A Vitória-Régia


"No extremo superior do lago, chegamos ao berço dos lírios, donde fora arrancado o troféu da véspera. As folhas eram muito grandes, tendo várias entre elas 4 ou 5 pés  (1,22m a 1,52m) de diâmetro, mas penso que haviam perdido um tanto do seu frescor e de sua forma natural; assim, os seus bordos se erguiam quase que imperceptivelmente e às vezes mesmo deitavam-se completamente sobre as águas. Achamos alguns botões porém nenhuma flor aberta. Esta tarde, felizmente uma das filhas de Maia, o nosso pescador, sabendo que eu desejava ver uma dessas flores, foi busca-la numa lagoa situada muito mais longe e que não teríamos tempo de visitar. Trouxe-me um exemplar perfeito. Os índios dão à folha um nome característico: chamam-na "forno", pela semelhança que apresenta com as imensas vasilhas muito raras em que torram a cassava nos fornos de mandioca. Todos os viajantes descreveram a Vitória-régia, a sua formidável armadura de espinhos, suas folhas colossais e suas admiráveis flores, cuja coloração vai do branco aveludado através de todas as gradações do rosa, ate o púrpura escuro, para voltar, no  centro, a uma cor leitosa um tanto amarelada. Não fatigarei o leitor com uma nova descrição. E no entanto, não nos foi possível contempla-la nas suas águas natais sem experimentar uma viva impressão diante do que se pode considerar o tipo do transbordamento luxuriante da natureza vegetal nos trópicos. Por mais maravilhosa que ela pareça quando admirada na bacia de um parque artificial, onde faz maior efeito pelo seu isolamento, tem, contemplada no meio que lhe é próprio, um encanto ainda maior, o da harmonia com tudo o que a rodeia, com a massa compacta da floresta, com as palmeiras e as parasitas, as aves de brilhante plumagem, os insetos de cores vivas e maravilhosas, com os próprios peixes que, escondidos nas águas, por baixo dela, têm suas cores não menos ricas e variadas do que as dos seres vivos do ar [...]". Luiz Agassiz (1807-1873); Elizabeth Cary Agassiz (1822-1907).  Viagem ao Brasil (1865-1866). 1938, p. 437-438).
 
 
 
“Victoria regia – Opening Flower”
Walter Hood Fitch Chromolithograph from Sir William Jackson Hooker (1785-1865)
Victoria regia; or Illustrations of the Royal Water-lily


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