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Mostrando postagens de maio, 2020

Uma viagem à costa da Guiana meridional

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"Era noite quando chegamos ao sítio e um dos nossos guias e barqueiros: dois ranchos cobertos de folhas de palmeiras. Impressionou-nos a semelhança da paisagem ao redor deste "sítio", com a da região dos campos nas partes oriental e setentrional da Ilha de Marajó, e com os caracteres físicos do interior da Mexiana, tais como os descreveu Wallace. As aves oferecem numerosas semelhanças de parentesco. Milhares de patos bravos voavam a alturas diferentes sobre as nossas cabeças, procurando voltar aos caniçais das margens do lago. Alternando com os patos bravos, passavam bandos do grande "Passarão" [...], de Guarás e Colhereiros, colocando-se geralmente estes dois em forma de cone. O Pato bravo almiscarado ( Cairina moschata ) é vulgar nesta região. [...]". FONTE: GOELDI, Emílio A. Resultados ornithologicos de uma viagem de naturalistas à costa da Guyana meridional. Boletim do Museu Paraense de Historia Natural e Ethnographia (Museu Goeldi) . Belém, t

Uma latada de maracujá

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"[...]. Mas a ocupação predileta de Rosinha era cuidar do jardim por ela improvisado numa das nesgas de terra que circundavam a modesta barraca. Uma roseira de cacho, que plantara quando ainda criança, já se debruçava sobre a cobertura de ubim, e uma grande latada de maracujá dava sombra e cheirosos frutos esféricos, de cor gema de ovo de tartaruga. Do outro lado, era um jasmineiro, cujas flores, depois de ornarem a cabeleira negra da cabocla, parecendo multidão de estrelas em noite sem lua, iam perfumar as camisas de murim nos baús de folha. Os tajás cresciam espontaneamente em toda parte, como a touceira de vindicá, e ainda havia lugar para os pés de bugarí, de murtinha e de cristas de galo de um vermelho escuro, como postas de sangue meio coagulado, isto sem falar no jirau, onde as plantas de paneiro se enfileiravam misturando os aromas fortes de manjericão, pluma, alecrim e bergamota". FONTE: LIMA, E. Costa. O filho da cobra grande : folclore amazônico. 2. ed.  Rio

O crepúsculo da tarde na floresta

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"Crepúsculo da tarde. Há um recolhimento religioso em toda a natureza. O sol se esconde, entre nuvens de ouro. As águas que rolam na correnteza não têm mais a cor de barro. Sob os reflexos do fim da tarde, tomaram uns tons que, maravilhosamente, semelham prata velha. O rio parece um imensurável espelho, que transmuda, de instante a instante, em nuances multiformes e policrômicas, as suas escamas e maretas... Pelos ares, marrecas e periquitos, em algazarra, aos bandos. A mataria, nas beiras, tem os cimos das suas copas douradas. Vem da floresta um rumorejar surdo que mais aumenta agora, para daqui a instantes, diminuir de intensidade. O gralhar mais agudo de algum pássaro em luta zarpeia os espaços e responde, muito distante, no eco sonoro. Em seguida logo a solidão que, como um sudário, envolve a grande paisagem do sol morto. A semi-penumbra desfaz-se a pouco e pouco, sem a gente aperceber-se. Tudo está envolto em sombras. Já não mais se descobrem as ár

O perfume das flores do cajueiro

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"Nas porções de matas, a atmosfera estava carregada do delicado perfume das flores do cajueiro ( Anacardium occidentale ) que aí existe em profusão. Era a primeira vez que via esta árvore à distância da costa, mas depois vi que não era incomum no interior. O fruto, porém, ou, antes, o grosso pedúnculo que forma a parte comestível, é pequeno, pouco maior que uma cereja. A lusco-fusco paramos num sítio onde havia duas casas, mas não nos pudemos acomodar, por haverem ali acampado antes de nós duas grandes tropas. Como a habitação mais próxima ficava a duas léguas adiante e as estradas, ao que informavam, eram más, decidi permanecer onde estava, acampando debaixo de ramalhuda Caesalpinia à beira da estrada. Logo depois de ser tudo arranjado para a noite, veio-me permissão de uma das casas para armar lá minha rede, convite que recusei, por me não parecer prudente separar-me da bagagem. [...]. A tarde estava sombria, com toda a aparência de chuva; mas, quando surgiu a lua, clar

Uma Qualea em flor

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"[...]. Mas se estas árvores florescem tanto, como é que quase ninguém as vê? Já referimos que Wallace viajou por alguns dias no Amazonas, sem que os seus olhos caíssem sobre qualquer copa pintalgada de outra cor. Para Spruce, as flores desse mesmo matagal também foram por muito tempo invisíveis. Não poucos são os fatores que conduzem a uma tão errônea impressão de pobreza dentro da maior riqueza. Em primeiro lugar, temos a própria extensão dessa floresta e a infinita variedade das espécies que a guarnecem, quase sempre distribuídas a esmo, um exemplar aqui, outro já muito longe, sem nada dos grupos ou bosques de uma determinada árvore, que uniformizem o aspecto dos quadros europeus. Acrescente-se a isso a irregularidade com que florescem essas mesmas espécies equatoriais, hoje umas, outras amanhã, e compreender-se-á facilmente porque há de ser sempre verde o dossel que cobre a Hiléia. De fato, que importa que qualquer quaruba apareça um dia com a copa toda dourada ou que qualqu