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Mostrando postagens de 2025

Viajantes: As flores púrpuras das orquídeas

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Franz Keller-Lëuzinger (1835-1890), botânico e explorador alemão narra trecho de seu livro  Os rios Amazonas e Madeira : esboços e relatos de um explorador. 2021. p. 170, com tradução, apresentação e notas  de Adriano Gonçalves Feitosa, onde relata sobre  as orquídeas e palmeiras encontradas nesse trecho de sua viagem:           Um misterioso crepúsculo segue em nosso encalço, intensificando o brilho dos derradeiros raios de sol que cai por sobre lustrosas palmeiras, ou por sobre as flores púrpuras das orquídeas. Troncos colossais, alguns de 6 a 10 metros em diâmetro, impõem-se como pilares suportando a pesada abóboda de folhagem verde e densa; abaixo, ofuscadas pelos gigantes da vizinhança, variedades de palmeiras altas e graciosas, desembaraçadas ou cobertas por arbustos, carregadas de frutinhas de amarelo ou vermelho vívidos, lutam entre si por um vislumbre de luz [...]. Laelia purpurata. J. Linden. Lindenia Orchid Prints, 1885.  

Viajantes: As famosas cuias pintadas

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O escritor português José Maria Ferreira de Castro (1898-1974) trabalhou como seringueiro,  durante quase quatro anos no Seringal Paraíso em plena Floresta Amazônica e, dessa experiência, escreveu o livro "A Selva". A seguir um trecho do romance A Selva 2. ed. 1937. p. 53:           As cuias, mais que as guloseimas, prendiam a atenção de Alberto. Já as conhecia de Belém, célebres por darem frescura e fino sabor à água que por elas se sorvia, mas nunca as vira em tanta fantasia e variedade. Fruto grande e redondo de muitos quilos, às vezes, os nativos serravam-no pelo meio, extraindo-lhe a polpa inútil e das duas metades da casca, submetidas a tratamento e tingidas de negro, faziam aqueles primores locais. Por fora, mãos pacientes abriam a branco sobre o fundo preto, caprichosos arabescos, uns falando de primitivas ingenuidades, outros impondo-se já por uma intenção de arte. Havia também as que não tinham sido serradas; cavara-se o fruto apenas dos lad...

Viajantes: A gaivota, a vigia dos navegantes na Amazônia

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Raimundo Morais (1875-1941), que serviu durante anos como comandante de navios fluviais na Amazônia, fala em sua obra Notas de um jornalista. 1924. p. 123-126,  sobre os hábitos das gaivotas e de como ajudam os navegantes nessa região:                              A ave  que mais se vê e se ouve, de dia e de noite, no volume da grande artéria, é a gaivota. Vindo do mar foi subindo este mediterrâneo fluvial como sucedeu a toninha, que virou boto, até os últimos filetes d´água. É um dos animais da fauna alada que mais prestam favores ao homem. De verão, em todo o curso da grande corda líquida, que flui sob a linha ideal do Equador, na volta do mês de dezembro, quando principiam a desabar os primeiros temporais, é ela o melhor vigia dos navegantes. Em noites escuras, eletrizadas, quando os fogos santelmos acendem os seus fachos azulados no tope dos mastros, é a gaivota, com seu grito estri...

Almanaque de curiosidades amazônicas: O exótico Pavão-do-mato

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     O Conde Ermanno Stradelli em sua obra Vocabulários da língua geral Portuguez-Nheêngatu-Nheêngatu-Portuguez, publicada na Revista do Instituto Historico e Geographico , t. 104, v. 158, 1929, explica que o  Pavão-do-mato ( Cephalopterus ornatus ) é um lindo pássaro azul escuro de larga poupa em forma de chapéu de sol e um apêndice carnoso, também coberto de plumas que lhe desce do pescoço em forma de badalo, e que lhe serve para tornar mais sonora a nota aflautada que costuma emitir.     Seu nome em Tupi é Uirá-membi , que significa "O flautista, pássaro flauta". O pássaro também é conhecido como anambé-preto, uirá-membi.     Eurico Santos em Pássaros do Brasil . 7. ed. 2004. p. 88-89 complementa:      Mede quase 45 cm de comprimento, sendo pois, um dos maiores pássaros da família. A plumagem é dum preto-azulado. Sobre a cabeça, uma poupa original se encurva para a frente e do pescoço lhe pende balouçante, um longo penduricalho ...

Viajantes: Festões e guirlandas naturais

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  Henry Walter Bates (1825-1892), naturalista inglês, relata em seu livro  O naturalista no rio Amazonas . 1944. v. 1. p. 221,  seu encontro com as flores na floresta amazônica e sua admiração pela beleza encontrada:                 O riacho  tinha umas cem jardas de largura, sendo mais estreito em alguns pontos. As duas margens estavam ocultas por dois altos reposteiros verdes, interrompidos aqui e ali, permitindo ver, sob as arcadas das árvores, clareiras com as palhoças dos sitiantes. Dos ramos das altas árvores que se projetavam sobre o rio, pendiam sobre o rio festões e guirlandas naturais e incalculável variedade de trepadeiras forrava as margens, das quais algumas, especialmente as Bignonias estavam cheias de flores de cores vivas. A arte não teria reunido tão harmoniosamente tão lindas formas vegetais, como o fizera a Natureza. [...]. Memora schomburgkii  (Bignoniaceae). Margaret Mee . Flores da...

Literatura: O esplendor da floresta equatorial

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Alfredo Lamartine em Tricentenário da Fundação de Belém . Pará: Livraria Bittencourt, [19--?]. p. 75-76, comenta sobre a exuberância de uma floresta tropical:          Em nenhum  recanto da terra a vida vegetativa é mais exuberante do que na depressão amazônica, nem se estende sobre tão amplos domínios. É a floresta equatorial com seu viço, a sua seiva, as suas grandes formas arborais, a sua pompa, o seu esplendor, que deteve Humboldt, encantando Spix e Martius, surpreendidos. Acompanhando o Amazonas em sua horizontalidade característica, divergindo para os vales laterais, seguindo-os, acompanhando-os desde as nascentes até a foz, espraiando-se em todos os sentidos, vasta, magna e virgem, a selva, aqui por estes longes do Brasil setentrional é uma admiração. É obra das grandes águas e do sol do equador, de que V. Hugo já dizia: "O sol do equador sobre as águas do Nilo Fez de um lagarto um crocodilo"            Tudo, na v...

Viajantes: As flores na floresta amazônica

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               Alfred Russel Wallace (1823-1913) fala sobre as flores na floresta amazônica em  em seu  livro Viagens pelo Amazonas e Rio Negro . 2004. p. 72:            Poucas árvores   da floresta estão agora em florescência. É um espetáculo verdadeiramente magnífico o contemplar-se uma grande árvore, que se cobre de flores em profusão.  Mas tudo isso está fora do alcance do curioso e extasiado naturalista.  É que tais flores somente se abrem por cima da enorme cúpula de verdura, exposta aos raios solares.         Em muitas dessas árvores, só se encontra uma única flor no mínimo a uma altura de 80 a 100 pés.  Estas florestas, em sua glória e esplendor plenos, apenas poderão ser vistas e devidamente reparadas, deslizando-se suavemente em um  balão sobre a ondulante e florida superfície.  Tal privilégio contudo, está reservado aos viajantes de eras ...

Almanaque de curiosidades amazônicas: As caprichosas orquídeas

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          Alfredo Ladislau em Terra imatura. 2008. p. 62  comenta sobre a vida das  orquídeas  nas florestas e  seu finíssimo perfume:          A  grande classe das epífitas, entretanto, disseminada em múltiplas variedades  de caprichosas orquídeas, difere, por sua orgulhosa vida autônoma, dessas esfaimadas fisális vegetais. São plantas boas, que não sacrificam os recursos, já armazenados, da economia alheia, nem mandam raízes a terra, para abrir competência com os vizinhos. Pedem, apenas, um encosto para sua reduzida carga de bolbos, um pouco de umidade e a frouxa luz, coada no verde filtro dos ramos. Apanham do ar os princípios fecundantes que a terra evapora e desses fluídos vitais, já purificados, absorvem os materiais impalpáveis que lhes vão formar a requintada estesia das flores, nas quais a natureza imprime os lampejos da sua fantasia criadora, quer na forma e colorido, quer nas sutilezas com q...

Viajantes: A espinhosa palmeira Tucum

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     G. Langsdorff (1774-1852), médico, naturalista e explorador comenta em Os Diários de Langsdorff. v. 3. 1997 sobre suas viagens ao Norte do Brasil, referindo-se as espinhosas palmeiras Tucum que encontrou:        Voltamos a ver borboletas e outros pássaros. Hoje, desde cedo, estamos navegando pelo pequeno braço esquerdo do rio, que neste local, forma uma ilha grande e plana. Após o almoço, remamos ainda algumas horas e retomamos o grande rio, cujas margens aqui são tão baixas que as águas já começam a cobri-las. É difícil encontrar um lugar seco para desembarcar. Há muitas palmeiras espinhosas (Tucum) e arbustos de vários tipos. Tucum ( Bactris setosa ) Expedição Langsdorff ao Brasil - 1821-1829. Desenho de  Aimé Taunay.            

Almanaque de Curiosidades Amazônicas: A ave Saci

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SACI - Ave da família dos Cuculídeos ( Tapera naevia ). Rodolpho Garcia diz que a superstição popular fez dessa ave uma espécie de demônio que pratica malefícios pelas estradas enganando os viajantes com as notas de seu canto, fazendo-os perder o rumo. Rodolpho Garcia em seu livro Nomes de aves em língua Tupi . 1913  diz que seu nome tem a seguinte etimologia: ( h-ang ) + cy, mãe que é igual a "mãe das almas", porque, segundo a lenda ele chupa a alma dos defuntos. Emílio A. Goeldi, zoólogo e naturalista suíço, em seu livro As aves do Brasil . 1894, diz:             O saci possui a fama de se transformar e é visto sob a forma de um pequeno tapuio. Outra vez de uma horrível mulher velha e magra. Essa ave que é tão misteriosa possui um assobio que ninguém sabe de onde vem, confundindo a todos, fica-se sempre ou muito longe ou muito perto, ou muito para a direita ou muito para a esquerda. Este modo de ser enigmático, e justamente o brado triste dera...

Viajantes: Um dia agradável!

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        Margaret Mee (1909-1988),  artista botânica inglesa, relata um dia agradável de sua viagem à Amazônia em sua obra Flores da floresta amazônica . 2. ed. 2010. p. 54:           O dia transcorreu de forma agradável, permitindo que os últimos raios do por do sol registrassem as plumas coloridas das araras, tucanos, garças, martins-pescadores barulhentos e bandos de  papagaios em seus voos de volta para suas casas. Pendurados nas árvores mais altas haviam ninhos de japiim, com seus habitantes protestando fortemente contra nossa invasão em seu território. Os golfinhos brincavam surfando na superfície do rio.           Em um momento de tensão, lutando para transpor as corredeiras do rio, percebi o barulho dos papagaios verdes brilhantes que voavam rasante sobre nós, seguidos por dezenas de pássaros tesoura. Nossa jornada foi iniciada em Manaus no dia 15 de julho, chegando a Maturacá no dia 2 ...

Viajantes: uma floresta luxuosa

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       J. Barbosa Rodrigues (1842-1909) comenta em sua publicação Exploração e estudo do Valle do Amazonas : Rio Tapajoz. 1875. p. 78-79 sua impressão sobre a floresta que entrou considerando-a um "floresta luxuosa", com seus inúmeros madeiros extraordinários.               Como que para compensar a mesquinhez e raridade de bonitas árvores no campo, a floresta apresenta-se luxuosa com seus imensos madeiros, todos com mais ou menos emprego nas artes e ofícios.           O Oenocarpus distichus e a Maximiliana regia , aí não só abundam, como tomam um desenvolvimento extraordinário. [...].           Em alguns lugares úmidos, cresce o marajá ( Bactris ) que se estende por alguns espaços. Goza-se aí na floresta uma frescura agradável, enquanto que no campo, apesar de alguma variação o calor é insuportável. Aí anima a floresta um pequeno pássaro esverdeado do gênero Tanagra ...

Os viajantes em Belém do Grão-Pará: Charles Marie De La Condamine (1701-1774) e sua chegada ao Pará

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            Nesta seção do Blog teremos narrativas de viajantes e naturalistas que visitaram Belém do Pará. Essas histórias e narrativas nos ajudarão a entender como era a cidade entre os séculos XVIII e XX, complementadas por fotografias ou ilustrações da época.             Charles Marie De La Condamine (1701-1774), cientista e explorador francês comenta em sua obra Viagem na Amazônia Meridional. 2000. p. 111-112,  comenta sobre sua chegada ao Pará:          No dia 19 de setembro, perto de quatro meses após minha partida de Cuenca, cheguei à vista do Pará que os portugueses chamam "Grão-Pará", ou seja "grande rio", na língua do Brasil; aportamos a uma habitação dependente do Colégio dos Padres Jesuítas. O Provincial nos recebeu, e o reitor aí nos reteve oito dias, e nos proporcionou todos os divertimentos de campo, enquanto nos preparavam acomodações na cidade. Achamos no dia 27, chega...

Almanaque de Curiosidades Amazônicas: Aguapé

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    Nesta seção do Blog, traremos histórias narradas por naturalistas, antropólogos e estudiosos do folclore amazônico, além de curiosidades e relatos relevantes sobre a região. Também exploraremos as palavras de origem Tupi ainda utilizadas pela população amazônica, baseando-nos nas narrativas de viajantes que passaram pela região e deixaram como legado dicionários e vocabulários que compilam termos aprendidos com os indígenas que falavam a Língua Geral. AGUAPÉ: São plantas aquáticas arredondadas com raízes adstringentes e altamente narcóticas. Contém muito tanino que quando muito lavadas perdem o princípio narcótico, tornando-se inócuas. A espécie Nymphaea alba é conhecida também como lírio d´água, golfo.     Quanto ao termo científico do gênero, Nymphaea , vem de Nympha , "habitante da água", explica J. Barbosa Rodrigues (1842-1909), naturalista e botânico brasileiro, em sua obra Hortus fluminensis.  1895. p. 12.     Para o Prof. Pirajá da Silva n...

Viajantes: No coração da floresta virgem

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Henry Walter Bates (1825-1892), explorador e naturalista inglês, em seu livro O naturalista no rio Amazonas. 1979 . p. 223 comenta sua passagem pela floresta virgem na Amazônia:            O vale vai-se estreitando à medida que se aproxima das cabeceiras do igarapé e a mata se tornando mais cerrada. O caminho aquático também diminui de largura e fica mais sinuoso por causa das árvores, agora mais juntas umas das outras. Os galhos de algumas delas se espalhavam pouco acima de nossas cabeça e se apresentavam carregados de epífitas; uma orquídea me chamou a atenção particularmente, por causa de suas flores amarelo-vivo que brotavam da ponta de hastes de vários metros de comprimento. Alguns troncos principalmente os das palmeiras, estavam cobertos logo abaixo da coroa por densos tufos de lustrosos potos de folhas em forma de escudo, de mistura com samambaias. Naquele ponto nós nos achávamos, de fato, no coração da floresta virgem ... Mata virgem com arara Peyr...

As plantas que povoam a floresta virgem

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          Entre todos os gêneros de plantas, que povoam a floresta virgem, distinguem-se, como por toda parte nas florestas tropicais, devido à peculiaridade de suas formas, particularmente os membros da família das Bombáceas, ou Sumaúmas, uma espécie de Malvácea que chama a atenção devido ao seu monstruoso tronco e galhos e ao viço de sua fronde. São numerosas as espécies de Palmeiras, entre elas deve-se salientar a tão bela quanto útil palmeira Buriti ( Mauritia flexuosa ) que, com as suas folhas em forma de leque, elevando-se frequentemente a mais de 100 pés no ar, em muitos lugares crescem tão juntas, que seus troncos verdes, lisos, alinhados um do outro, parecem paliçadas dum enorme forte.  Contrastam com esses troncos gigantescos a Juçara ( Euterpe edulis ) e a Açaí ( Euterpe oleracea ), muitas vezes crescendo junto a elas, que pertencem ao número das palmeiras mais delicadas, e sobretudo a nobre Anajá ( Maximiliana regia ), assim chamada pelo cé...

Aventuras de um desenhista francês na Amazônia

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            Acompanhava de longe os companheiros e, quando a água não me chegava ao pescoço, erguia os braços e fazia vagarosamente um esboço, lamentando não viesse atrás de mim um colega de pintura para apanhar minha figura, assim metido n´água, com a roupa e a espingarda penduradas às costas, e de braços no ar a desenhar. Seria muito pitoresco. Não me detinha a desenhar aspectos já familiares, mas ao transpor um trecho bosqueado de bambus e enfeitado de trepadeiras quando divisava as orquídeas a se balançarem como os lustres de uma catedral, sem quase se distinguir os delgados cipós que as substituem, não podia deixar de deter os passos e desenhar; realizava apenas um croqui numa proporção relativa de cada margem, porque os braços elevados depressa se fatigavam e tinha de deixar o trabalho mal iniciado. FONTE: BIARD, Auguste François. Dois anos no Brasil . Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2004. p. 93-94. (Edições do Senado Federal, Conse...

Os gigantescos aruns arborescentes

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       Uma das ilhas era baixa e arenosa e metade dela coberta de gigantescos aruns arborescentes, o Caladium arborescens , tantas vezes citado, que apresentavam estranho aspecto. Quase toda gente está familiarizada com a pequena espécie britânica, o Arum maculatum , que cresce nos canteiros, e muitas pessoas admiram espécies maiores nas estufas; pode, portanto, fazer uma ideia de uma floresta de tinhorões. Nessa ilhota os caules lenhosos das plantas, perto do chão, tinham oito a dez polegadas de diâmetro e as árvores doze a quinze pés de altura, todos cresciam tão chegados que apenas havia espaço suficiente para uma pessoa andar livremente entre eles. FONTE: BATES, Henry Walter. O naturalista no rio Amazonas .  São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1944. v. 1. p. 233. (Biblioteca Pedagógica Brasileira. Série 5a. Brasiliana, v. 237). Arun maculatum. Trew, C. J.; Ehret, G. D. Plantae selectae. v. 6, 1759. www.plantillustrations. org

Orquídeas: as "filhas do espaço"

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          Eu ia afinal atingindo as matas virgens por que  tanto suspirara; veria a essa natureza quase desconhecida dos outros homens, onde nunca o machado trabalhara. Tinha a impressão de ser o espectador de uma nova existência, de um outro mundo. Minha tendência de esmerilar o lado cômico do que até então me fora dado ver transformava-se numa inclinação para os pensamentos sérios, para um recolhimento meio religioso. Cada remada que me ia tornando mais perto dessas florestas grandiosas apagava um pouco as recordações do passado. Estreitava-se sensivelmente o rio como querendo juntar as duas margens, desapareciam os mangues, a água doce substituía a salgada; plantas aquáticas encobriam as praias; agora, árvores frondosas e gigantescas, cobertas de parasitas em flor, dessas orquídeas tão bem denominadas de filhas do espaço, pois vivem sem ter raízes, sem saberem bem por que, e como o acaso ali as colocou.  FONTE: BIARD, Auguste François. Dois ano...

As aves em atividades nas fruteiras silvestres

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               Todas as aves estavam em atividade e das fruteiras silvestres próximas ouvíamos frequentemente o grito estrídulo dos tucanos ( Rhamphastos vitelinus ). Quase todas as manhãs passavam, voando muito alto, pequenos bandos de papagaios, destacando-se no céu azul, sempre aos pares, a palrar, separados uns dos outros por intervalos regulares. Na altura em que iam não era possível apreciar-lhes o brilhante colorido. Depois do almoço dedicávamos o tempo, das 10 da manhã às três da tarde, à entomologia, pois o melhor tempo para os insetos na mata é um pouco antes da canícula. FONTE:  BATES, Henry Walter. O naturalista no rio Amazonas . São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1944. v. 1. p. 94. (Biblioteca Pedagógica Brasileira. Série 5a. Brasiliana, v. 237). Tucano J. Th. Descourtilz.  Pageantry of brazilian birds in their natural surrooundings . Amsterdam; Rio de Janeiro Colibris Ed. 1960.

As flores do Ingá

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          Dos ramos mais altos até rente à água, descem fitas de trepadeiras de folhagens as mais diversas e as mais ornamentais que se possa imaginar. Os convolvulos e outras trepadeiras utilizam as lianas delgadas e as raízes aéreas como escadas para subir por elas. De vez em quando aparece uma Mimosa ou outra árvore de folha recortada, e densas massas de ingazeiras chegam até a margem, com suas longas vagens pendentes dos ramos, de colorido e aspecto diversos, segundo as espécies, algumas tendo mais de uma jarda de comprimento. [...]. Há também algumas flores salpingomorfas amarelas e violetas (Bignoniaceas). As flores dos ingás, embora não sejam vistosas são de delicada beleza.  FONTE: BATES, Henry Walter. O naturalista no rio Amazonas . São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1944. v. 1. p. 257-258. (Série 5a. Brasiliana, v. 237 ). Inga insignis Kunth, K. S. Mimosas et autre plantes legumineuses du noveau continent. t. 13. 1819-1824. www. plantillu...

Legiões de saíras, tangarás, e tiês nas árvores altas ao longo dos igarapés e riachos

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A planície que a seguir se estende da praia às primeiras elevações do solo, são, de ordinário, arenosas e despidas, ou semeadas de grupos de cactáceas, que afetam múltiplas formas: globosas, em colunas, em candelabros ou reunidas em florestas eriçadas de espinhos acerados. Aí se encontram as peruinhas e pequenas espécies de pombas. Algumas aves de rapina, de caráter cruel e selvagem, pairam a procura de vítimas ou arrostam o ardor do sol, empoleiradas, imóveis sobre os arbustos pouco abundantes destas regiões, a que os naturais chamam restingas. Esta aridez, entretanto, desaparece nas vizinhanças dos riachos e dos lagos por eles alimentados onde crescem bambus e taludes de verdura. Mirtáceas, eugenias, tamarineiros e laranjeiras aí crescem com vigor; as árvores mais altas, que se sobrepõem a essas, abrigam legiões de tangarás, de saíras e tiês de cores vivas e brilhantes, mas cujas vozes raramente são melodiosas. [...]. FONTE: DESCOURTILZ, Theodore. História natural das aves do Brasil ...

Os Surucuás

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          Ora solteiros, ora aos casais, por toda parte em nossas matas se encontram os Surucuás, nas várzeas como nas serras, em regiões úmidas como em regiões secas, pobres d´água. Posso até assegurar que as touceiras quentes e secas de taquaras, nos lugares em que rendem matas, são os pontos prediletos desta ave; ali não é fácil deixar de encontrá-los. Ora é uma vara fina em cuja ponta curvada esta ave escolhe seu observatório, ora é o galho baixo, horizontal de um arbusto, ora o braço espesso de uma embaúba que se debruça na altura por sobre a vereda. Ali queda-se ela, sem cuidados, de olhos abertos para o mundo, sonhando ao sol grande. Apenas uma vez por outra notamos uma volta do pescoço ou um voejo curto, manso e silencioso como o da Coruja, dado na circunferência de alguns metros apenas, - trata-se então de algum inseto imprevidente, apanhado habilmente no largo bico encoberto de barbas. Quando está de bom humor ou sabe que a fêmea está perto, então...

Uma pitoresca cena nos furos dos rios da Amazônia

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          Deixando para trás o gigantesco rio Amazonas, o pequeno veleiro penetrava agora naquele estreito braço que conduziria até o rio Gurupatuba, onde se fazia sempre a completa ausência do vento;  e a mansuetude daquele lindo estirão embevecia o solitário pescador, induzindo-o sonhar com um mundo melhor. Olhava para as margens, tão perto uma da outra, e lembrava-se da destreza com que os pilotos dos navios conseguiam por ali passar até atingir o rio das muitas canoas, nome que os índios haviam denominado no passado. Apreciava sorrindo, o susto que os ananís, garças e piaçocas tomavam quando, silenciosamente, a canoa se aproximava das pequenas enseadas dos mururezais e capinzais encostados nas margens. Elas voavam cantando para outro lado, novamente à procura de novos cardumes de peixes miúdos e camarões. [...]. FONTE: FRIAES, Pinon. O extermínio do peixe-boi . 2. ed. [s.n.]. 1997. p. 37.    Patos e Marrecas Álbum de Aves Amazônicas ...

A Piaçoca

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          A "Piaçoca" é por aí talvez a ave a mais frequente de toda a ordem dos Grallatores. Nas partes mais planas do Brasil vive em todas as localidades pantanosas, nos campos úmidos, tanto no litoral como no interior, em todos os rios, e mesmo no interior, de regiões cobertas de mata, logo que surjam atravessadas por cursos d´água. Lá ela sapateia, de passo grave, sobre as grandes folhas largas das plantas aquáticas que se estendem na superfície (Nymphaeas, Pontederias, Eichhornias) e outros vegetais, (como as ilhas flutuantes de canarana), onde pode mover-se facilmente, graças ao seu pouco peso e ao comprimento dos dedos. [...]. Quando a gente se aproxima dela demais, seja a pé num pasto úmido, seja em rápida canoa na beira solitária de um rio, ela se levanta, voa um pedaço em direção horizontal, mas pousa de novo logo - pois não gosta propriamente de voar, nem o pode bem, visto as asas por demais curtas. Ela tem conhecimento disto. FONTE: GOELDI, Emíl...

A Madeira

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          Eu só vou louvar algumas da minha predileção. Ou do meu respeito. E vou dizendo logo o nome da itaúba preta, a preferida de quem gosta do que é bom e que nunca se acaba. Para esteio, assoalho, cumeeira, fundo de barco, casco de canoa, arpão (tem pescador de zagaia que prefere arpão de maçaranduba, por mais pesado), pernamanca de telhado, tacaniça, viga de sustentação - a itaúba é pau para toda obra. Mas desde que seja a parte do âmago. Não tem água, nem terra, nem cupim que dê com ela. Já a carne branca, a parte logo abaixo da casca, mestre carpinteiro que se preza não lida com ela. Maçaranduba, mogno, mungubeira, sucupira, pau-d´arco, preciosa, sumaumeira, açacu, jacarandá, acariquara, louro, cumaru. De cedreiro altaneiro não me esqueço, sobretudo do roxo, tão esquivo. Nem do lenho-mulato, pau de trava, muito menos da linda lombrigueira. FONTE: MELLO, Thiago. Amazonas : água, pássaros, seres e milagres do pedaço mais verde do planeta. Rio de Jane...

Uma autêntica selva de pântano tropical

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          A vegetação mostra uma autêntica selva de pântano tropical, como somente a fantasia mais corajosa a poderia imaginar. Em toda a parte vêm-se árvores de folhagem, do tipo de mangrove, debaixo de cujas raízes-escoras encurvadas poderia passar uma canoa, em caso de necessidade; palmeiras de yuary   defendidas por longos espinhos, altas palmeiras de miriti e os epífitos variados que podem viver a sua vida de parasitas, graças ao ar supersaturado de vapor d´água; tudo emaranhado por plantas trepadeiras, num caos inextrincável. FONTE: KOCH-GRUNBERG, Theodor.  Dois anos entre os indígenas : viagens no noroeste do Brasil 1903-1905. Manaus: EDUA/FSDB, 2005. Palmeira Jauari (Astrocarium jauary) Ilustração de J. Barbosa Rodrigues (1842-1909)