O encontro com uma onça

        [...]. Agora tínhamos que circunavegar a ponta norte da Ilha das Onças que ficava defronte do Pará. Rumamos para lá, primeiro com a maré rio acima, no que o vento contrário do mar, porém, nos atrasava muito, porque em luta com a corrente provocava ondulações; já tínhamos também feito a triste experiência de que devido ao grande excesso de peso na proa, que o barco recebera em consequência da má distribuição da carga, o leme quase sem ação. Por muito tempo ainda as luzes do Pará brilharam atrás de nós, parecendo flutuar no rio; no entretanto, a maré nos aproximava da ilha, de maneira que prosseguimos ao longo da escura floresta. Por fim, depois de muitas horas de árduo trabalho com os curtos remos índios, avistamos diante de nós uma luz à esquerda: o Furo (canal) da Ilha das Onças, na ponta norte da ilha, [...]. Rumamos diretamente para lá;  a nossa esquerda ficava a Ilha das Onças, da qual se estende um banco no canal, e à direita a ilhota "do Fortim". [...].

        O vento do mar favorecia-nos agora, de maneira que pudemos içar pela primeira vez a nossa vela latina. A lua ergueu-se por cima das florestas da Ilha das Onças. Estávamos agora em águas paradas, e começamos a nos acomodar e a conversar. [...].

        Adormeci sem esperar por um momento, mas acordei de repente, quando o pessoal começou a remar com toda a força, e nós, à clara luz do luar, dobrando à esquerda, rumamos atravessando transversalmente o canal. Quando perguntei o que tinha havido, recebi a resposta lacônica e pouco clara: um bicho! (uma expressão que é aqui empregada pelo povo para significar também qualquer animal). Perguntei novamente e o piloto respondeu-me naquele momento uma onça atravessara o rio nadando e tinha alcançado a margem poucos segundos antes de nós. Todos nós levantamos para ver, mas infelizmente tarde demais! Consolamo-nos com a ideia de que a imaginária fera talvez tivesse sido apenas fantasia da nossa gente.

        O Aroizal tem uma largura de 130 a 200 metros. Mas é preciso não esquecer que as avaliações desta noite foram todas à luz enganadora da lua. [...].

FONTE:

ADALBERTO, Príncipe da Prússia. Brasil: Amazônia-Xingu. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2002. p. 219-220. (Coleção o Brasil visto por estrangeiros).


Onça-pintada 
J. Creveaux. Voyages dans L´Amérique du Sud. 1883.
Ilustração de E. Riou (1833-1900)


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