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Mostrando postagens de fevereiro, 2021

O despertar na mata

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            Do chão da selva a umidade sobe, formando névoa, que o sol nascente atravessa, filtrando uma réstea de luz através das árvores. Despertam os insetos para recomeçar a vida. Entre as árvores deslizam, plácidas, as grandes borboletas azuis, de asas nacaradas, que parecem fantasmas perdidos nas verdes mansões da selva. Espantada pelos papagaios, uma cigarra de asas de vidro atira-se no ar e cai em cheio sobre uma árvore. Com mais barulho do que bom senso, os macacos  começam a palrar, enquanto buscam o alimento. Aves de todas as cores e tons apressam-se entre as árvores. Lá em cima há um súbito roçar de folhas, e um pássaro branco de neve rufla as asas, buscando um galho; de sua garganta branca vem um som que faz pensar no badalar de um sino. É a araponga, que desperta oficialmente a mata. FONTE: VON HAGEN, Victor W. Os animais da américa do Sul . São Paulo: Melhoramentos, [19--?]. p. 43-44., il. Araponga (à direita) J. T. Descourtilz. História natural das aves do Brasil. 1983

O galo-da-serra

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          [...]. Confesso que não pude me furtar ao pecado da inveja, máxime quando vi o coq-de-rocha. Não tivera ainda ocasião de admirar essa ave, quer em liberdade quer presa. E demorei-me a contemplar esse belo pássaro, de penas vermelhas, com uma crista da mesma cor. Uma coisa curiosa me chamou a atenção: engolia avidamente pimentas, sua alimentação habitual, e no mesmo instante botava-as para fora no mesmo estado em que as engolia. Deitei-lhes bolinhas de miolo de pão, e do mesmo modo as expeliu sem a menor deformação. Os índios afirmam terem visto esses pássaros, reunidos às beiras dos rochedos dançando em roda. [...]. Fonte: BIARD, Auguste François. Dois anos no Brasil . Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2004. p. 166-167. (Edições do Senado Federal; 13). Galo-da-serra ( Rupicola rupicola ) J. T. Descourtilz. Ornithologie Brésilienne, ou, Histoire des oiseaux du Brésil: remarquables par leur plumage, leur chant ou leurs habitudes . [1854-1856]. www.biodiversitylibrar

Copaíba: a que agrada a saúde

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            Ontem de manhãzinha atravessei o Andirá com um amigo de muitas águas. [...]. A viagem mal deu para cantar as virtudes, santas virtudes, de duas árvores nossas: a andirobeira e a copaibeira. Lindas e altaneiras, dão madeira da melhor. Mas o principal delas é um óleo de rico valor medicinal. O óleo da primeira é a andiroba, que se extrai da polpa do fruto exposta ao sol. O da copaíba se extrai furando o próprio tronco, que às vezes fica que nem barriga de mulher prenha, de tanto óleo. O homem chega e é só fazer um furinho: é óleo para muita garrafa. Ou por outra: para muita doença. São abençoadas essas árvores. A copaíba é poderoso antinflamatório, acaba com panariço, furúnculo: uma colherada em jejum alivia a queimação da úlcera.           A andiroba também desinflama, mas cura, melhor se morna, reumatismo de junta, bronquite e desmentidura de osso. É especial para mão desmentida. Mão nasce para ser boa. Se magoada mente. A andiroba cura a mentira da mão.           - Amadeu,

O ruído de uma cascata

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            [...]. Íamos a esmo e eu principiava a perder a coragem quando ouvi ao longe o ruído de uma cascata. Foi para mim como um toque de corneta para um cavalo de batalha. Desapareceram a fadiga e fui sair em meio de uma clareira aberta por uma derrubada. Em redor, árvores de grande porte, de troncos lisos e polidos, pouco verdejantes. Os cipós pareciam cordagens de navios, a ponto de nos dar tudo aquilo a ideia de uma mastreação numerosa, sobretudo quando a água nos envolvia. Essa água, lago ou charco, provinha da cascata cujo estrépito ouvira de longe; escura essa água como a do rio Negro e talvez tivesse a mesma origem. Disseram-me depois ser essa coloração atribuída à salsaparrilha, planta que cobre fartamente as terras banhadas por essas águas. Deixo aos cientistas decidirem se essa versão tem algum fundo de verdade. [...]. FONTE: BIARD, Auguste François. Dois anos no Brasil . Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2004. p. 164-165. (Edições do Senado Federal, 13). Sa

Pica-pau: o feiticeiro entre as aves

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         As aves que receberam entre nós o nome de picapaus, pinicapaus, eram pelos indígenas conhecidas sob o nome genérico de ipecu, merecendo certas espécies, denominações que as distinguiam dentre as demais, como ipecu-ati, ipecu-pará, ipecu-tauá, etc. [...]. Os picapaus possuem uma ínfima faculdade de voar. O seu voo é executado aos arrancos. Em geral levantam-se por vibrações de asas, mergulham, traçando, assim, no ar, arcos ondulados. Se é certo que a natureza não lhe concedeu a virtuosidade dos mestres cantores e lhe negou a volúpia dos grandes voos, nem por isso deixou de aparelhá-lo muito bem para seu gênero de vida. Todos seus órgãos a ela se adaptaram maravilhosamente [...]. O homem do campo, que também frequenta a mata, observando estas maravilhas do instinto, já que lhe não sabemos dar outro nome, surpreende-se e busca, fora da órbita do mundo real, uma explicação para as singularidades desta criatura, que sob aparência de ave talvez seja um avantasma benéfico, um gênio

Os Araçaris

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                  [...]. Dentre os quatro tucanos de pequeno tamanho, também chamados araçaris, encontrados nos arredores de Ega, o Pteroglossus flavirostris é talvez o de plumagem mais bonita, com seu peito todo cortado por largas listras de vibrantes tons escarlates e preto; mas a espécie mais curiosa de todas é o araçari-arrepiado, ou tucano de Beauharnais. As penas da cabeça desse pássaro singular se transmudaram em delgadas placas córneas, de lustrosa cor negra e encrespadas na ponta, lembrando aparas de aço ou de ébano e compondo no alto da cabeça um topete crespo parecendo uma peruca. O Sr. Wallace e eu encontramos pela primeira vez esse espécime quando subíamos o Amazonas, na altura da foz do Solimões; a partir desse ponto ele é encontrado com frequência, pelo menos na banda meridional do rio, até Fonte Boa, mas não me consta que tenha sido visto mais adiante, no rumo do oeste. Em maio e junho, quando já saiu da muda, ele surge em grandes bandos nas matas ao redor de Ega. Nunc

Beija-flores na flor da bananeira

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  [...]. Por entre as mimosas e sob o teto acolhedor das palmeiras voa o colibri, chamado beija-flor pelos brasileiros, indo e vindo de flor em flor, e enormes borboletas flutuam no ar em voos silenciosos e sonhadores. [...]. Mas ao explorador não é possível, logo ao entrar na floresta, apreciar esta multiplicidade de formas de vida; o que se move por trás das ameias verdes da floresta ele apenas ouve. O que se passa por trás do verdor e do cipoal impenetráveis só lhe é dado observar em raros casos esporádicos; só nas margens de algum rio ou na claraboia aberta pela queda de uma árvore poderá ter a sorte de vislumbrar os habitantes desses misteriosos labirintos. [...]. FONTE: CANSTATT, Oscar. Brasil : terra e gente (1871). Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2002. p. 60. (Coleção o Brasil visto por estrangeiros). Beija-flores na flor da bananeira John Gould.  A monograph of the Trochilidae, or family of humming-birds                 www.biodiversitylibrary.org