Richard. Notas de um botânico na Amazônia . Belo Horizonte: Itatiaia, 2006. p. 177. il. Caju-açu Witsen, N.; Jager, H. de.  Plantae Javanicae pictae , v. 5855, 1700.  www.plantillustrations.org  

Aninga (Montrichardia arborescens)

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"... As margens desses rios de água doce são sempre cobertas dessa vegetação: os aningais. A planta é a que os botânicos chamam Montrichardia arborescens da família das aráceaas. Atinge a quatro e seis metros de altura; tem um látex ou coisa semelhante que produz prurido cáustico; fornece também fibra têxtil. Finalmente, a aninga é a alimentação da cigana ...".   FONTE: LUSTOSA, Antônio de Almeida. No estuário amazônico : à margem da visita pastoral. Belém: Conselho Estadual de Cultura, 1976. p. 319.                                                                                            Aninga ( Montrichardia sp.)                                                             Peyritsch, J. J.; Schott, H. W. Aroideae Maximilianae. t. 21. 1879.                                                                                           www.plantillustrations.org

Lendas e curiosidades: O Taperebazeiro

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"Taperebazeiro na língua geral Tapereyua. Com o taperebazeiro, que é uma das árvores mais luxuriantes e vistosas da floresta amazônica, dá-se um caso que o fixou, de modo absoluto, na história das crendices do vale. O imenso poder que desfruta ao contato do solo permite-lhe a faculdade de resistir a todos os vendavais, por mais fortes que sejam. Conta Stradelli que, "quando um taperebazeiro cai derrubado pela tempestade, se não cai no rio e não é carregado por este, rebenta logo por todos os lados, deitando raízes e brotando por todos os pontos em que fica em contato com o solo. Por essa causa, reza a lenda, quando o jaboti fica preso debaixo de outra qualquer espécie de árvore, porque é dotado de vida dura e que pode aguentar longos jejuns, fica resignado e diz em tom de mofa: "Tu não és de pedra, hás de  apodrecer e eu sairei". Se, porém, fica debaixo de um taperebazeiro, perde logo toda e qualquer esperança, porque sabe que não apodrece, e, metendo novas raízes,

Frequentes e variadas Aráceas

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"Enquanto que nas matas onde predominam os tachis e as mungubas, as plantas trepadeiras são em sua maior parte de curta duração, tendo, como as do imbaubal, o seu principal período de vegetação e florescência durante o tempo da enchente, a mata das várzeas altas possui já um grande número de verdadeiros cipós, pertencendo principalmente às famílias das Leguminosas, Dilleniaceas, Menispermáceas, Sapindáceas, Malpighiáceas, Bignoniáceas, e em grande parte aos gêneros representados também nas matas da terra firme. Frequentes e variadas são as Aráceas que trepam por meio de raízes, e a mesma forma de vegetação têm algumas espécies de Fetos, Piperáceas, Bignoniáceas e Cyclantháceas. Também nas pequenas plantas que cobrem o chão e no maior número de verdadeiras epífitas mostra-se a organização mais perfeita desta mata. [...]". FONTE: HUBER, Jacques. Mattas e madeiras amazônicas.  Boletim do Museu Goeldi (Museu Paraense) de Historia Natural e Ethnographia , Belém, t. 6, p. 111, 1910

Cuieira (Crescentia cujete)

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"À tarde, refrescou um pouco; fomos visitar a plantação de bananeiras. Perto de casa, e sentamo-nos, não longe da margem, embaixo duma enorme cabaceira que dá uma sombra fechada, não só por causa de sua luxuriante folhagem como porque os seus ramos estão cobertos de parasitas; um musgo escuro e veludado esconde a casca da árvore e forma um marcado contraste com a cor verde-pálido dos frutos lustrosos cujo envernizado sobressai assim ainda mais. Digo uma "cabaceira" simplesmente por causa do uso que se faz dos frutos dessa árvore; aqui esta árvore se chama uma "cuieira" ( Crescentia cujete ) e a vasilha que se faz com seu fruto é uma "cuia". Esse fruto é de forma esférica de um verde brilhante e belo polimento; o tamanho varia desde o da maçã até o dum volumoso melão. O interior é constituído por uma polpa mole e esbranquiçada que se retira facilmente cortando a cuia pelo meio; deixa-se em seguida secar a casca e fabricam-se desse modo lindas taças e v

Belém do Grão-Pará: As frutas de Belém

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  "Quem  percorre o Brasil, de norte a sul, e vai visitando um por um dos mercados das metrópoles patrícias, ao chegar a Belém fica assombrado com a abundância de frutas. [...]. Em Belém todas as frutas da planície aclimadas e nativas, são abundantes capazes de abastecer esquadras, de serem vendidas às toneladas. Desde o bacuri, dádiva celeste, até aos taperebás, as tangerinas, aos uxis, aos umaris, às sapotilhas, aos ananases, às bananas, às mangas, aos abacates, aos mamões, às laranjas, aos araçás, aos abricós, às jacas, aos cupuaçus, às pupunhas, aos abius, às melancias, aos cajus, aos melões, às goiabas, aos açaís e às bacabas, os vários mercados da capital andam entulhados deles. Parece incrível que se consuma tanta fruta, pois os aparadores públicos permanecem repletos dessas joias botânicas oriundas das rocinhas da cidade e dos sítios dos arredores. Os frugívoros aqui podem viver como no Éden vivia nossa mãe Eva e nosso pai Adão. E se, como é provável, não encontrarem a maç

A primeira viagem à Amazônia

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"O pequeno avião de carga e passageiros partiu do aeroporto de Congonhas em São Paulo, com destino a Belém, capital do Pará. Para mim e para minha acompanhante, Rita, essa era nossa primeira viagem à Amazônia e nosso entusiasmo era enorme. Estávamos ambas vestidas para a selva - ou pelo menos pensamos que estávamos: calça jeans, camisa de manga longa, chapéu de palha e botas. Nossas sacolas repletas não comportavam qualquer peso adicional, e minha mochila já estava sobrecarregada com tubos de tinta e livros de desenho. Tivemos nossa primeira demonstração do calor tropical ao descer do avião no aeroporto de Belém, pois, apesar da pequena cidade encontrar-se à sombra de vastas mangueiras, o calor era intenso. Permanecemos em Belém por alguns dias, explorando, passeando no porto e visitando mercados fascinantes. Quando ficávamos cansadas, sentávamos em uma sombra fora do hotel e bebíamos um delicioso suco de maracujá da região". FONTE: MEE, Margaret. Flores da floresta amazônica

Palmeira Marajá

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"(...). A estrada que levava até lá passava no meio de uma bela mata, que exibia muitas árvores gigantescas. Senti falta, ali, das palmeiras açaí, miriti, paxiúba e outras, só encontradas em solo mais fértil; não era incomum, porém, a bela bacaba, vendo-se também  uma grande diversidade de espécies anãs da palmeira-marajá ( Bactris ), uma das quais, denominada peuririma , era muito elegante, chegando sua haste, que era da grossura de um dedo, a alcançar quatro ou cinco metros de altura. (...)". Fonte: BATES, Henry Walter. Um naturalista no rio Amazonas. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; São Paulo: Ed da Universidade de São Paulo, 1979. p. 118. (Reconquista do Brasil, v. 53). Marajá ( Bactris maraja)     Orbigny, A. D. d´ Voyage dans lÁmerique Méridonale, v. 7, n. 3, t. 7, 1847.   www.plantillustrations.org  

Uma beleza regional

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"O rio gigante assume então uma beleza toda regional. Para o norte e mais tarde para o oeste, iluminado pelos raios do sol poente, a Serra de Almeirim estende-se em quatro ou cinco tabuleiros, saindo ridente do escuro crepuscular da floresta. Mais longe, a oeste, flutuava no amarelo-dourado da luz crepuscular a Serra de Paru. Algumas araras gritavam na mata; um bando de esmerilhões voava calmamente para a  dormida; da floresta mesmo emanava o forte hálito noturno da baunilha, até nós. Raramente vira um dia despedir-se com formas mais puras, cores mais brilhantes, e silêncio mais deleitoso". FONTE: AVÉ-LALLEMNAT, Robert. Viagem pelo norte do Brasil no ano de 1859 . Rio de Janeiro:Instituto Nacional do Livro, 1980. p. 69. (Coleção de obras raras, 7). Baunilha (Vanilla grandiflora)  Revue horticole . série 4, v. 28, 1856.  www.plantillustrations.org

As palmeiras na Amazônia

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  "Se acompanhássemos Lineu quando diz que o homem nasceu entre palmeiras e é essencialmente palmívoro, não teríamos dúvida em fazer da Amazônia o berço da humanidade. E isto porque das mil e muitas plantas dessa família que estão hoje conhecidas, mais da metade tem larga representação no grande vale e, conforme já acentuamos, empresta-lhe à paisagem caráter todo especial. Umas têm porte vultuoso e, de estípite grosso e linheiro, levam o capitel até quinze e vinte metros de altura, como acontece com a pupunheira e a inajá. Outras são acaules e com a sua fronde aberta logo à flor da terra, como fazem as curuás, recordam garbosos cocares indígenas. Estas são esbeltas e delicadas, como a piririma ou marajaí; aquelas têm o tronco desconforme como a paxiuba barriguda, ou ramificado como a jauari, ou descansando sobre um pedestal de raízes adventícias, como a caiaué e ainda as Iriartea. Da maioria, as palmas  serão pinadas e, de poucas, mas das mais belas, como a miriti, flabeliformes.

As palmeiras Miriti: princesas das matas

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[...]. Um cenário inteiramente novo, em extremo, surpreendente, apareceu-nos nessa ilha, apenas alguns palmos elevada acima das águas. Inúmeras palmeiras miritis ( Mauritia flexuosa , L.), cujos troncos cinzentos de um e meio a dois pés de circunferência, trazendo na copa um formidável penacho de leques à altura de 100 e mais pés, pareciam as únicas moradoras dali, e cresciam tão densamente, que em muitos pontos se apertavam uma às outras, como uma estacada de fortificação. Nos lugares onde o rio as havia derrubado, deixando-as todas atravessadas em desordem, formava-se um baluarte de algumas braças de altura, por onde trepamos penosamente, para apreciar toda a redondeza. Essas princesas das matas, tombadas aos milhares, umas sobre as outras abandonadas ao embate furioso das vagas ou à lenta podridão, como que choradas pelas sobreviventes, cuja fronde geme incessante aos açoites da tempestade, é um espetáculo portentoso da inexorável potência dos elementos.   [...]". FONTE: SPIX,

Árvores de portes diversos

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"A quem olha essas margens, de longe, só o verde unítono da mata se apresenta com as árvores sempre do mesmo porte, apenas aqui e ali, uma sumaumeira gigantesca sobressaindo por cima do copado denso da mataria. Passando rente às bordas, o cenário é bem diferente: árvores portentosas dominando e ensombreando outras menores; arbustos, plantinhas, lianas, touceiras, canaranas, muris e matupás boiando nas águas. Agora são árvores de portes diversos; além das sumaumeiras, os cedros, as sapucaias, as itaúbas e as acariquaras de cerne resistente como o ferro, os piquiás, todos dominando pelo seu porte avantajado as outras espécies mais baixas   . E sob as copas das árvores mais altas, uma promiscuidade de galhos e de folhas, mil espécies diversas se apertando, se sufocando e se ajudando na contínua escalada para o alto em busca de luz. [...]". PEREIRA, Jayme R. Amazônia : impressões de viagem. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1940. p. 74-75. Cedro ( Cedrella odorata)   Ruiz,

A utilidade das palmeiras

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"[...]. Estas palmeiras têm aplicações variadas para os misteres da vida: da casca do miritizeiro    e do açaizeiro fazem-se taboas para o soalho de casas e pontes; dos pendões das palmeiras tiram-se talas para fabricação de cestos, gaiolas, esteiras, tipitis, etc.; com as folhas do ubinzeiro cobrem-se as choupanas e até grandes casas; o âmago do pendão do jupatizeiro presta-se para se fazerem paredes divisórias nas habitações. Grande parte dessas palmeiras são apreciadas na alimentação: o suco do açaí, tirado da película que cobre as sementes, e que é amolecida por meio de água tépida, transforma-se, depois de peneirado, em um vinho de cor vermelho-escura, de um sabor agradabilíssimo e muito apreciado pela quase totalidade dos habitantes; da bacaba e do patauá extrai-se também um vinho muito agradável, de cor branca ou avermelhada; os vinhos do caraná, do miriti, do tucumã e de algumas outras palmeiras também são muito apreciados, diferindo entre si pela cor de cada um dos frutos

Representantes da avifauna neotropical: tucanos e araçaris

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"Se quiséssemos buscar entre as aves do Brasil, uma que bem caracterizasse as singularidades das formas e a beleza de colorido de representante da avifauna neotropical, a escolha necessariamente recairia nos tucanos e araçaris. Só eles, de fato, ostentam aquelas formas aberrantes dos clássicos    modelos da natureza, só eles se vestem com púrpuras realengas, com o amarelo alaranjado dos frutos tropicais, com o azul dos mares brasileiros, com o verde da nossa bandeira". FONTE: SANTOS, Eurico. Da ema ao beija-flor. 2. ed. Rio de Janeiro: F. Briguiet, 1952. p. 296. (Zoologia Brasílica, 4). Araçari  (Pteroglossus pluricinctus ) John Gould (1804-1881). A monograph of The Ramphastidae or family of toucans . 2. ed.  1992.