Pindorama: terra de palmeiras

    [...]. A variedade de palmeiras destas plagas, além de alimentação que fornece, também produz a fibra que se transforma em linha, em fio, em corda, em cabo, em pano, como esse admirável tucum (Astrocaryum sp.) que equivale, no anfiteatro amazônico, ao linho dos povos antigos.

    Fora destas existem outras curiosas como a jacitara (Desmoncus), encantada serpente vegetal subindo nos troncos vizinhos ao rumo da claridade; a paxiúba (Iriartea exorrhiza Mart.), sobre feixes de raízes aéreas que lembram espingardas ensarilhadas; a paxiubinha (Iriartea setigera Mart.), de cuja madeira os índios fazem as zarabatanas, por meio das quais atiram, soprando, os venenos sagitários. Abundam ainda na plaga paraense as palmeiras acaules degoladas por algum deus terrível da hiléia, que lhes jogasse depois do golpe sinistro as cabeças por terra. Os tufos sem hastes do curuá-branco, do curuá-piranga, do curuá-pixuna, do jupati, do ubim ..., recordam corpos soterrados com as cabeleiras de fora, castigo pagão de alguma divindade floral.

    Por isso é justo que, ao se dar por ventura novo nome ao arco telúrico dentro do qual esplende o vasto arquipélago, caiba o de Pindorama, de tal modo a família vegetal das palmeiras aflora aí no feitio de arbusto, de cipó, de árvore. A geografia botânica lhe justificaria perfeitamente a denominação extraída da linda terra deltaica do vasto desaguadouro.

FONTE:

MORAIS, Raimundo. Amphitheatro amazônico. São Paulo: Melhoramentos, 1936. p. 244-245.


Palmeiras Bacytris constanciae e Astrocaryum caudecens.
Rio Trombetas, visto do igarapé Caypuru.
J. Barbosa Rodrigues. Sertum palmarum brasiliensium. 1903.
www.biodiversitylibrary.org


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