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Mostrando postagens de junho, 2020

Ararajuba ou Guaruba

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"[...]. O guaruba, bem diferente pelas tintas vivas de sua plumagem, da espécie amarelo-palha ou citrino que usurpou seu nome, é ave do Pará, rara e assaz desconfiada, dificilmente permitindo aproximação. Vive aos casais que não frequentam senão os campos mais quentes e, raramente, as matas das montanhas que os molduram. Passa boa parte do dia nas plantações de milho, vegetal a que os papagaios votam particular predileção e, pela manhã, e à noite, refugiam-se nas massas de verdura  que orlam os grandes cursos d´água, ali encontrando frutos de que se alimentam, notadamente a sapucaia ( Lecythis ) a cujo fruto, estes últimos apreciam sobremodo as amêndoas saborosas que ela encerra. [...]". FONTE: DESCOURTILZ, J. T. Historia natural das aves do Brasil :ornitologia brasileira. 2. ed. Belo Horizonte:Itatiaia, 1983, p. 53. Ararajuba comendo os frutos da  sapucaia. Descourtilz, J. T. Oiseaux brillans du Brésil , 1834. www.biodiversitylibrary.org

Perdidos na floresta

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"[...]. Depois de subir e descer colinas e transpor baixadas, varando moitas intricadas de bambus e de palmeiras murumuru, dotadas de terríveis espinhos de algumas polegadas de comprimento, prosseguimos a caminhada durante algumas horas, até que eles revelaram estar em dúvida quanto ao caminho a seguir. Três vezes subiram em colinas mais altas para tentar avistar a serra, mas em vão. Além de não a enxergarem, também perderam a referência do rio.  Ao meio dia, depois de caminharmos durante 6 horas seguidas, paramos para deliberar, quando dois dos homens, sem dizer uma palavra sobre suas intenções, decidiram retroceder pela trilha até o acampamento. Minha experiência nas trilhas da floresta amazônica ainda era incipiente, e eu não imaginava como seria essencial nunca perder de vista meus guias indígenas. Supus (erroneamente, como mais tarde vim a constatar) que o rio não estaria muito distante, e que poderíamos atingi-lo facilmente acompanhando o curso de um dos numerosos igarap

As aves que encontramos em um igarapé

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"Nossa viagem pelo igarapé acima foi ótima. É um riozinho estreito, de águas escuras, profundo, atualmente cheio e correndo muito. Dos lados, a mata é alta e densa, rica em embaubeiras, jenipapo, açaís, jauaris e ingazeiros, tão comuns nas beiras dos rios desta zona. De vez em quando, destacava-se uma seringueira ( Hevea brasiliensis Muell. Arg.), de caule branquicento e folhagem inconfundível. Com a nossa passagem, voavam, a cada instante, os grandes anus-coroca, de coloração metálica, muitos bem-te-vis ( Pitangus sulphuratus sulphuratus (Linnaeus, 1776), urubus de cabeça vermelha [...], araçaris, japus e aves menores". FONTE: CARVALHO, José Cândido de Melo. Notas de viagem ao Javari-Itacoari Juruá. Publicações Avulsas do Museu Nacional, Rio de Janeiro, n. 16, p. 16, 1955. Anu-coroca - Saci - Alma-de-gato. J. Th. Descourtilz. História natural das aves do Brasil : Ornitologia brasileira . 1983.

A fabulosa riqueza amazônica

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"[...]. As grandes árvores e plantas de crescimento parasitário entrelaçam a sua folhagem em confusão, algumas trançando-se com cordas de várias pernas, enquanto outras são enroladas de mil modos em torno dos caules, formando malhas gigantescas nos fortes galhos superiores. Outras, ainda, sobem em ziguezague até galgarem as vertiginosas alturas em que vivem. Nessas regiões superiores dos ramos, onde o cume das árvores goza do ar livre, da luz e do calor dos sóis tropicais é que se devem procurar as flores e os frutos das grandes florestas. Embaixo, tudo é escuro, mofento e cavernoso, sem que o solo úmido e os recessos sombrios sejam alindados pelo brilho das flores ou pelo verde das ervas. É aí que ficam as seringueiras, que produzem a borracha, as castanheiras, que dão a gostosa e nutritiva castanha-do-Pará , o guaraná , com os seus frutinhos substanciosos, e uma infinidade de palmeiras de utilidade múltipla como o açaizeiro , que produz grandes bagas com as quais se prepa

Allamanda nobilis

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"Os frutos de várias Malpighiáceas, Poligonáceas, etc. possuem aletas de cor vermelha berrante, que, à distância, até parecem flores. Todavia, o mais extraordinário exemplo de fruto que lembra uma flor é o das cápsulas de certas paineiras, que se abrem estreladamente por meio de valvas, liberando a paina que é levada pelo vento sob a forma de flocos redondos, os quais à distância, lembram rosas ou dálias. Muitos dos antigos missionários chegaram a afirmar que essa espécie de algodão seria produzida por uma flor, mas já vimos aqui que a verdadeira flor dessa tribo vegetal costuma ser grande e conspícua. A maioria das Apocináceas e Asclepiadáceas têm longas vagens fusiformes que se rompem de comprido, deixando escapar suas sementes enrugadas, cujas extremidades são revestidas por um tufo de penugem longa e sedosa. (...). As Mirtáceas e Melastomáceas costumam produzir frutos conspícuos semelhantes a morangos, de cor amarela, vermelha ou preta, cujo tamanho varia entre o de uma

As aves do rio Cuminá

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"Bela manhã, após uma madrugada algo chuvosa; foi esta sem dúvida a noite mais atribulada que tivemos em toda a viagem; acampáramos algo premidos por incômodos de ventre; mal tínhamos começado a dormir, surgiu-nos anta por um lado, e onça por outro; de madrugada chuva! Ficou desde aí estabelecido que não mais pernoitaríamos à boca de igarapé. Às 6 horas partimos rio abaixo. Uma hora depois registramos uma jacutinga; tucanos-cachorrinhos ( Ramphastos tucanus ), pequenos, pretos de papo branco e olhos azuis; esses tucanos são frequentes aqui, e aliás os únicos tucanos que temos visto". FONTE: Sampaio, A. J. de. A flora do rio Cuminá: resultados botânicos da Expedição Rondon à serra  Tumuc-humac em 1928. Archivos do Museu Nacional , Rio de Janeiro, v. 35, p. 189, 1933. Tucano de papo branco num cajueiro. Desenho pertencente à Viagem Filosófica ( 1783-1792) de Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-1815)

Uma planta digna de menção: a Victoria-regia

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"Os prados flutuantes são, sem dúvida, um tipo de vegetação que causa grande impressão em quem os vê pela primeira vez. Foi, pelo menos, o que se deu comigo. Ao ver um desses prados, temos a noção de terra firme; passando, entretanto, o navio nas suas proximidades, a vaga produzida pela embarcação o faz ondular com espanto do observador. As porções destacadas desses campos suspensos na água são às vezes, tão abundantes, que as embarcações, cortando-as frequentemente, chegam a reter na quilha tal quantidade de canarana que se torna necessária fazê-las parar a devida limpeza. Chamam-se "camalotes" esses fragmentos de canarana que flutuam rio abaixo, como ilhas verdes. Em alguns lagos da bacia do Amazonas, existe ainda uma planta de certo digna de menção -  a "Victoria regia", Nymphacea cujas folhas atingem o colossal diâmetro de 1 metro e setenta centímetros. [...]." FONTE: SILVEIRA, Álvaro Astolpho da. Narrativas e memórias . Belo Horizont