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Mostrando postagens de março, 2021

Pindorama: terra de palmeiras

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     [...]. A variedade de palmeiras destas plagas, além de alimentação que fornece, também produz a fibra que se transforma em linha, em fio, em corda, em cabo, em pano, como esse admirável tucum ( Astrocaryum sp.) que equivale, no anfiteatro amazônico, ao linho dos povos antigos.      Fora destas existem outras curiosas como a jacitara ( Desmoncus ), encantada serpente vegetal subindo nos troncos vizinhos ao rumo da claridade; a paxiúba ( Iriartea exorrhiza Mart.), sobre feixes de raízes aéreas que lembram espingardas ensarilhadas; a paxiubinha ( Iriartea setigera Mart.), de cuja madeira os índios fazem as zarabatanas, por meio das quais atiram, soprando, os venenos sagitários. Abundam ainda na plaga paraense as palmeiras acaules degoladas por algum deus terrível da hiléia, que lhes jogasse depois do golpe sinistro as cabeças por terra. Os tufos sem hastes do curuá-branco, do curuá-piranga, do curuá-pixuna, do jupati, do ubim ..., recordam corpos soterrados com as cabeleiras de fo

Nas matas depois da chuva

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            [...]. O véu da chuva se desfazia lentamente e a cor gris da paisagem era substituída por uma verde brilhante, cheia de manchas douradas projetadas pelo sol que tornava a surgir. Nas matas, durante o temporal, silenciosas, rompia a vida com toda força selvagem. Latiam os tucanos como cachorrinhos enraivecidos, urrava o guariba, gritava o cojubim. Uma ave, de bico vermelho vivo, passou como flecha a nosso lado:           - É um tangurupará - explicou Vitório, um dos remadores. Tem o bico assim encarnado porque bebeu o sangue do avô do japim.           O japim, ave de linda plumagem colorida, a que Vitório se referiu com palavras que traduziam mais uma das mil lendas da Amazônia, mostrou-se em toda a sua beleza na galharia das margens, juntamente com corocas, socós, sururinas e tantos outros pássaros maravilhosos que compõem a fauna alada da região. [...]. FONTE: VINHAES, Ernesto. Aventuras de um repórter na Amazônia. 2. ed. Porto Alegre: Globo, 1944. p.. 93-94. (Documentos

Grupos espalhados de palmeiras

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          [...]. As regiões situadas mais alto, mais secas, eram revestidas de arbustos cerrados, em parte sem folhas, e as vargens de um tapete fino de gramíneas, com muitas flores, por entre as quais surgiam grupos espalhados de palmeiras e moitas viçosas. [...]. Encontramos aqui uma palmeira flabeliforme, espinhosa, ( Mauritia armata M.), o maior adorno das várzeas, além do nobre buriti ( Mauritia vinifera M.), aqui mais raro. O buriti-bravo não oferece, como aquela outra, nem um suco suscetível de fermentação alcóolica, nem frutas comestíveis, mas é muito apropriado para vigas de telhado, nas cabanas dos habitantes. Além dessas vêm-se, aqui e acolá, grupos cerrados de palmeira indaiá ( Attalea compta ). Elas formavam as primeiras matas de palmeiras, a cuja sombra nos atrevíamos a passear a pé, em seco, e seguros de não toparmos com cobras gigantes, nem jacarés. Os grandes cocos ricos de um óleo muito puro e gorduroso dessa palmeira fazem o pouso preferido das grandes araras-azui

O Maguari

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     No palco decorado pelas cúpulas das árvores marginais, fundo negro da mata ribeirinha, areia alvíssima da praia e lençol tranquilo da água que desliza lentamente, vê-se o grupo de quatro jaburus moleques [...], sábios taciturnos dessas paragens  solitárias, pernaltas   prudentes das ilhas e praias do Araguaia.      Vivem mariscando no fundo desses depósitos d´água, que com a baixa do rio isolam-se da caudal, aprisionando peixinhos e mariscos que são facilmente pescados por essas aves.      Há uma rica nomenclatura popular para designar esse deselegante pernalta: "Baguary" ou "Maguari", "Tabuiaiá" ou "Tapucajá", Canauan" e na Amazônia, segundo Ihering, "Cegonha". É idêntico ao jaburu, legítimo Mycteria , porém de porte menor, bico ligeiramente rosado e curvo pescoço coberto com penas e cabeça calva. FONTE: MAGALHÃES, Agenor Couto de. Encantos do oeste : um pedaço do Brasil onde o homem se identifica com a natureza. Rio de Janei

Uma manhã esplêndida!

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           Estava uma manhã esplêndida, de sol muito claro e céu azul, sem nuvens. No ar luminoso, cortado de voos e regorjeios, pairava o imenso perfume da mata próxima a luxuriar na gala dos seus verdes mais vivos. Uma brisa ligeira fazia estremecer a fronde dos cajueiros vigorosos, onde concertavam de súcia, numa traquinada azoinante, os grandes bandos de araçaris, anambés e pipiras que, de momento a momento, acudiam aos seus ramos. Ouvia-se também o rechino de algumas cigarras; e, pelos sibilos e assobios, macacos deviam folgar nas fruteiras altas. FONTE: CRULS, Gastão. A Amazônia misteriosa. São Paulo: Ed. Saraiva, 1957.  p. 101. (Coleção Saraiva, 115). Anambés Álbum de Aves Amazônicas - 1900-1906 Ilustração de Ernst Lohse (1873-1930)

As ilhas flutuantes

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          Quisera ter palavras para transmitir-lhes estas maravilhas, tão ao vivo, como as sinto recordando-as neste momento.           As árvores que ora descem levadas pela correnteza, quase imperceptível, tombaram com o barranco roído pela enchente do ano anterior. Algumas, ficaram ainda com parte das raízes presas à gleba, e outras, pela densidade do seu lenho ainda verde, foram ao fundo. No verão, voltando as águas ao seu álveo, ficaram ao sol e secaram. Quando de novo a fúria da enchente foi varrendo os barrancos, levou-as de roldão. E a grandiosa sumaumeira, o miritizeiro frondoso, a balateira majestosa, o castanheiro ereto e sobranceiro, e o mulateiro bronzeado, deixam o lugar onde permaneceram por dezenas ou centenas de anos, para a viagem vagabunda e incerta. Mas nem sempre se perdem nas águas do rio-mar. Numa volta, já quando se inicia a vazante, encalha a fronde desfolhada em um baixio de areia e para. A ela, juntam-se outras menores, as imbaúbas leves, e as ilhas de canar

Um esplendor tropical

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          É de uma beleza rara, mesmo aqui; mas, mais acima, o riacho rápido está todo fechado e encimado por árvores, e ali os açaís crescem aos milhares; troncos delgados lançando-se a cinquenta ou sessenta pés de altura e as folhas todas com aquele trêmulo movimento que se vê em todas as palmeiras, mas nunca tão perfeitamente como no açaí. Também as margens estão cobertas com plantas latifoliadas, e há grandes filodendros nas árvores, e cipós trepando pelos ramos; mas todo este esplendor tropical está tão suavizado e amolecido com toques do brilho do sol e cortinas de sombra, que ele vem e volta ao coração como uma música estranhamente familiar, ora ouvida por primeira vez, mas flutuando na memória muito longe, há muito tempo. Herbert Smith  FONTE: PAPAVERO, Nelson; OVERAL, William L. (orgs.). Taperinha : histórico das pesquisas de história natural realizada em uma fazenda da região de Santarém, no Pará, nos séculos XIX e XX. Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi, 2011. p. 150., il. P