A descrição de Belém por Theodoro Braga
"A descrição de
Belém feita por Theodoro Braga, através dos vários itinerários dos bondes, nos
dá uma perfeita ideia da cidade dessa época: do elegante “Boulevard da
República”; da Rua Conselheiro João Alfredo, “principal artéria elegante do
comércio a retalho”; da rua 28 de setembro, no Reduto, “artéria principal do
bairro menos abastado, cheio de povo e pequenos comerciantes, sobretudo de
nacionalidade síria”, bairro este que continha, além das usinas da The Pará
Eletric Railway and Lighting Co., “as fábricas de gelo, de cordas, de pregos,
de construção e móveis Freitas Dias, grande armazém de ferragens Redutense
tomando todo um quarteirão, da Av. 15 de Agosto, em construção na época e que
era considerada como destinada a vir a ser, no futuro, “a mais bela e majestosa
avenida urbana” no término da qual estava a Praça da República, com o Teatro da
Paz, “a Farmácia Dermol, a mais bela e importante da cidade, a elegante casa de
modas de Mme. Bousseau, o cinematógrafo Rio Branco e o Café da Paz”, além do
Grande Hotel, o cine Olympia, “a mais bela e confortável casa de seu gênero”, e
o clube High-Life; da Avenida Nazaré, de perspectiva majestosa, “toda sombreada
por altas mangueiras”, ladeada pelos principais colégios e clubes; da Avenida
Independência, onde havia, em frente ao Instituto Gentil Bittencourt, o
teatrinho Bar Paraense, junto à grande Fábrica de Cerveja Paraense; da Avenida
Tito Franco, “cuja perspectiva é grandiosa, pois que é bordada de árvores da
mata próxima e o seu fim perde-se, ao fundo, na floresta apenas esbatida”; da
Rua Manuel Barata, importante pelo comércio e por nele existirem numerosos
gabinetes dentários; da Avenida Padre Eutíquio, com os “templos das lojas
maçônicas”; da Avenida São Jerônimo, “que, com a de Nazaré, forma o bairro
aristocrático da capital”, graças às vivendas confortáveis de personalidades
salientes na política, no comércio e na magistratura; do bairro da Cremação e
Jurunas, populosos, de operários e jornaleiros; da Cidade Velha, com suas
igrejas e edifícios públicos, etc. etc.
O centro bancário
de Belém se desenvolvia em torno da Rua 15 de Novembro, assim como a maioria
das companhias seguradoras ali se achavam; a Av. 15 de Agosto e Praça da
República continham os melhores cafés da cidade; não faltavam as livrarias,
“todas na rua Con. João Alfredo”.
Belém é ainda
vista pelo mesmo autor, como uma “cidade que acompanha “pari-passu” todo o evoluir da civilização europeia, em contato
semanal com os centros elegantes do mundo; assim sendo, “Belém não podia deixar
de ser um empório de coisas frívolas, mas indispensáveis, que o requinte
moderno exige”.
Para o autor
citado, Belém era uma cidade em pleno rejuvenescimento, pois que, ao lado de
edifícios que se tornaram obsoletos, havia “palacetes, onde o conforto e o
gosto apurado”, faziam “lembrar centros europeus adiantados”; especialmente,
ressalta Braga, possuímos “palacetes de gosto e elegância, vilinos e chalets”,
ao longo das Avenidas São Jerônimo, Independência, Nazaré, Cons. Furtado,
Generalíssimo Deodoro e Tito Franco”. [...]".
Belém do Pará (Estudo de Geografia Urbana). 1968, v.
1, p. 159-160.
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