Os sons da vida na floresta tropical


"Após diversos dias em Gleba Arinos, iniciamos nossa subida pelo rio a bordo da pequena lancha Santa Rosa. Na primeira noite em que navegamos no Arinos dormi pouco, apreciando os diversos sons da água e da vida na floresta tropical. Logo após o amanhecer, começamos a descer o rio, que gradativamente perdia seu aspecto plácido e tornava-se mais belo e dramático. O rio era pontilhado por inúmeras ilhas e um grande conjunto de enormes pedras submersas, das quais brotavam plantas aquáticas cor-de-rosa. Essas pedras mostravam claramente a alteração do nível das águas nas estações de chuva - brancas abaixo da linha da água e negras acima desse nível.
O rio transbordava de mergulhões, que mantinham suas cabeças negras e bicos amarelos ligeiramente acima da superfície. Ao anoitecer, araras nos sobrevoavam aos pares, com suas plumas brilhando pelos raios vermelhos do sol. Cegonhas silenciosas e solitárias, de enormes asas, voavam para suas sombrias casas na floresta. Colhi uma linda Galenadra juncoides  na junção desse rio com o rio Alto Juruena.
Minhas descobertas tornaram-se ainda mais interessantes quando passamos no Alto Juruena: Heliconias, Catasetums, Brassavolas e Tillandsias surgiam uma após a outra. Árvores espetaculares - Bombacácea e Bignoniácea - surgiam da folhagem escura da floresta como gigantes cintilantes sem folhas, troncos brancos e brilhantes com ramos estendidos. Ipês-amarelos e Bombax vermelhos floresciam, e da copa escura de uma das árvores pendiam franjas de flores vermelho-escuras". Margaret Mee (1909-1988). Flores da floresta amazônica. 2. ed. 2010, p. 22.
 

 Catasetum fimbriatum.
Ilustração de Margaret Mee (1909-1988).
Flores da Floresta Amazônica. 2010.


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