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Mostrando postagens de 2025

Literatura: Os papagaios

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      Eurico Santos (1883-1968) jornalista brasileiro,  em sua obra Da ema ao beija-flor.  2. ed. 1952. p. 207, comenta sobre o modo de vida dos papagaios:      Uma vez  terminada a incubação, reúnem-se as famílias em grandes bandos em procura das fruteiras silvestres. Quando descobrem uma roça de milho, então é um regabofe: abatem sobre ela muito caladinhos e só se ouve o "trac-trac" das mandíbulas.     À tarde após as excursões. volta o bando gárrulo ao pouso escolhido e, antes de se acomodarem, disputam os papagaios entre si os melhores sítios, surgindo altercações, roucas imprecações e beliscadas de arrancar penas.     Quando tudo já parece que serenou, rebenta nova discussão entre vizinhos mal acomodados e, de novo, o bando todo protesta contra o distúrbio e novamente o berreiro se alastra pela floresta.     Adensa-se o crepúsculo, as sombras da noite descem e então reina o silêncio no bivaque dos papagaios....

Almanaque de curiosidades amazônicas: O Tanguru-pará

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J osé Coutinho de Oliveira(1887-1965), folclorista, etnólogo e linguista da Amazônia,  em sua obra Imaginário amazônico. 2007. p. 138, relata essa curiosa  lenda sobre as aves rivais, o Japiim e o Tanguru-pará:               O japiim  tornara-se o horror da passarada.      O Tanguru-pará nunca se havia encontrado com o japiim. Vivia lá para a sua banda, cantando baixinho e ensaiando passos de dança clássica, para um dia apresentar-se a Tupã, na certeza de o agradar e ser contratado para a corte celeste.          Aconteceu, porém, que o Japiim, o avô dos japiins; pois a família aumentara muito na Terra, numa das suas viagens pela mata, ouviu aquele canto esquisito; foi-se aproximando, aproximando e deu com o tanguru a cantarolar e saltitar no galho de pau.          Daí a pouco estava a arremedar o inofensivo tanguru.     O tanguru era pacato, e por isso, qu...

Viajantes: As Embaúbas

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      Theodore Roosevelt (1858-1919), político, estadista e naturalista, em sua viagem à Amazônia, registrou em seu livro Nas selvas do Brasil . 2010. 1949. p. 149, o seguinte comentário:      Subimos  contra a rápida correnteza durante umas duas horas, a boa velocidade. As pás dos remos eram providas de ponta apropriada para evitar as barrancas do rio. A floresta tropical se apresentava compacta como uma parede; as árvores mais altas estavam entrelaçadas de cipós, e por entre os troncos se estendia uma vegetação rasteira e densa. Em muitos pontos somente se podia penetrar fazendo uso do facão. Com poucas exceções, as árvores eram, para mim, desconhecidas e seus nomes regionais em nada me esclareciam.        A maioria delas exibia uma folhagem espessa e entre as exceções a que me referi, achavam-se as embaúbas, que dão preferência  às terras de aluvião recente, despidas de outras árvores, e cujas folhas, segundo fui informado, ...

Literatura: O Urutau

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Eurico Santos em sua obra Da ema ao beija-flor . 1952. p. 233, comenta sobre a ave urutau considerada como um ente fantástico que amedronta a todos que a ouvem cantar:     Por mais que estejamos habituados aos misteriosos rumores da floresta, o grito do urutau perturba-nos a calma do sistema nervoso, fazendo-nos experimentar um sentimento indefinível, senão de medo, algo semelhante a ele. Parece que esse apelo lancinante, ao nosso sentir, transforma-se em doce harmonia aos ouvidos da companheira, que uiva outra tenebrosa resposta.     Para muitos essa ave não é considerada verdadeira e sim como um ente fantástico, inacessível às mãos e olhos humanos. Alguns a aceitam como ave mas de certa forma incomum, dotada de algumas qualidades que fogem às leis naturais, como a de preservar as moças das seduções, mantendo-as puras.     Segundo José Veríssimo a pele dessa ave que é chamada pelos naturais de Uirá-táu i : "pequeno pássaro fantasma" preserva às donzelas d...

Viajantes: Um passeio pela floresta

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Margaret Mee (1909-1988), artista botânica inglesa,  descreve nesse trecho de seu livro Flores da floresta amazônica: a arte botânica de Margaret Mee. 2. ed. 2010. p. 78 sua impressão sobre  um passeio que fez pela floresta onde encontrou orquídeas e outras árvores floridas:      A chegarmos à Cachoeira dos Índios, Araken, o cacique da aldeia, levou-me a um passeio pela floresta em sua canoa artesanal. Chegamos a uma adorável clareira, verde de tantas samambaias e musgos, onde pequenas nascentes brotavam pelas fendas das pedras. Em um galho coberto por musgo encontrei uma Clowesia warczewitzii, uma espécie de orquídea não encontrada pelos botânicos havia mais de oito anos.     Como não havia mais o que fazer na cachoeira, continuei na descida do rio. No caminho, encontrei uma bela orquídea azul, Acacallis cyanea, em flor. A Serra do Demini começou a surgir ao leste aos poucos. Agora começamos a perceber a chegada da primavera por causa das árvores flo...

Viajantes: Uma boa dúzia de beija-flores rutilantes

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Emílio A. Goeldi (1859-1917), naturalista suíço, que no final do século XIX, iniciou sua trajetória percorrendo à Amazônia paraense em missões científicas marcantes como diretor do então Museu Paraense - hoje - Museu Paraense Emílio Goeldi, comenta, no artigo Maravilhas da Natureza na Ilha de Marajó (Rio Amazonas) publicado no Boletim do Museu Paraense de História Natural e Ethnographia, t. 3, fasc. 1-4, p. 382, 1902,  suas observações sobre os beija-flores:             Apenas alguns passos fora da varanda do rancho eis-nos em pleno campo aberto, em chão de areia movediça, ao pé de duas árvores que a continuidade do vento torceu e inclinou. Uma é um cajueiro de flores vermelhas e outra uma morcegueira (Andira) revestida de corimbos roxos. Murmura-nos aos ouvidos o zumbir de uma nuvem de insetos, e uma boa dúzia de beija-flores rutilantes ajuda a animar o quadro, rápidos como flechas, ora pairando por momentos ante os cachos floridos. São de vária...

Literatura: O aristocrático "baile branco" das garças

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Alfredo Ladislau em Terra imatura . 2. ed. 1925. p. 58-59, comenta:          No meio, porém, desses verdadeiros festins das aves aquáticas da Amazônia, destaca-se o aristocrático "baile branco" das garças, na apropriada e sugestiva expressão de Alberto Rangel. Pousam aos grupos sobre as raras árvores desfolhadas, branqueando-as de nevados flocos, e quando baixam sobre o feltro macio das gramas, enroupadas nas plumagens alvíssimas, dão-nos a ideia de um bando de virgens que viessem todas as manhãs, para a comunhão da luz, na missa do dia.   Álbum de aves amazônicas 1900-1906 Desenho de Ernst Lohse (1873-1930)

Viajantes: O canto do Acauã sob o luar

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Helmut Sick comenta em Tukani: entre os animais e os índios do Brasil Central. 1997. p. 42, seu encontro com o Acauã, numa noite de luar:          A  lua estava cor de laranja e havia uma forte bruma, mas o luar, mesmo assim, era deslumbrante. Diante dos ranchos abria-se um largo cuidadosamente limpo que se estendia para o sul até nosso pequeno campo de pouso, cujo final mergulhava na escuridão. Ainda dava para localizar o Cruzeiro do Sul, que se inclinava sobre o horizonte para sumir na imensidão do cerrado. Vinha de lá, em estrofes cheias de ritmo, o canto do acauã (Herpetotheres cachinans). Dois exemplares dessa ave de rapina, amante da penumbra e, segundo dizem, grande destruidora de répteis venenosos, corresponderam-se por vários minutos com um dueto indecifrável Acauã ( Herpetotheres cachinans ) ELETRONORTE. Brasil 500 pássaros . 2000. Desenho de Antônio Martins .  

Um Blog sobre a Amazônia

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Descubra os relatos, memórias e encantos da natureza amazônica registrados há séculos em diários e publicações de naturalistas e viajantes. Visite: olimpiareisresque.blogspot.com, um Blog sobre a natureza amazônica. Diário de campo de Henry Walter Bates Copaíba . Copaifera langsdorffii

Almanaque de curiosidades amazônicas: As aves e o tempo

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O Jornalista Eurico Santos (1883-1968) relata em seu livro Histórias, lendas e folclore de nossos bichos. 1957,  informações curiosas sobre a relação que as aves têm com o tempo:        Há, a propósito das aves, observações curiosas.    Em  matéria de medir o tempo e  saber seguramente a hora, já que não é possível telefonar para o Observatório Astronômico, o povo do interior apela para o inhambu-relógio que canta a horas certas. [...].    O Mutumporanga, a exemplo do galo, canta à noite, precisamente à meia-noite, dizem uns, e há quem afirme que eleva o canto no momento exato em que a constelação do Cruzeiro do Sul atinge o seu ponto culminante.    Em matéria de astronomia, quer o povo que as aves estejam muito bem informadas.    Na Amazônia, dizem que nos primeiros dias, quando Ceuci, ou sejam as Pleiades, ao anoitecer, está quase na linha do horizonte os pássaros dormem nos poleiros mais altos.    ...

Literatura: Orquídeas de singulares coloridos

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         Aurélio Pinheiro em À margem do Amazonas. 1937. p. 122-123, relata impressões de uma floresta.           A floresta parecia tomada de fundo letargo, sem rumores sem ruídos de passos, sem vozes, sem sussurro da asa entre galhada  infinita, numa desolação de necrópole, adornada de verde, um verde absoluto e fatigante que se estendia no matupá, rolava na selva, subia nos ramos, ondulava por toda parte, num destemido, interminável domínio.           Nesse mudo império vegetal somente os frutos escarlates das mungubeiras, suspensos nos galhos desfolhados ou alguma orquídea de singulares coloridos enfeitando velhos troncos, ou as flores roxas dos mururés, quebravam alegremente a imensa monotonia. Pintura de Martin Johnson Heade  (1819-1904)

Almanaque de curiosidades amazônicas: A Anhuma

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  Rodolpho von Ihering em Dicionário dos animais do Brasil . 1968, assim descreve essa ave:       Ave (Palamedea cornuta), da família dos    Palamedeídeos, que na Amazônia é conhecida por    "cauintau" ou "cametaú" e "unicórnio. É ave grande, de 85    cm de comprimento comparável ao peru, mas caracterizada por várias singularidades. os pés têm dedos enormes, o que lhe facilita a locomoção nos banhados, sobre as plantas aquáticas. Na cabeça um "chifre", ou antes um espinho recurvado, córneo, de 12 centímetros de comprimento, está implantado sobre a pele, o bordo anterior da asa é provido de 2 esporões, dos quais a ave se utiliza como arma perigosa Esse esquisito chifre frontal de tal modo impressionou os naturais, que há muito tempo lhe são atribuídas virtudes curativas. Eurico Santos em seu livro Da ema ao beija-flor . 5. ed. 1990. p. 105-106 relata certas curiosidades dessa ave:          Para os supersticiosos a...

Viajantes: As flores púrpuras das orquídeas

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Franz Keller-Lëuzinger (1835-1890), botânico e explorador alemão narra trecho de seu livro  Os rios Amazonas e Madeira : esboços e relatos de um explorador. 2021. p. 170, com tradução, apresentação e notas  de Adriano Gonçalves Feitosa, onde relata sobre  as orquídeas e palmeiras encontradas nesse trecho de sua viagem:           Um misterioso crepúsculo segue em nosso encalço, intensificando o brilho dos derradeiros raios de sol que cai por sobre lustrosas palmeiras, ou por sobre as flores púrpuras das orquídeas. Troncos colossais, alguns de 6 a 10 metros em diâmetro, impõem-se como pilares suportando a pesada abóboda de folhagem verde e densa; abaixo, ofuscadas pelos gigantes da vizinhança, variedades de palmeiras altas e graciosas, desembaraçadas ou cobertas por arbustos, carregadas de frutinhas de amarelo ou vermelho vívidos, lutam entre si por um vislumbre de luz [...]. Laelia purpurata. J. Linden. Lindenia Orchid Prints, 1885.  

Viajantes: As famosas cuias pintadas

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O escritor português José Maria Ferreira de Castro (1898-1974) trabalhou como seringueiro,  durante quase quatro anos no Seringal Paraíso em plena Floresta Amazônica e, dessa experiência, escreveu o livro "A Selva". A seguir um trecho do romance A Selva 2. ed. 1937. p. 53:           As cuias, mais que as guloseimas, prendiam a atenção de Alberto. Já as conhecia de Belém, célebres por darem frescura e fino sabor à água que por elas se sorvia, mas nunca as vira em tanta fantasia e variedade. Fruto grande e redondo de muitos quilos, às vezes, os nativos serravam-no pelo meio, extraindo-lhe a polpa inútil e das duas metades da casca, submetidas a tratamento e tingidas de negro, faziam aqueles primores locais. Por fora, mãos pacientes abriam a branco sobre o fundo preto, caprichosos arabescos, uns falando de primitivas ingenuidades, outros impondo-se já por uma intenção de arte. Havia também as que não tinham sido serradas; cavara-se o fruto apenas dos lad...

Viajantes: A gaivota, a vigia dos navegantes na Amazônia

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Raimundo Morais (1875-1941), que serviu durante anos como comandante de navios fluviais na Amazônia, fala em sua obra Notas de um jornalista. 1924. p. 123-126,  sobre os hábitos das gaivotas e de como ajudam os navegantes nessa região:                              A ave  que mais se vê e se ouve, de dia e de noite, no volume da grande artéria, é a gaivota. Vindo do mar foi subindo este mediterrâneo fluvial como sucedeu a toninha, que virou boto, até os últimos filetes d´água. É um dos animais da fauna alada que mais prestam favores ao homem. De verão, em todo o curso da grande corda líquida, que flui sob a linha ideal do Equador, na volta do mês de dezembro, quando principiam a desabar os primeiros temporais, é ela o melhor vigia dos navegantes. Em noites escuras, eletrizadas, quando os fogos santelmos acendem os seus fachos azulados no tope dos mastros, é a gaivota, com seu grito estri...

Almanaque de curiosidades amazônicas: O exótico Pavão-do-mato

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     O Conde Ermanno Stradelli em sua obra Vocabulários da língua geral Portuguez-Nheêngatu-Nheêngatu-Portuguez, publicada na Revista do Instituto Historico e Geographico , t. 104, v. 158, 1929, explica que o  Pavão-do-mato ( Cephalopterus ornatus ) é um lindo pássaro azul escuro de larga poupa em forma de chapéu de sol e um apêndice carnoso, também coberto de plumas que lhe desce do pescoço em forma de badalo, e que lhe serve para tornar mais sonora a nota aflautada que costuma emitir.     Seu nome em Tupi é Uirá-membi , que significa "O flautista, pássaro flauta". O pássaro também é conhecido como anambé-preto, uirá-membi.     Eurico Santos em Pássaros do Brasil . 7. ed. 2004. p. 88-89 complementa:      Mede quase 45 cm de comprimento, sendo pois, um dos maiores pássaros da família. A plumagem é dum preto-azulado. Sobre a cabeça, uma poupa original se encurva para a frente e do pescoço lhe pende balouçante, um longo penduricalho ...

Viajantes: Festões e guirlandas naturais

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  Henry Walter Bates (1825-1892), naturalista inglês, relata em seu livro  O naturalista no rio Amazonas . 1944. v. 1. p. 221,  seu encontro com as flores na floresta amazônica e sua admiração pela beleza encontrada:                 O riacho  tinha umas cem jardas de largura, sendo mais estreito em alguns pontos. As duas margens estavam ocultas por dois altos reposteiros verdes, interrompidos aqui e ali, permitindo ver, sob as arcadas das árvores, clareiras com as palhoças dos sitiantes. Dos ramos das altas árvores que se projetavam sobre o rio, pendiam sobre o rio festões e guirlandas naturais e incalculável variedade de trepadeiras forrava as margens, das quais algumas, especialmente as Bignonias estavam cheias de flores de cores vivas. A arte não teria reunido tão harmoniosamente tão lindas formas vegetais, como o fizera a Natureza. [...]. Memora schomburgkii  (Bignoniaceae). Margaret Mee . Flores da...

Literatura: O esplendor da floresta equatorial

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Alfredo Lamartine em Tricentenário da Fundação de Belém . Pará: Livraria Bittencourt, [19--?]. p. 75-76, comenta sobre a exuberância de uma floresta tropical:          Em nenhum  recanto da terra a vida vegetativa é mais exuberante do que na depressão amazônica, nem se estende sobre tão amplos domínios. É a floresta equatorial com seu viço, a sua seiva, as suas grandes formas arborais, a sua pompa, o seu esplendor, que deteve Humboldt, encantando Spix e Martius, surpreendidos. Acompanhando o Amazonas em sua horizontalidade característica, divergindo para os vales laterais, seguindo-os, acompanhando-os desde as nascentes até a foz, espraiando-se em todos os sentidos, vasta, magna e virgem, a selva, aqui por estes longes do Brasil setentrional é uma admiração. É obra das grandes águas e do sol do equador, de que V. Hugo já dizia: "O sol do equador sobre as águas do Nilo Fez de um lagarto um crocodilo"            Tudo, na v...

Viajantes: As flores na floresta amazônica

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               Alfred Russel Wallace (1823-1913) fala sobre as flores na floresta amazônica em  em seu  livro Viagens pelo Amazonas e Rio Negro . 2004. p. 72:            Poucas árvores   da floresta estão agora em florescência. É um espetáculo verdadeiramente magnífico o contemplar-se uma grande árvore, que se cobre de flores em profusão.  Mas tudo isso está fora do alcance do curioso e extasiado naturalista.  É que tais flores somente se abrem por cima da enorme cúpula de verdura, exposta aos raios solares.         Em muitas dessas árvores, só se encontra uma única flor no mínimo a uma altura de 80 a 100 pés.  Estas florestas, em sua glória e esplendor plenos, apenas poderão ser vistas e devidamente reparadas, deslizando-se suavemente em um  balão sobre a ondulante e florida superfície.  Tal privilégio contudo, está reservado aos viajantes de eras ...

Almanaque de curiosidades amazônicas: As caprichosas orquídeas

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          Alfredo Ladislau em Terra imatura. 2008. p. 62  comenta sobre a vida das  orquídeas  nas florestas e  seu finíssimo perfume:          A  grande classe das epífitas, entretanto, disseminada em múltiplas variedades  de caprichosas orquídeas, difere, por sua orgulhosa vida autônoma, dessas esfaimadas fisális vegetais. São plantas boas, que não sacrificam os recursos, já armazenados, da economia alheia, nem mandam raízes a terra, para abrir competência com os vizinhos. Pedem, apenas, um encosto para sua reduzida carga de bolbos, um pouco de umidade e a frouxa luz, coada no verde filtro dos ramos. Apanham do ar os princípios fecundantes que a terra evapora e desses fluídos vitais, já purificados, absorvem os materiais impalpáveis que lhes vão formar a requintada estesia das flores, nas quais a natureza imprime os lampejos da sua fantasia criadora, quer na forma e colorido, quer nas sutilezas com q...

Viajantes: A espinhosa palmeira Tucum

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     G. Langsdorff (1774-1852), médico, naturalista e explorador comenta em Os Diários de Langsdorff. v. 3. 1997 sobre suas viagens ao Norte do Brasil, referindo-se as espinhosas palmeiras Tucum que encontrou:        Voltamos a ver borboletas e outros pássaros. Hoje, desde cedo, estamos navegando pelo pequeno braço esquerdo do rio, que neste local, forma uma ilha grande e plana. Após o almoço, remamos ainda algumas horas e retomamos o grande rio, cujas margens aqui são tão baixas que as águas já começam a cobri-las. É difícil encontrar um lugar seco para desembarcar. Há muitas palmeiras espinhosas (Tucum) e arbustos de vários tipos. Tucum ( Bactris setosa ) Expedição Langsdorff ao Brasil - 1821-1829. Desenho de  Aimé Taunay.            

Almanaque de Curiosidades Amazônicas: A ave Saci

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SACI - Ave da família dos Cuculídeos ( Tapera naevia ). Rodolpho Garcia diz que a superstição popular fez dessa ave uma espécie de demônio que pratica malefícios pelas estradas enganando os viajantes com as notas de seu canto, fazendo-os perder o rumo. Rodolpho Garcia em seu livro Nomes de aves em língua Tupi . 1913  diz que seu nome tem a seguinte etimologia: ( h-ang ) + cy, mãe que é igual a "mãe das almas", porque, segundo a lenda ele chupa a alma dos defuntos. Emílio A. Goeldi, zoólogo e naturalista suíço, em seu livro As aves do Brasil . 1894, diz:             O saci possui a fama de se transformar e é visto sob a forma de um pequeno tapuio. Outra vez de uma horrível mulher velha e magra. Essa ave que é tão misteriosa possui um assobio que ninguém sabe de onde vem, confundindo a todos, fica-se sempre ou muito longe ou muito perto, ou muito para a direita ou muito para a esquerda. Este modo de ser enigmático, e justamente o brado triste dera...

Viajantes: Um dia agradável!

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        Margaret Mee (1909-1988),  artista botânica inglesa, relata um dia agradável de sua viagem à Amazônia em sua obra Flores da floresta amazônica . 2. ed. 2010. p. 54:           O dia transcorreu de forma agradável, permitindo que os últimos raios do por do sol registrassem as plumas coloridas das araras, tucanos, garças, martins-pescadores barulhentos e bandos de  papagaios em seus voos de volta para suas casas. Pendurados nas árvores mais altas haviam ninhos de japiim, com seus habitantes protestando fortemente contra nossa invasão em seu território. Os golfinhos brincavam surfando na superfície do rio.           Em um momento de tensão, lutando para transpor as corredeiras do rio, percebi o barulho dos papagaios verdes brilhantes que voavam rasante sobre nós, seguidos por dezenas de pássaros tesoura. Nossa jornada foi iniciada em Manaus no dia 15 de julho, chegando a Maturacá no dia 2 ...

Viajantes: uma floresta luxuosa

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       J. Barbosa Rodrigues (1842-1909) comenta em sua publicação Exploração e estudo do Valle do Amazonas : Rio Tapajoz. 1875. p. 78-79 sua impressão sobre a floresta que entrou considerando-a um "floresta luxuosa", com seus inúmeros madeiros extraordinários.               Como que para compensar a mesquinhez e raridade de bonitas árvores no campo, a floresta apresenta-se luxuosa com seus imensos madeiros, todos com mais ou menos emprego nas artes e ofícios.           O Oenocarpus distichus e a Maximiliana regia , aí não só abundam, como tomam um desenvolvimento extraordinário. [...].           Em alguns lugares úmidos, cresce o marajá ( Bactris ) que se estende por alguns espaços. Goza-se aí na floresta uma frescura agradável, enquanto que no campo, apesar de alguma variação o calor é insuportável. Aí anima a floresta um pequeno pássaro esverdeado do gênero Tanagra ...