Sapopema

        Erguia-se agora , à margem do "varador", alta gruta de raízes, que uma só árvore lançava. Templo imaginário de povo que inspirasse a sua estética arquitetônica em esquisitos monumentos orientais, oferecia a quem nele se recolhesse postigos inumeráveis, portas de linhas irregulares e salas onde seis homens podiam  estender a toalha e almoçar, ou puxar de cartas para o jogo que ludibriasse a horas em longos dias de chuva!

        -É uma sapopema - explicou Firmino, vendo Alberto a observar o raizedo enorme, que se espalmava em lâminas, grossas como paredes, e se retorcia também, decorativamente, em cordame manuelino. -  Se um dia você se perder, bata neste pau, que logo algum seringueiro lhe responde.

          Tirando da bainha o seu facão o mulato deu com ele algumas pancadas no monstro vegetal. O som repartiu-se nas galerias interiores e em eco surdo, foi traspassando a selva e alarmando o silêncio por léguas que dir-se-iam sem fim.

FONTE:

CASTRO, José Maria Ferreira de. A Selva: romance. 26. ed. Lisboa: Guimarães & Cia, [1955], p. 110-111.


Árvore  com sapopemas.
Franz Keller-Leuzinger. Voyage d´exploration sur l´Amazone et le madeira. 1874.


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