Pica-pau: o feiticeiro entre as aves

         As aves que receberam entre nós o nome de picapaus, pinicapaus, eram pelos indígenas conhecidas sob o nome genérico de ipecu, merecendo certas espécies, denominações que as distinguiam dentre as demais, como ipecu-ati, ipecu-pará, ipecu-tauá, etc. [...]. Os picapaus possuem uma ínfima faculdade de voar. O seu voo é executado aos arrancos. Em geral levantam-se por vibrações de asas, mergulham, traçando, assim, no ar, arcos ondulados. Se é certo que a natureza não lhe concedeu a virtuosidade dos mestres cantores e lhe negou a volúpia dos grandes voos, nem por isso deixou de aparelhá-lo muito bem para seu gênero de vida. Todos seus órgãos a ela se adaptaram maravilhosamente [...]. O homem do campo, que também frequenta a mata, observando estas maravilhas do instinto, já que lhe não sabemos dar outro nome, surpreende-se e busca, fora da órbita do mundo real, uma explicação para as singularidades desta criatura, que sob aparência de ave talvez seja um avantasma benéfico, um gênio protetor da floresta, o próprio Jurupari bicudo e emplumado. Vem daí, talvez a fama de feiticeiro, de que goza o picapau através do folclore, que é a sabedoria popular na tradição oral. [...]. É pois o bruxo, o feiticeiro, entre as aves.

FONTE:

SANTOS, Eurico. Da ema ao beija-flor; vida e costumes das aves do Brasil. Rio de Janeiro: F. Briguiet, 1952. p. 307-308., il.


Pica-pau-de-cabeça-vermelha.
J. Th. Descourtilz. Ornithologie brésilienne ou Histoire des oiseaux du Brésil. [1854-1856]
www.biodiversitylibrary.org.


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