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Mostrando postagens de 2021

O açaí como planta medicinal

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                     [...]. A folha é o órgão vegetal mais utilizado no    preparo do produto medicinal, seguindo-se a raiz, a batata e o látex do caule. A aplicação dos produtos medicinais é principalmente interna (60%) contra 40% de uso externo. A interna é mais usada na forma de chás e sumos, enquanto a aplicação externa se dá como banhos, colocação do produto (sumo, folhas, etc. sobre o local afetado ou como inalação.              Algumas palmeiras, em escala menor, são também utilizadas na medicina caseira. O chá da raiz do açaí é considerado bom para reumatismo. As folhas jovens são usadas para cicatrização de ferimentos. Elas são batidas e espremidas dentro de um pedaço de pano, para extração do sumo, o qual é colocado diretamente sobre as feridas. O chá de pupunha ( Bactris gasipaes Kunth) é bom para dor de barriga. FONTE: LISBOA, Pedro L. B. Natureza, homem e manejo de recursos naturais na região de Caxiuanã, Melgaço, Pará . Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi, 2002. p 79. Aç

Vocabulário Ilustrado da Amazônia: Os paneiros de açaí

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          [...]. São vistos, pela manhã, paneiros e mais paneiros de açaí nas docas do Ver-o-Peso, na doca Souza Franco, no Igarapé das Almas, no Porto do Sal. O açaí: fruto pequenino como bola-de-gude, cor violáceo-escura. Milhares de carocinhos em cada paneiro, adquiridos bem cedo, para serem "amassados" antes do meio dia, a tempo de estar o açaí no almoço ou na merenda.              "Amassar" é um termo que vai perdendo o uso com a introdução de máquinas elétricas, substituindo o trabalho manual. "Amassar" porque os frutozinhos, depois de amolecidos  na água quente, são postos em alguidar e friccionados com as mãos. Isto faz desprender a polpa dos caroços em forma de uma pasta rubra, a qual se adiciona água até atingir a consistência desejável.           O ofício de "amassadeira" é tipicamente feminino. As máquinas elétricas de um tempo para cá vêm tornando-o cada dias mais raro na cidade, Ainda se encontra alguma "amassadeira" nos s

Uma deslumbrante visão

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          [...]. Uma das mais deslumbrantes visões que tive foi a ostentada por uma Bignoniacea que se destacava no meio de uma clareira resultante do corte de algumas árvores da floresta. Embora serrada perto da base, ela não tinha caído, ficando suspensa entre duas árvores mais altas, sustentada por cipós. As duas árvores que a sustentavam estavam separadas umas 40 jardas [36, 5 m] entre si, e os cipós que seguravam a Bignoniaceae formavam uma graciosa corrente toda enfeitada com flores cor-de-rosa semelhantes às da dedaleira, sendo esse arranjo floral complementado por grandes folhas geminadas de coloração verde-escura puxada a púrpura.  FONTE: SPRUCE, Richard. Notas de um botânico na Amazônia . Belo Horizonte: Itatiaia, 2006. p. 55. Bignonia binata. The Garden . 1886.  www.plantillustrations.org

As grandes borboletas azuis

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          [.. .]. Na manhã seguinte, prosseguimos pelo igarapé acima até que deixamos para trás a última casa. Daí em diante seria  a selvagem, indomada e desabitada floresta virgem. O igarapé era estreito e meândrico. Sua correnteza era muito forte, especialmente nas curvas. O leito estava em muitos pontos obstruído por árvores e arbustos caídos. Como as galharias das árvores quase se encontravam por cima das águas, todo o igarapé parecia sombrio e silencioso a mais não poder.         Num ambiente assim tão lúgubre, só muito raramente avistávamos alguma flor. Víamos ocasionalmente, adejando sobre as águas ou pousadas numa folha, as grandes borboletas do gênero Morphos . De vez em quando passava por nós, voando velozmente, um numeroso bando de arirambas-verdes. FONTE: WALLACE, Alfred Russel. Viagens pelos rios Amazonas e  Negro . Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; São Paulo: Ed. Universidade de São Paulo, 1979. p. 87. (Reconquista do Brasil, v. 50).  Borboleta do gênero  Morpho Ilustração d

Multidões de garças

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               [...]. Já de longe avistamos multidões de  garças de toda a espécie nas extremidades dos galhos por cima das largas copas das árvores, e quanto mais perto chegamos, maior número vemos de ninhos chatos, grandes como rodas de carros, e que aparecem como manchas escuras por entre a ramagem rala do mato.                  Em cada árvore contamos dúzia deles.         O barulho torna-se cada vez mais ensurdecedor: ao penetrar na floresta julga a gente ter caído em um bródio de bruxaria.             Garças brancas, grandes e pequenas, garças morenas, arapapás, maguaris, colhereiros, cauauans, guarás, mergulhões grandes, cararás, tudo ali vive em confusão, na mais variada promiscuidade, ao lado e por cima uns dos outros, na mesma árvore, na qual muitas vezes em uma só há diversas colônias de ninhos de meia dúzia de espécies.      O cacarejar, o bater de bico, fungar, proferido simultaneamente por milhares de gargantas é interminável. E apesar de certos costumes sociais, por exemp

Acampamento noturno na selva tropical

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          A natureza que aqui nos falava com sua total grandeza, imensa e invencível, de repente, majestosamente, nos mandou parar. Estávamos diante de uma massa rochosa que se erguia verticalmente para o alto. Era um único bloco gigantesco, de umas centenas de metros de altura. Já estava anoitecendo.              Descemos e acampamo-nos junto do Tuisíca - Igarapé, que estava rumorejando, no meio da selva tropical. Estávamos sujos e molhados. E também as redes e os cobertores estavam pesados, de tão úmidos que estavam. Muitos mosquitos, grandes e pequenos, e a desagradável mudança da temperatura noturna que sentíamos dentro das nossas coisas molhadas não permitiam repousar melhor.           Estávamos deitados debaixo de um grupo de "paxiúbas-barrigudas", assim denominadas por causa de um engrossamento do tronco, uma certa altura acima do chão. Estas palmeiras não prestam para construção da casa, mas são boas para construir uma canoa, num caso de emergência. De cada palmeira p

Sapopema

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          Erguia-se agora , à margem do "varador", alta gruta de raízes, que uma só árvore lançava. Templo imaginário de povo que inspirasse a sua estética arquitetônica em esquisitos monumentos orientais, oferecia a quem nele se recolhesse postigos inumeráveis, portas de linhas irregulares e salas onde seis homens podiam   estender a toalha e almoçar, ou puxar de cartas para o jogo que ludibriasse a horas em longos dias de chuva!           -É uma sapopema - explicou Firmino, vendo Alberto a observar o raizedo enorme, que se espalmava em lâminas, grossas como paredes, e se retorcia também, decorativamente, em cordame manuelino. -  Se um dia você se perder, bata neste pau, que logo algum seringueiro lhe responde.             Tirando da bainha o seu facão o mulato deu com ele algumas pancadas no monstro vegetal. O som repartiu-se nas galerias interiores e em eco surdo, foi traspassando a selva e alarmando o silêncio por léguas que dir-se-iam sem fim. FONTE: CASTRO, José Maria F

Um encanto de vegetação

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          [...]. Ao amanhecer, ficamos algum tanto afastados de terra para dentro do rio, que se assemelhava ao oceano, por causa dos seus desagradáveis e fortes balanços, o que me obrigou a levantar-me muito lânguido e muito cansado do meu esconso leito.          Cerca das dez horas, alcançamos a boca do igarapé, ou pequeno rio, pelo qual deveríamos entrar e subir. Fiquei, desde logo, muito contente de ter entrado em águas tranquilas.           Paramos para almoçar em um bonito lugar, debaixo de uma linda árvore, onde saboreei uma xícara de café com biscoitos, enquanto os homens se fartavam de peixe e de farinha. [...].           Fiquei deveras encantado ante a beleza da vegetação. Esta ultrapassava tudo que eu até então tinha visto. A cada volta do rio, algo de novo se nos apresentava.           Ora um enorme cedro, que pendia sobre as águas, ora uma enorme árvore de algodão-seda que se destacava, como um gigante, acima da floresta.           Viam-se continuamente as esbeltas palmeir

A Anhuma e seu grito de alarme

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                 [...]. Para garantir a sobrevivência desses belos espécimes da fauna, criou a natureza uma preciosa atalaia: a "Anhuma" que desempenha este papel com grande critério. Empoleirada numa das mais altas encipoadas copas de árvore, ela descortina o horizonte e devassa o curso do rio. Quando uma canoa ou ubá se aproxima pelo último ou quando alguém sorrateiramente emerge de uma mata para negacear a caça que, descuidada, se nutre, esta guarôa, correligionária do "Curupira", solta o seu estridente grito de alarme. "Tân-gente", e, no mesmo instante, podem-se ver todos os animais, atentos, largando em fuga. Patos, marrecos, macacos, arancuans, jacutingas, veados, capivaras, antas, onças e tudo que ali vive, obedece a este sinal. Até o teimoso jacaré levanta a cabeça, pisca os olhos e deixa-se escorregar mansamente para a água, onde submerge. Quando a segurança é geral, a "Anhuma", piedosa abre as longas asas, dotadas de esporões, e desliza

Uma paisagem deslumbrante

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         Fizemos excelente viagem, tendo sido atingidos apenas por dois ou três fortes aguaceiros de curta duração, como só acontece nos trópicos. A paisagem torna-se cada vez mais deslumbrante, o rio com uma infinidade de trepadeiras de coloração verde brilhante, com claro aqui e acolá, onde surge uma palmeira ou grupos de aráceas com folhas avantajadas. Por todos os lados impera a mata, soberana e virgem, como que saindo de um mundo a parte, no qual o elemento predominante é a água. No horizonte grossas nuvens ornamentam o céu, desabando curtos temporais de quando em quando. A planície é imensa e a solidão extrema. FONTE: CARVALHO, José Cândido Melo. Notas de viagem ao Rio Negro. Publicações Avulsas do Museu Nacional , Rio de Janeiro, n. 9, p. 13, 1952.   Caladium  bicolor Delaunay, M., Loiselem-Deslongchamps, J. L. A. Herbier général de l´amateur , t. 7, 1824.  www.plantillustrations. org

Um novo espetáculo para mim

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          Fiquei apreciando, por longo tempo, esse espetáculo novo para mim, quando, de repente, compridas sombras das palmeiras indaiás ( Maximiliana regia ), estenderam-se sobre os campos, fazendo-me lembrar a noite que se avizinhava e a volta para casa. Entretanto eu quis ainda ver primeiramente uma várzea para onde tinha visto voarem bandos de   frangos-d´água e patos. Beirei uma ipueira rasa e em breve estava diante de uma pequena lagoa de águas cristalinas, cercada de arundináceas de folhas largas e de possantes aruns. [...]. FONTE:   SPIX, J. B. von ; MARTIUS, C. F. von. Viagem pelo Brasil - 1817-1820 . 2. ed. São Paulo: Melhoramentos, [1961]. v. 3, p. 52.  Arum maculatum  Kops, J. Flora Batava 14. 1872. www.plantillustrations.org

As cássias e seus lindos cachos de ouro

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         À medida que avançamos, observam-se propriedades melhores. Fazendolas cercadas de cacauais e em que as casas se destacam num terreiro bem bem limpo, onde viçam cuités, mangueiras e bananeiras. Em um ou outro ponto, cabeças de gado no pastoreio. Aqui, também os currais são feitos sobre jiraus, para as longas invernadas, quando a água invade tudo e a criação precisa ser posta ao abrigo dos dilúvios periódicos. Junto de um desses mutás, algumas cássias - os maris maris da região - com lindos cachos de ouro. Igualmente floridas as mongubeiras. E floridas de tal modo que, de longe, mais se diriam mangas rubras o que pende à ponta dos seus galhos. Defronte de uma palhoça, afogada por muita palma de pupunheira, algumas mantas de pirarucu secando ao sol. [...].   FONTE: CRULS, Gastão. A Amazônia que eu vi : Óbidos-Tumucumaque. 2. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1938. p. 17. (Biblioteca Pedagógica Brasileira. Série 5a. Brasiliana, v. 118). Cassia occidentalis M. E. Descourti

Os cipós

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         Os verdadeiros cipós, cujo tronco principal tem o mesmo crescimento exagerado que nos arbustos-cipós se observa só em certos galhos, influem mais na fisionomia da vegetação litoral dos furos que estes. São principalmente as Passifloraceas e as Bignoniaceas [...], que envolvem os troncos e descem em elegantes festões das copas de árvores altas, produzindo aqui e acolá aquelas cortinas de verdura matizadas de flores brancas, roxas ou cor de rosa que tanto impressionam o viajante. Munido om gavinhas , como estes cipós, encontramos ainda o Cissus sicyoides L. que entre todos os seus congêneres tem a particularidade de poder desenvolver raízes aéreas que, tais como fios suspensos, descem verticalmente dos galhos mais altos. [...]. FONTE: HUBER, Jacques. Contribuição à geographia physica dos furos de Breves e da parte occidental de Marajó. Boletim do Museu Paraense de Historia Natural e Ethnographia (Museu Goeldi), Belém, t. 3, fasc. 1-4, p. 488, 1902. Bignonia purpurea   The Ga

Os japiins cantam contentes

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          Na ramaria assanhada da sumaumeira da barranca, onde fizeram o seu ninho entrincheirado atrás de três casas de formigas-de-fogo e de cabas, os japiins cantavam contentes, numa algazarra de festa: "xa-ço-xa-ço ... Arremedando todos os pássaros, imitando todas as vozes da selva brava, os japiins conservam, através dos tempos, nas solidões amazônicas, as canções do folclore ornitológico das matas virgens... FONTE: PEREGRINO JUNIOR. A mata submersa e outras histórias da Amazônia . Rio de Janeiro: Livraria José Olympio, 1960. p. 36. Japiim   Swainson, William. A selection of the birds of Brazil and Mexico -  the drawings, 1841.  www.biodiversitylibrary.org

O encontro com uma onça

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         [...]. Agora tínhamos que circunavegar a ponta norte da Ilha das Onças que ficava defronte do Pará. Rumamos para lá, primeiro com a maré rio acima, no que o vento contrário do mar, porém, nos atrasava muito, porque em luta com a corrente provocava ondulações; já tínhamos também feito a triste experiência de que devido ao grande excesso de peso na proa, que o barco recebera em consequência da má distribuição da carga, o leme quase sem ação. Por muito tempo ainda as luzes do Pará brilharam atrás de nós, parecendo flutuar no rio; no entretanto, a maré nos aproximava da ilha, de maneira que prosseguimos ao longo da escura floresta. Por fim, depois de muitas horas de árduo trabalho com os curtos remos índios, avistamos diante de nós uma luz à esquerda: o Furo (canal) da Ilha das Onças, na ponta norte da ilha, [...]. Rumamos diretamente para lá;  a nossa esquerda ficava a Ilha das Onças, da qual se estende um banco no canal, e à direita a ilhota "do Fortim". [...].        

Uma ilha coberta de imbaúbas

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               O banco arenoso estava sendo coberto pelas águas com a cheia do rio; em plena estação seca tem cerca de uma milha de comprimento por meia milha de largura. Os canoeiros adoram estes espaços abertos, que são grande alívio à monotonia da floresta que reveste a terra em todas as outras partes do rio. Mais para o ocidente são mais frequentes e mais extensos. Ficam geralmente na ponta superior das ilhas. Estas, de fato, originam-se dos depósitos de matéria vegetal, formada pelas plantas e árvores que crescem num baixio. A ilha estava coberta de imbaúbas ( Cecropia peltata ), de tronco oco e casca lisa. Suas folhas são de aspecto semelhante ao das do castanheiro, mas imensamente maiores; a face inferior é branca, e quando o abençoado vento geral sopra, elas mostram suas faces prateadas, bom sinal para o canoeiro fatigado. O modo de crescimento desta árvore é curioso: os ramos nascem quase em ângulo reto com o tronco, os ramos menores formam círculos menores em torno deles, e a

Esplêndido espetáculo

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             Saindo de Vila Bela, aproamos a noroeste, para atravessar o rio em diagonal. E perto das 5 horas, aproximávamo-nos da margem esquerda: fértil, e bem cultivada, exibia-nos suas bananeiras de longas folhas, de fartos cachos e rematadas por um tubérculo de tom violeta dos mais belos que tenho visto. Sem conta também os coqueiros cujas nozes encerram um líquido branco e doce como leite; campos de milho, laranjeiras, cacaueiros. Por toda parte ramos de flores agrestes, tufos de verdura, árvores frutíferas. Aquele conjunto de plantas da natureza virgem e das semeadas pelo homem constituía esplêndido espetáculo. [...]. FONTE: BIARD, Auguste François. Dois anos no Brasil . Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2004. p. 160. (Edições do Senado Federal, 13).   Bananeira ( Musa paradisiaca) Merian, Maria Sibylla.   Metamorphosis insectorum surinamensium . [1705].  www.pinterest.com

Os Cipós

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             [...]. No Brasil, as trepadeiras têm em todas as províncias o nome genérico de cipó. Sem haver viajado pelos grandes bosques do interior ou da costa oriental, é  impossível imaginar o aspecto selvagem e grandioso que às paisagens dão certos cipós: variados ao infinito em seu porte, em sua folhagem e na maneira extraordinária porque vão lançar caprichosamente seus braços gigantescos  no meio de árvores seculares, que estranguladas por eles algumas vezes fenecem; interrompidos com frequência no seu crescimento por rochedos, que recobrem de flores, para subirem ao topo das suas maiores árvores, antes de penderem em longos filamentos, por toda a parte oferecem o aspecto mais bizarro e quase sempre uma vegetação cheia de elegância. Aqui é uma multidão de cordoalhas, pendentes e entrelaçadas, semelhantes às complicadas manobras de um navio! Acolá são ramos verdejantes, balançando suas guirlandas floridas, que servem de abrigo às aves que muitas vezes gostam de ali localizar seu

Borboletas de brilhantes cores

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            [...]. Cassias  de elegante folhagem penada e de vistosas flores formavam a grande proporção das árvores mais baixas, e aráceas arborescentes cresciam em touceiras em torno dos charcos. Por cima de tudo voavam borboletas de brilhantes cores, em bandos como nunca tínhamos visto. Algumas eram inteiramente amarelas ou alaranjadas ( Callidryas ); outras de asas excessivamente alongadas, coloridas de azul, rubro e amarelo ( Heliconias ) cortavam o ar horizontalmente. Uma espécie de magnífico verde claro ( Colaenis dido ) chamou especialmente a nossa atenção. Perto do chão, atraídas pelas flores de numerosas leguminosas e outras ervas, esvoaçavam muitas outras espécies menores, semelhantes no aspecto às nossas. Fora das borboletas havia poucos outros insetos, exceto libélulas, que apareciam em profusão, e parecidas no aspecto com as espécies inglesas mas algumas eram nitidamente diferentes, por suas cores de um vermelho rutilante. FONTE: BATES, Henry Walter.  O naturalista no ri

As folhas trementes e delicadas das Mimosas

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           Muitas das gigantescas árvores da floresta têm folhas tão delicadas, como as trementes Mimosas , pertencendo, como estas mesmas, à numerosa família das Leguminosas , ao passo que as Cecropias , com suas enormes folhas palmadas, e as Clusias , com as suas luzentes folhas ovais, e cem outras formas intermédias, proporcionam bastante variedade.              E a intensa luz solar, por cima das suas copas, tudo banhando, enquanto as mais densas sombras reinam por baixo, aumenta a grandeza e a solenidade do cenário.           As flores eram raras e esparsas, algumas pequenas orquídeas, ervas rasteiras, aqui e ali um arbusto fluorescente, foi tudo que vimos ao lado do caminho, quando íamos passando [...]. FONTE: WALLACE, Alfred Russel. Viagens pelo Amazonas e Negro . Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2004. p. 60-61. (Edições do Senado Federal, v. 17). Mimosa pudica Britton, N. L. ; Horne, F. W. Popular flora of Puerto Rico, Flora Borinqueña . t. 449.  www.plantillustrat

A Alma-de-gato (Piaya cayana)

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          A Alma-de-gato vive tanto na mata densa como na borda da mata, e aparece sem grande esquivança nos jardins e nas sebes. Seu voo é consideravelmente mais agradável, mais seguro, não hesito mesmo em chamá-lo elegante. Nos últimos anos tenho observado repetidas vezes em liberdade esta ave bela, e eminentemente útil, [...]. Tenho ficado admirado da extrema capacidade de modulação de sua voz. O que ela decanta, quer na macega densa, quer na copa de qualquer árvore alterosa da mata, azafamada na casa de insetos - exprimi-lo em língua humana parece-me empresa desesperadamente difícil. Acredito andar melhor declarando que este Cuco é um mofador, que imita à sua maneira a voz das outras aves e possui em seu repertório  uma compilação das obras musicais de seus companheiros de mata.   FONTE: GOELDI, Emílio A. As aves do Brasil . Rio de Janeiro: Livraria Clássica, 1894. p. 161-162. Chincoã (Alma-de-gato) à direita - Saci - Anu - Quirirú Álbum de aves amazônicas . 1900-1906. Ilustração d

As penas da cauda do Urubu-Rei

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                    Se o ninho do Cauré afugenta a urucubaca, tira panema e propicia encontros felizes, sucesso nos negócios, a pena do Urubu-Rei dá sorte ao caçador. A plumagem do corpo da ave não tem a mesma virtude, não serve como talismã [...].           As penas da cauda são as que servem. É preciso, por outro lado, que a pena se desprenda quando o Urubu-Rei está voando ou voltejando, momento este considerado o em que no ar, espreita e fareja a presa. Matá-lo para consegui-la, nada adianta.      Meu tio Zé Ferreira foi um dos maiores caçadores do Trombetas. Tanto era extraordinário na caça como na pesca. Tanto pescava tucunaré de "pindu-nau-áca" nos rios ou lagos, como o caçava de rifle nos igapós. Nunca desceu de um "mutá" que não fosse para recolher a presa, quer esta fosse uma anta ou veado atraído à "comedia", que fosse uma ave de poleiro alto seduzida pela "negaça".      Os caboclos sempre diziam que o "seu Ferreira" tinha &qu

Belas palmeiras

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           O mundo das palmeiras nas margens do Pará e do Amazonas tem caprichos peculiares. Quase usurpam sozinhas todo o solo, muitas vezes até mesmo uma única espécie, trechos inteiros de margem. A margem do Tocantins, poucas milhas a leste, no canal do sul, mais abaixo da Ilha de Marajó, era toda uma floresta de miritis, entremeada de muitas esguias euterpes. E agora, embora descobrisse sempre ambas as belas palmeiras encontrei verdadeira mata de fronde, sobre um solo mais firme e menos atingido pelas cheias do rio. FONTE: AVÉ-LALLEMANT, Robert. Viagem pelo Norte do Brasil no ano de 1859 . Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1961. v. 2, p. 59-60. (Coleção de Obras Raras, 7).  Palmeiras Açaí e Miriti Ilustração de Eron Teixeira

Travessia sob um bambuzal

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          [...]. O vale vai se estreitando à medida que se aproxima das cabeceiras do igarapé e a mata se tornando mais cerrada. O caminho aquático também diminui de largura e fica mais sinuoso por causa das árvores, agora mais juntas umas das outras. Os galhos de algumas delas se espalhavam pouco acima de nossas cabeças e se apresentavam carregados de epífitos; uma orquídea me chamou a atenção particularmente, por causa de suas flores amarelo-vivo, que brotavam da ponta de hastes de vários metros de comprimento. Alguns troncos, principalmente os das palmeiras, estavam cobertos logo abaixo da coroa por densos tufos de lustrosos potos de folhas em forma de escudo, de mistura com samambaias. Naquele ponto nós nos achávamos, de fato, no coração da floresta virgem. Não ouvíamos o menor rumor de vida animal nas árvores, e só vimos um pássaro azul-celeste empoleirado solitariamente no alto de um galho. Durante um certo trecho era tão errada a vegetação baixa que o caminho passava sob uma  ab

O nosso mundo vegetal

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         [...]. O nosso mundo vegetal, por via de regra dissociado, congrega-se em família quando se trata daqueles destinados à pasta de papel e que se chamam aninga e embaúba.           A primeira, aninga ( Montrichardia arborescens Schott. Araceas) é uma qualidade de arum gigante, de caule escuro, fusiforme, alto de 4 metros, sem galhos, com um tufo verde de folhas em coração no tope. Medrando em sociedade, forma verdadeiras paliçadas no beiço dos taludes e ravinas! Constitui renques de estacas vivas destinados pela natureza a reter o plasma telúrico que levantará o colo da terra. Suas fibras claras e longas como crina de cavalo, depois de maceradas e submetidas à lavagem química, dão folhas sedosas, finas e belas de papel.           Entretanto, a árvore por excelência no assunto é a embaubeira ( Cecropia , Moracea), da qual se contam mais de dez tipos na planície, e, em vez do tijuco onde prolifera a aninga, vive na meia lua das praias, sobre o rebordo da areia fina formando cicl

Infinitas mudanças de arranjos florestais

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            Olhando de cima para essas florestas, e outras similares nas províncias adjacentes, elas nos parecem todas iguais, porém cada seção delas quando examinada de perto, é diferente de sua vizinha. Há miríades de árvores, arbustos, videiras e palmeiras, fetos, parasitas e orquídeas, cuja quantidade e variedade produzem infinitas mudanças de arranjos e consequentemente, a descrição mais minunciosamente detalhada de um atalho ou do interior de qualquer parte da floresta, variava totalmente de outra a doze jardas de distância. Todavia, observando-se da altura o conjunto completo, vê-se uma quantidade e variedade de árvores que, por sua cor conspícua de folha, ou flor, ou pela forma, absorvem os detalhes menos distintos; por exemplo, a esguia e alta imbaúba de tronco oco, com suas grandes folhas peltadas, verde-claras por cima e branco-prata na parte de baixo, é um dos aspectos mais salientes, especialmente quando a brisa agita suas folhas em lampejos de verde e prata; depois há as

As saborosas castanhas

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         [...]. Quem não ouviu já falar do "Jequitibá", da "Castanheira do Pará" ou ainda do "Mangue Vermelho" ou da "Amendoeira"? Qual o poeta de nossa terra que não se viu já tentado a lhes dedicar poesias? Elas são tipos bem conhecidos das nossas florestas. Exemplos que os leigos buscam quando querem mostrar que conhecem as selvas e seus componentes. "Jequitibá", árvore altaneira e soberba, serve bem para nós do sul como exemplo da grandiosidade das nossas florestas, mas no norte ela é sobrepujada pelas "Castanheiras" de saborosas castanhas, conhecidas como do Pará. Os seus grandes pixídios, que não se abrem como os das "Sapucaias", quando despencar dos ramos, roçam os galhos das árvores menores em que tocam e enterram-se no solo úmido produzindo estouros que alarmam aos viajantes que nunca os viram. Do rio em que se viaja, podem as Castanheiras do Pará ser apontadas, pois sobrepujam as outras árvores, elevam-se a

Clusias e suas luzentes folhas ovais

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     [...] Olhando-se para cima, com as suas folhagens curiosamente espalhadas, em violento contraste com o céu claro, é este um dos admiráveis característicos das florestas tropicais, já repetidas vezes referido por Humboldt.            Muitas das gigantescas árvores da floresta têm folhas tão delicadas, como as trementes Mimosas , pertencendo, como estas mesmas, à numerosa família das Leguminosas , ao passo que as Cecrópias com suas enormes folhas palmadas, e as Clusias , com as suas luzentes folhas ovais, e cem outras formas intermédias, proporcionam bastante variedade.      E a intensa luz solar, por cima das suas copas, tudo banhando, enquanto as mais densas sombras reinam por baixo, aumenta a grandeza e a solenidade do cenário.      As flores eram raras e esparsas, algumas pequenas orquídeas, ervas rasteiras, aqui e ali um arbusto fluorescente, foi tudo que vimos ao lado do caminho, quando íamos passando. FONTE: WALLACE, Alfred Russel. Viagens pelo Amazonas e rio Negro . Brasíli

Tão maravilhoso espetáculo!

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            [...]. Há auroras e ocasos do sol de um colorido inesquecível: a contemplação das verdes frondes em que se refletem os raios purpúreos do astro-rei; o cântico dos pássaros; a brisa suave que acompanha estes fenômenos, do nascer e do por do sol são impressões que jamais se apagam da memória de quem tenha tido o privilégio de desfrutar tão maravilhoso espetáculo! Não é indispensável que o ente humano possua temperamento poético, para sentir-se enamorado de tamanha beleza! São, na verdade, difíceis de olvidar estas tardes serenas em que navegamos a favor da corrente (à bubuia) pelo majestoso Guaporé, sem remar, ou remando suavemente, em frágeis igarités, para contemplar suas formosas margens, quase impossíveis de serem pintadas por artistas de reconhecida competência na difícil arte de combinar as cores, tal a quantidade de lírios, de flores raras e de multicores orquídeas, que causariam inveja aos botânicos apaixonados. FONTE: PRADO, Eduardo Barros. Eu vi o Amazonas . Rio de

Um tangará negro e escarlate

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         [...]. Ao passarmos pela extremidade ocidental dessa ilha, apareceu de novo a terra firme, sob a forma de barrancos altos e rochosos, cobertos por uma magnífica mata de contornos arredondados e que se estendiam por trinta quilômetros até a foz do Rio Negro, do qual passam a formar a margem oriental. Muitas casas de colonos, construídas em pontos elevados e cobertos de mata, davam agora vida às margens do rio. Uma das primeiras coisas que chamaram a nossa atenção foi um lindo pássaro que ainda não conhecíamos, o tangará negro e escarlate ( Ramphocelus nigrocularis ), que voava em bandos em torno das árvores à beira d´água, com sua plumagem cor de chama iluminando o verde sombrio das folhagens.  FONTE: BATES, Henry Walter . Um naturalista no rio Amazonas . Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1979. p. 131., il. (Reconquista do Brasil, v. 53).   Pipiras - Saís - Tem-Tens Álbum de Aves Amazônicas - 1900-1906. Desenho de Ernst Lohse (1873-1930) www.biodiversitylibrary.org