O nascer do sol refletido pelas águas do rio


"Não impressiona menos o nascer do sol, por detrás da mata, refletido pelas águas do rio. Águas negras, brilhantes, mansas e quase impenetráveis pela nossa visão.
Neste caso, é a madrugada fria, calma, com a neblina abundante a sair por entre a vegetação. Por cima, o céu estrelado mostrando-nos a boiuçu, as Três Marias, o Cruzeiro do Sul, e uma infinidade de outras estrelas e constelações. A lua em crescente, muito pálida a lançar sua luz sobre a imensidão desabitada. No fundo, para o nascente, um foco vermelho que se agiganta a cada instante. Daí a mais alguns minutos, o astro-rei que sai com todo seu esplendor, aquecendo e dando vida à natureza. A faina começa com o chilrear dos pássaros, os roncos possantes dos bugios, os bacuraus procurando alimento. São as araras ou papagaios que passam, um tucano que chama o companheiro ou um boto que aparece na superfície. Aos poucos, aquela mata surda enche-se de sons e a luta pela vida atinge talvez o seu máximo para regredir novamente por algumas horas, tornar a aumentar com o advento da tarde e mergulhar outra vez no repouso diário das madrugadas. Quisera eu que todos os brasileiros pudessem contemplar estes quadros e notar como tudo é tão natural, tão diferente das lendas e superstições que nos contaram quando crianças ou que ainda correm de boca em boca em nossos dias. [...]". José Cândido de M. Carvalho (1914-1989). Notas de viagem ao Rio Negro. Publicações Avulsas do Museu Nacional. 1952. p. 90-91.
 
 
 
Paisagem amazônica
Pintura de Edivaldo Barbosa de Souza


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