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Mostrando postagens de 2025

Viajantes: O canto do Acauã sob o luar

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Helmut Sick comenta em Tukani: entre os animais e os índios do Brasil Central. 1997. p. 42, seu encontro com o Acauã, numa noite de luar:          A  lua estava cor de laranja e havia uma forte bruma, mas o luar, mesmo assim, era deslumbrante. Diante dos ranchos abria-se um largo cuidadosamente limpo que se estendia para o sul até nosso pequeno campo de pouso, cujo final mergulhava na escuridão. Ainda dava para localizar o Cruzeiro do Sul, que se inclinava sobre o horizonte para sumir na imensidão do cerrado. Vinha de lá, em estrofes cheias de ritmo, o canto do acauã (Herpetotheres cachinans). Dois exemplares dessa ave de rapina, amante da penumbra e, segundo dizem, grande destruidora de répteis venenosos, corresponderam-se por vários minutos com um dueto indecifrável Acauã ( Herpetotheres cachinans ) ELETRONORTE. Brasil 500 pássaros . 2000. Desenho de Antônio Martins .  

Um Blog sobre a Amazônia

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Descubra os relatos, memórias e encantos da natureza amazônica registrados há séculos em diários e publicações de naturalistas e viajantes. Visite: olimpiareisresque.blogspot.com, um Blog sobre a natureza amazônica. Diário de campo de Henry Walter Bates Copaíba . Copaifera langsdorffii

Almanaque de curiosidades amazônicas: As aves e o tempo

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O Jornalista Eurico Santos (1883-1968) relata em seu livro Histórias, lendas e folclore de nossos bichos. 1957,  informações curiosas sobre a relação que as aves têm com o tempo:        Há, a propósito das aves, observações curiosas.    Em  matéria de medir o tempo e  saber seguramente a hora, já que não é possível telefonar para o Observatório Astronômico, o povo do interior apela para o inhambu-relógio que canta a horas certas. [...].    O Mutumporanga, a exemplo do galo, canta à noite, precisamente à meia-noite, dizem uns, e há quem afirme que eleva o canto no momento exato em que a constelação do Cruzeiro do Sul atinge o seu ponto culminante.    Em matéria de astronomia, quer o povo que as aves estejam muito bem informadas.    Na Amazônia, dizem que nos primeiros dias, quando Ceuci, ou sejam as Pleiades, ao anoitecer, está quase na linha do horizonte os pássaros dormem nos poleiros mais altos.    ...

Literatura: Orquídeas de singulares coloridos

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         Aurélio Pinheiro em À margem do Amazonas. 1937. p. 122-123, relata impressões de uma floresta.           A floresta parecia tomada de fundo letargo, sem rumores sem ruídos de passos, sem vozes, sem sussurro da asa entre galhada  infinita, numa desolação de necrópole, adornada de verde, um verde absoluto e fatigante que se estendia no matupá, rolava na selva, subia nos ramos, ondulava por toda parte, num destemido, interminável domínio.           Nesse mudo império vegetal somente os frutos escarlates das mungubeiras, suspensos nos galhos desfolhados ou alguma orquídea de singulares coloridos enfeitando velhos troncos, ou as flores roxas dos mururés, quebravam alegremente a imensa monotonia. Pintura de Martin Johnson Heade  (1819-1904)

Almanaque de curiosidades amazônicas: A Anhuma

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  Rodolpho von Ihering em Dicionário dos animais do Brasil . 1968, assim descreve essa ave:       Ave (Palamedea cornuta), da família dos    Palamedeídeos, que na Amazônia é conhecida por    "cauintau" ou "cametaú" e "unicórnio. É ave grande, de 85    cm de comprimento comparável ao peru, mas caracterizada por várias singularidades. os pés têm dedos enormes, o que lhe facilita a locomoção nos banhados, sobre as plantas aquáticas. Na cabeça um "chifre", ou antes um espinho recurvado, córneo, de 12 centímetros de comprimento, está implantado sobre a pele, o bordo anterior da asa é provido de 2 esporões, dos quais a ave se utiliza como arma perigosa Esse esquisito chifre frontal de tal modo impressionou os naturais, que há muito tempo lhe são atribuídas virtudes curativas. Eurico Santos em seu livro Da ema ao beija-flor . 5. ed. 1990. p. 105-106 relata certas curiosidades dessa ave:          Para os supersticiosos a...

Viajantes: As flores púrpuras das orquídeas

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Franz Keller-Lëuzinger (1835-1890), botânico e explorador alemão narra trecho de seu livro  Os rios Amazonas e Madeira : esboços e relatos de um explorador. 2021. p. 170, com tradução, apresentação e notas  de Adriano Gonçalves Feitosa, onde relata sobre  as orquídeas e palmeiras encontradas nesse trecho de sua viagem:           Um misterioso crepúsculo segue em nosso encalço, intensificando o brilho dos derradeiros raios de sol que cai por sobre lustrosas palmeiras, ou por sobre as flores púrpuras das orquídeas. Troncos colossais, alguns de 6 a 10 metros em diâmetro, impõem-se como pilares suportando a pesada abóboda de folhagem verde e densa; abaixo, ofuscadas pelos gigantes da vizinhança, variedades de palmeiras altas e graciosas, desembaraçadas ou cobertas por arbustos, carregadas de frutinhas de amarelo ou vermelho vívidos, lutam entre si por um vislumbre de luz [...]. Laelia purpurata. J. Linden. Lindenia Orchid Prints, 1885.  

Viajantes: As famosas cuias pintadas

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O escritor português José Maria Ferreira de Castro (1898-1974) trabalhou como seringueiro,  durante quase quatro anos no Seringal Paraíso em plena Floresta Amazônica e, dessa experiência, escreveu o livro "A Selva". A seguir um trecho do romance A Selva 2. ed. 1937. p. 53:           As cuias, mais que as guloseimas, prendiam a atenção de Alberto. Já as conhecia de Belém, célebres por darem frescura e fino sabor à água que por elas se sorvia, mas nunca as vira em tanta fantasia e variedade. Fruto grande e redondo de muitos quilos, às vezes, os nativos serravam-no pelo meio, extraindo-lhe a polpa inútil e das duas metades da casca, submetidas a tratamento e tingidas de negro, faziam aqueles primores locais. Por fora, mãos pacientes abriam a branco sobre o fundo preto, caprichosos arabescos, uns falando de primitivas ingenuidades, outros impondo-se já por uma intenção de arte. Havia também as que não tinham sido serradas; cavara-se o fruto apenas dos lad...

Viajantes: A gaivota, a vigia dos navegantes na Amazônia

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Raimundo Morais (1875-1941), que serviu durante anos como comandante de navios fluviais na Amazônia, fala em sua obra Notas de um jornalista. 1924. p. 123-126,  sobre os hábitos das gaivotas e de como ajudam os navegantes nessa região:                              A ave  que mais se vê e se ouve, de dia e de noite, no volume da grande artéria, é a gaivota. Vindo do mar foi subindo este mediterrâneo fluvial como sucedeu a toninha, que virou boto, até os últimos filetes d´água. É um dos animais da fauna alada que mais prestam favores ao homem. De verão, em todo o curso da grande corda líquida, que flui sob a linha ideal do Equador, na volta do mês de dezembro, quando principiam a desabar os primeiros temporais, é ela o melhor vigia dos navegantes. Em noites escuras, eletrizadas, quando os fogos santelmos acendem os seus fachos azulados no tope dos mastros, é a gaivota, com seu grito estri...

Almanaque de curiosidades amazônicas: O exótico Pavão-do-mato

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     O Conde Ermanno Stradelli em sua obra Vocabulários da língua geral Portuguez-Nheêngatu-Nheêngatu-Portuguez, publicada na Revista do Instituto Historico e Geographico , t. 104, v. 158, 1929, explica que o  Pavão-do-mato ( Cephalopterus ornatus ) é um lindo pássaro azul escuro de larga poupa em forma de chapéu de sol e um apêndice carnoso, também coberto de plumas que lhe desce do pescoço em forma de badalo, e que lhe serve para tornar mais sonora a nota aflautada que costuma emitir.     Seu nome em Tupi é Uirá-membi , que significa "O flautista, pássaro flauta". O pássaro também é conhecido como anambé-preto, uirá-membi.     Eurico Santos em Pássaros do Brasil . 7. ed. 2004. p. 88-89 complementa:      Mede quase 45 cm de comprimento, sendo pois, um dos maiores pássaros da família. A plumagem é dum preto-azulado. Sobre a cabeça, uma poupa original se encurva para a frente e do pescoço lhe pende balouçante, um longo penduricalho ...

Viajantes: Festões e guirlandas naturais

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  Henry Walter Bates (1825-1892), naturalista inglês, relata em seu livro  O naturalista no rio Amazonas . 1944. v. 1. p. 221,  seu encontro com as flores na floresta amazônica e sua admiração pela beleza encontrada:                 O riacho  tinha umas cem jardas de largura, sendo mais estreito em alguns pontos. As duas margens estavam ocultas por dois altos reposteiros verdes, interrompidos aqui e ali, permitindo ver, sob as arcadas das árvores, clareiras com as palhoças dos sitiantes. Dos ramos das altas árvores que se projetavam sobre o rio, pendiam sobre o rio festões e guirlandas naturais e incalculável variedade de trepadeiras forrava as margens, das quais algumas, especialmente as Bignonias estavam cheias de flores de cores vivas. A arte não teria reunido tão harmoniosamente tão lindas formas vegetais, como o fizera a Natureza. [...]. Memora schomburgkii  (Bignoniaceae). Margaret Mee . Flores da...

Literatura: O esplendor da floresta equatorial

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Alfredo Lamartine em Tricentenário da Fundação de Belém . Pará: Livraria Bittencourt, [19--?]. p. 75-76, comenta sobre a exuberância de uma floresta tropical:          Em nenhum  recanto da terra a vida vegetativa é mais exuberante do que na depressão amazônica, nem se estende sobre tão amplos domínios. É a floresta equatorial com seu viço, a sua seiva, as suas grandes formas arborais, a sua pompa, o seu esplendor, que deteve Humboldt, encantando Spix e Martius, surpreendidos. Acompanhando o Amazonas em sua horizontalidade característica, divergindo para os vales laterais, seguindo-os, acompanhando-os desde as nascentes até a foz, espraiando-se em todos os sentidos, vasta, magna e virgem, a selva, aqui por estes longes do Brasil setentrional é uma admiração. É obra das grandes águas e do sol do equador, de que V. Hugo já dizia: "O sol do equador sobre as águas do Nilo Fez de um lagarto um crocodilo"            Tudo, na v...

Viajantes: As flores na floresta amazônica

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               Alfred Russel Wallace (1823-1913) fala sobre as flores na floresta amazônica em  em seu  livro Viagens pelo Amazonas e Rio Negro . 2004. p. 72:            Poucas árvores   da floresta estão agora em florescência. É um espetáculo verdadeiramente magnífico o contemplar-se uma grande árvore, que se cobre de flores em profusão.  Mas tudo isso está fora do alcance do curioso e extasiado naturalista.  É que tais flores somente se abrem por cima da enorme cúpula de verdura, exposta aos raios solares.         Em muitas dessas árvores, só se encontra uma única flor no mínimo a uma altura de 80 a 100 pés.  Estas florestas, em sua glória e esplendor plenos, apenas poderão ser vistas e devidamente reparadas, deslizando-se suavemente em um  balão sobre a ondulante e florida superfície.  Tal privilégio contudo, está reservado aos viajantes de eras ...

Almanaque de curiosidades amazônicas: As caprichosas orquídeas

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          Alfredo Ladislau em Terra imatura. 2008. p. 62  comenta sobre a vida das  orquídeas  nas florestas e  seu finíssimo perfume:          A  grande classe das epífitas, entretanto, disseminada em múltiplas variedades  de caprichosas orquídeas, difere, por sua orgulhosa vida autônoma, dessas esfaimadas fisális vegetais. São plantas boas, que não sacrificam os recursos, já armazenados, da economia alheia, nem mandam raízes a terra, para abrir competência com os vizinhos. Pedem, apenas, um encosto para sua reduzida carga de bolbos, um pouco de umidade e a frouxa luz, coada no verde filtro dos ramos. Apanham do ar os princípios fecundantes que a terra evapora e desses fluídos vitais, já purificados, absorvem os materiais impalpáveis que lhes vão formar a requintada estesia das flores, nas quais a natureza imprime os lampejos da sua fantasia criadora, quer na forma e colorido, quer nas sutilezas com q...

Viajantes: A espinhosa palmeira Tucum

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     G. Langsdorff (1774-1852), médico, naturalista e explorador comenta em Os Diários de Langsdorff. v. 3. 1997 sobre suas viagens ao Norte do Brasil, referindo-se as espinhosas palmeiras Tucum que encontrou:        Voltamos a ver borboletas e outros pássaros. Hoje, desde cedo, estamos navegando pelo pequeno braço esquerdo do rio, que neste local, forma uma ilha grande e plana. Após o almoço, remamos ainda algumas horas e retomamos o grande rio, cujas margens aqui são tão baixas que as águas já começam a cobri-las. É difícil encontrar um lugar seco para desembarcar. Há muitas palmeiras espinhosas (Tucum) e arbustos de vários tipos. Tucum ( Bactris setosa ) Expedição Langsdorff ao Brasil - 1821-1829. Desenho de  Aimé Taunay.            

Almanaque de Curiosidades Amazônicas: A ave Saci

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SACI - Ave da família dos Cuculídeos ( Tapera naevia ). Rodolpho Garcia diz que a superstição popular fez dessa ave uma espécie de demônio que pratica malefícios pelas estradas enganando os viajantes com as notas de seu canto, fazendo-os perder o rumo. Rodolpho Garcia em seu livro Nomes de aves em língua Tupi . 1913  diz que seu nome tem a seguinte etimologia: ( h-ang ) + cy, mãe que é igual a "mãe das almas", porque, segundo a lenda ele chupa a alma dos defuntos. Emílio A. Goeldi, zoólogo e naturalista suíço, em seu livro As aves do Brasil . 1894, diz:             O saci possui a fama de se transformar e é visto sob a forma de um pequeno tapuio. Outra vez de uma horrível mulher velha e magra. Essa ave que é tão misteriosa possui um assobio que ninguém sabe de onde vem, confundindo a todos, fica-se sempre ou muito longe ou muito perto, ou muito para a direita ou muito para a esquerda. Este modo de ser enigmático, e justamente o brado triste dera...

Viajantes: Um dia agradável!

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        Margaret Mee (1909-1988),  artista botânica inglesa, relata um dia agradável de sua viagem à Amazônia em sua obra Flores da floresta amazônica . 2. ed. 2010. p. 54:           O dia transcorreu de forma agradável, permitindo que os últimos raios do por do sol registrassem as plumas coloridas das araras, tucanos, garças, martins-pescadores barulhentos e bandos de  papagaios em seus voos de volta para suas casas. Pendurados nas árvores mais altas haviam ninhos de japiim, com seus habitantes protestando fortemente contra nossa invasão em seu território. Os golfinhos brincavam surfando na superfície do rio.           Em um momento de tensão, lutando para transpor as corredeiras do rio, percebi o barulho dos papagaios verdes brilhantes que voavam rasante sobre nós, seguidos por dezenas de pássaros tesoura. Nossa jornada foi iniciada em Manaus no dia 15 de julho, chegando a Maturacá no dia 2 ...

Viajantes: uma floresta luxuosa

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       J. Barbosa Rodrigues (1842-1909) comenta em sua publicação Exploração e estudo do Valle do Amazonas : Rio Tapajoz. 1875. p. 78-79 sua impressão sobre a floresta que entrou considerando-a um "floresta luxuosa", com seus inúmeros madeiros extraordinários.               Como que para compensar a mesquinhez e raridade de bonitas árvores no campo, a floresta apresenta-se luxuosa com seus imensos madeiros, todos com mais ou menos emprego nas artes e ofícios.           O Oenocarpus distichus e a Maximiliana regia , aí não só abundam, como tomam um desenvolvimento extraordinário. [...].           Em alguns lugares úmidos, cresce o marajá ( Bactris ) que se estende por alguns espaços. Goza-se aí na floresta uma frescura agradável, enquanto que no campo, apesar de alguma variação o calor é insuportável. Aí anima a floresta um pequeno pássaro esverdeado do gênero Tanagra ...

Os viajantes em Belém do Grão-Pará: Charles Marie De La Condamine (1701-1774) e sua chegada ao Pará

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            Nesta seção do Blog teremos narrativas de viajantes e naturalistas que visitaram Belém do Pará. Essas histórias e narrativas nos ajudarão a entender como era a cidade entre os séculos XVIII e XX, complementadas por fotografias ou ilustrações da época.             Charles Marie De La Condamine (1701-1774), cientista e explorador francês comenta em sua obra Viagem na Amazônia Meridional. 2000. p. 111-112,  comenta sobre sua chegada ao Pará:          No dia 19 de setembro, perto de quatro meses após minha partida de Cuenca, cheguei à vista do Pará que os portugueses chamam "Grão-Pará", ou seja "grande rio", na língua do Brasil; aportamos a uma habitação dependente do Colégio dos Padres Jesuítas. O Provincial nos recebeu, e o reitor aí nos reteve oito dias, e nos proporcionou todos os divertimentos de campo, enquanto nos preparavam acomodações na cidade. Achamos no dia 27, chega...

Almanaque de Curiosidades Amazônicas: Aguapé

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    Nesta seção do Blog, traremos histórias narradas por naturalistas, antropólogos e estudiosos do folclore amazônico, além de curiosidades e relatos relevantes sobre a região. Também exploraremos as palavras de origem Tupi ainda utilizadas pela população amazônica, baseando-nos nas narrativas de viajantes que passaram pela região e deixaram como legado dicionários e vocabulários que compilam termos aprendidos com os indígenas que falavam a Língua Geral. AGUAPÉ: São plantas aquáticas arredondadas com raízes adstringentes e altamente narcóticas. Contém muito tanino que quando muito lavadas perdem o princípio narcótico, tornando-se inócuas. A espécie Nymphaea alba é conhecida também como lírio d´água, golfo.     Quanto ao termo científico do gênero, Nymphaea , vem de Nympha , "habitante da água", explica J. Barbosa Rodrigues (1842-1909), naturalista e botânico brasileiro, em sua obra Hortus fluminensis.  1895. p. 12.     Para o Prof. Pirajá da Silva n...

Viajantes: No coração da floresta virgem

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Henry Walter Bates (1825-1892), explorador e naturalista inglês, em seu livro O naturalista no rio Amazonas. 1979 . p. 223 comenta sua passagem pela floresta virgem na Amazônia:            O vale vai-se estreitando à medida que se aproxima das cabeceiras do igarapé e a mata se tornando mais cerrada. O caminho aquático também diminui de largura e fica mais sinuoso por causa das árvores, agora mais juntas umas das outras. Os galhos de algumas delas se espalhavam pouco acima de nossas cabeça e se apresentavam carregados de epífitas; uma orquídea me chamou a atenção particularmente, por causa de suas flores amarelo-vivo que brotavam da ponta de hastes de vários metros de comprimento. Alguns troncos principalmente os das palmeiras, estavam cobertos logo abaixo da coroa por densos tufos de lustrosos potos de folhas em forma de escudo, de mistura com samambaias. Naquele ponto nós nos achávamos, de fato, no coração da floresta virgem ... Mata virgem com arara Peyr...

As plantas que povoam a floresta virgem

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          Entre todos os gêneros de plantas, que povoam a floresta virgem, distinguem-se, como por toda parte nas florestas tropicais, devido à peculiaridade de suas formas, particularmente os membros da família das Bombáceas, ou Sumaúmas, uma espécie de Malvácea que chama a atenção devido ao seu monstruoso tronco e galhos e ao viço de sua fronde. São numerosas as espécies de Palmeiras, entre elas deve-se salientar a tão bela quanto útil palmeira Buriti ( Mauritia flexuosa ) que, com as suas folhas em forma de leque, elevando-se frequentemente a mais de 100 pés no ar, em muitos lugares crescem tão juntas, que seus troncos verdes, lisos, alinhados um do outro, parecem paliçadas dum enorme forte.  Contrastam com esses troncos gigantescos a Juçara ( Euterpe edulis ) e a Açaí ( Euterpe oleracea ), muitas vezes crescendo junto a elas, que pertencem ao número das palmeiras mais delicadas, e sobretudo a nobre Anajá ( Maximiliana regia ), assim chamada pelo cé...

Aventuras de um desenhista francês na Amazônia

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            Acompanhava de longe os companheiros e, quando a água não me chegava ao pescoço, erguia os braços e fazia vagarosamente um esboço, lamentando não viesse atrás de mim um colega de pintura para apanhar minha figura, assim metido n´água, com a roupa e a espingarda penduradas às costas, e de braços no ar a desenhar. Seria muito pitoresco. Não me detinha a desenhar aspectos já familiares, mas ao transpor um trecho bosqueado de bambus e enfeitado de trepadeiras quando divisava as orquídeas a se balançarem como os lustres de uma catedral, sem quase se distinguir os delgados cipós que as substituem, não podia deixar de deter os passos e desenhar; realizava apenas um croqui numa proporção relativa de cada margem, porque os braços elevados depressa se fatigavam e tinha de deixar o trabalho mal iniciado. FONTE: BIARD, Auguste François. Dois anos no Brasil . Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2004. p. 93-94. (Edições do Senado Federal, Conse...

Os gigantescos aruns arborescentes

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       Uma das ilhas era baixa e arenosa e metade dela coberta de gigantescos aruns arborescentes, o Caladium arborescens , tantas vezes citado, que apresentavam estranho aspecto. Quase toda gente está familiarizada com a pequena espécie britânica, o Arum maculatum , que cresce nos canteiros, e muitas pessoas admiram espécies maiores nas estufas; pode, portanto, fazer uma ideia de uma floresta de tinhorões. Nessa ilhota os caules lenhosos das plantas, perto do chão, tinham oito a dez polegadas de diâmetro e as árvores doze a quinze pés de altura, todos cresciam tão chegados que apenas havia espaço suficiente para uma pessoa andar livremente entre eles. FONTE: BATES, Henry Walter. O naturalista no rio Amazonas .  São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1944. v. 1. p. 233. (Biblioteca Pedagógica Brasileira. Série 5a. Brasiliana, v. 237). Arun maculatum. Trew, C. J.; Ehret, G. D. Plantae selectae. v. 6, 1759. www.plantillustrations. org

Orquídeas: as "filhas do espaço"

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          Eu ia afinal atingindo as matas virgens por que  tanto suspirara; veria a essa natureza quase desconhecida dos outros homens, onde nunca o machado trabalhara. Tinha a impressão de ser o espectador de uma nova existência, de um outro mundo. Minha tendência de esmerilar o lado cômico do que até então me fora dado ver transformava-se numa inclinação para os pensamentos sérios, para um recolhimento meio religioso. Cada remada que me ia tornando mais perto dessas florestas grandiosas apagava um pouco as recordações do passado. Estreitava-se sensivelmente o rio como querendo juntar as duas margens, desapareciam os mangues, a água doce substituía a salgada; plantas aquáticas encobriam as praias; agora, árvores frondosas e gigantescas, cobertas de parasitas em flor, dessas orquídeas tão bem denominadas de filhas do espaço, pois vivem sem ter raízes, sem saberem bem por que, e como o acaso ali as colocou.  FONTE: BIARD, Auguste François. Dois ano...

As aves em atividades nas fruteiras silvestres

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               Todas as aves estavam em atividade e das fruteiras silvestres próximas ouvíamos frequentemente o grito estrídulo dos tucanos ( Rhamphastos vitelinus ). Quase todas as manhãs passavam, voando muito alto, pequenos bandos de papagaios, destacando-se no céu azul, sempre aos pares, a palrar, separados uns dos outros por intervalos regulares. Na altura em que iam não era possível apreciar-lhes o brilhante colorido. Depois do almoço dedicávamos o tempo, das 10 da manhã às três da tarde, à entomologia, pois o melhor tempo para os insetos na mata é um pouco antes da canícula. FONTE:  BATES, Henry Walter. O naturalista no rio Amazonas . São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1944. v. 1. p. 94. (Biblioteca Pedagógica Brasileira. Série 5a. Brasiliana, v. 237). Tucano J. Th. Descourtilz.  Pageantry of brazilian birds in their natural surrooundings . Amsterdam; Rio de Janeiro Colibris Ed. 1960.