"Se eu soubesse cantar, cantaria a banana..."


"Santa Maria de Belém ficava a alguns quilômetros do delta do rio Pará. Belém (não Pará, porque Grão-Pará era o nome do estado, não uma cidade) tinha, vista à distância, um aspecto notável. Era imprensada pela mata, dramático fundo de quadro para aquela congérie de edifícios brancos com seus telhados vermelhos. Spruce  desembarcou no cais; "um tanto parado", opinou ele a respeito. Andou pela esplanada  sombreada por mangueiras e figueiras malditas, passou pelos prédios de dois andares, por soldados ociosos carregando negligentemente suas carabinas. [...]. Um esplêndido papagaio vermelho e verde soltava seu grito estridente e rouco ao sol poente. [...].
Em 1849 grandes esperanças  se nutriam a respeito de Belém. A cidade era o entreposto do Amazonas e com toda a probabilidade se tornaria um vasto empório para o escoamento da riqueza da grande bacia. Enquanto Spruce colhia plantas que ornavam a cidade, já se comentava a respeito daquilo que o barco a vapor iria fazer para o Brasil. Falava-se na construção de uma estrada de ferro. Tanto os Estados Unidos da América como a Grã-Bretanha se empenhavam para que o Amazonas fosse aberto ao comércio mundial. [...].
Todos esses comentários pouca impressão fizeram em Richard Spruce. Ele tinha suas plantas para colecionar e toda a natureza estava aberta para ele. Apanhava as flores alegres das vilas escondidas entre mamoeiros, mangueiras, palmeiras e mimosas. Enchia suas prensas de plantas com todas as novidades botânicas que lhe davam nos olhos, e seu estômago com as iguarias brasileiras para ele até então estranhas e exóticas. Apreciava bananas, que vinham do mercado em pencas doiradas, principalmente bananas fritas na gordura, esmagadas e com açúcar. Dessa surpreendente prova de fecundidade da natureza ele podia dizer, como o seu compatriota Tomlinson: "Se eu soubesse cantar, cantaria a banana... A pacova brota para o alto com uma haste abundante, e a fonte volta em largos  pendões ondulantes, espalhando-se por fora, afinando nas pontas quando perde o impulso. Não pode ser velho um mundo em que medra uma planta assim. É uma prova certa da vitalidade da terra. Contemplando-a, ninguém  havia de pensar que é longo o processo de desenvolvimento, uma questão de meses e de dificuldades naturais. A banana é uma resposta imediata e alegre dada ao sol. As nervuras das folhas, possantes mas clásticas, que ficam  suspensas em arcos imponentes, as amplas superfícies de uma substância verde translúcida... É sólida e suculenta, embora a sua ascensão seja tão aérea e sua forma seja um prazer para a vista. Não há verde igual ao das suas folhas, exceto o do mar". Victor W. von Hagen (1908-1985). A América do Sul os chamava. s.d. p. 261-263.
 
 
 
Banana.
Botany Libraries. Harvard Univerty


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