O nosso mundo vegetal

        [...]. O nosso mundo vegetal, por via de regra dissociado, congrega-se em família quando se trata daqueles destinados à pasta de papel e que se chamam aninga e embaúba.

        A primeira, aninga (Montrichardia arborescens Schott. Araceas) é uma qualidade de arum gigante, de caule escuro, fusiforme, alto de 4 metros, sem galhos, com um tufo verde de folhas em coração no tope. Medrando em sociedade, forma verdadeiras paliçadas no beiço dos taludes e ravinas! Constitui renques de estacas vivas destinados pela natureza a reter o plasma telúrico que levantará o colo da terra. Suas fibras claras e longas como crina de cavalo, depois de maceradas e submetidas à lavagem química, dão folhas sedosas, finas e belas de papel.

        Entretanto, a árvore por excelência no assunto é a embaubeira (Cecropia, Moracea), da qual se contam mais de dez tipos na planície, e, em vez do tijuco onde prolifera a aninga, vive na meia lua das praias, sobre o rebordo da areia fina formando ciclópicos diademas de folhagem. Existem a Cecropia paraensis, a palmata, a robusta, a scabra, a sciadophylla, além das que não me ocorrem no momento. Umas têm as folhas todas verdes, outras clorofiladas por cima e branco-gesso por baixo. Os feitios em trevo e em estrela abrem logo contrastes, mesmo no espírito mais ignorante em botânica, de modo a se perceber de longe a variedade. Seu perfil recorda um candelabro que tivesse a parte alta em tons esmeraldinos e a haste e os braços barrados a cal. Viça em toda a parte. E mal se abre um roçado na hinterlandia ela surge logo trazida nas asas do vento e no bico dos pássaros.

        Conhecida como árvore de trombeta, os índios fazem dela instrumentos de música. Dentro de seus ramos mora a formiga de fogo. Os índios comem-lhe os frutos e os caboclos extraem-lhe o carvão. Além disso é a madeira que dá o maior rendimento de celulose, que é a base do papel. Fora das florestas infindas dos campos, dos igapós, as baixadas paraenses vivem fartas de outros indivíduos florais apropriados à massa, e que só esperam pela mão do homem. [...].

FONTE:

MORAIS, Raimundo. Alluvião. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1937. p. 192-194.



Cecropia sp.
Ruiz, H.; Pavón, J. Drawings of the Royal Botanical Expedition to the viceroyalty of Peru (1777-1816).

www.plantillustrations.org

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