Almanaque de curiosidades amazônicas: A Anhuma

 Rodolpho von Ihering em Dicionário dos animais do Brasil. 1968, assim descreve essa ave:

     Ave (Palamedea cornuta), da família dos    Palamedeídeos, que na Amazônia é conhecida por    "cauintau" ou "cametaú" e "unicórnio. É ave grande, de 85    cm de comprimento comparável ao peru, mas caracterizada por várias singularidades. os pés têm dedos enormes, o que lhe facilita a locomoção nos banhados, sobre as plantas aquáticas. Na cabeça um "chifre", ou antes um espinho recurvado, córneo, de 12 centímetros de comprimento, está implantado sobre a pele, o bordo anterior da asa é provido de 2 esporões, dos quais a ave se utiliza como arma perigosa Esse esquisito chifre frontal de tal modo impressionou os naturais, que há muito tempo lhe são atribuídas virtudes curativas.

Eurico Santos em seu livro Da ema ao beija-flor. 5. ed. 1990. p. 105-106 relata certas curiosidades dessa ave:

        Para os supersticiosos aquele apendículo frontal não fora colocado na anhuma sem uma secreta e cabalística intenção. Era evidente que a Natureza não desperdiçaria seu tempo. Qualquer virtude encerrava o unicórnio e, como a felicidade se mostra tão esquiva neste mundo, talvez estivesse ali um pronto alívio dos males, um para raios para todas as desgraças que por aí andam  em turbilhões. Estavam prognosticando um talismã, mas logo se descobriu que a anhuma inteira, especialmente os ossos, encerravam insuspeitadas virtudes.

            Assim é que no interior penduram um osso dessa ave no pescoço de um pagãozinho e este resiste ao mal de sete dias, ao quebranto, ao ventre virado e outras desgraças do mesmo naipe.

      Em caso de picada de cobra, basta tocar no local ofendido com o bico dessa ave para o cidadão ficar "curado" num átimo como me confessou certo caipira, especialmente se a cobra não for venenosa, acrescento eu.

LITERATURA:

F. C. Hoehne comenta na obra de Eurico Santos. Da ema ao beija-flor. 5a. ed. 1990. p. 102-103.

            Empoleirada numa das mais altas e encipoadas copas de árvore, ela descortina o horizonte e devassa o curso do rio. Quando uma canoa ou ubá se aproxima pelo último ou quando alguém sorrateiramente emerge de uma mata, este guarda, correligionário do curupira, solta o seu estridente grito de alarme "Tan gente" e, ao mesmo instante, podem-se ver todos os animais atentos, largando em fuga. Patos, marrecas, macacos, aracuans, jacutingas, veados, capivaras, antas, onças e tudo que ali vive obedece a este sinal. Até o teimoso jacaré levanta a cabeça, pisca os olhos e deixa-se escorregar mansamente para a água onde submerge.

LITERATURA:

Michael Goulding em  História natural dos rios amazônicos. 1997. p. 63, comenta sobre algumas características da anhuma:

                A anhuma é talvez a ave de aparência mais esquisita vista perto dos matupás. Essa espécie parece o resultado do cruzamento entre galinha e urubu, com uma antena colocada sobre a cabeça. Sua relação evolutiva com outros grupos de aves não é conhecida e, apesar de compartilhar algumas características anatômicas com patos e gansos, superficialmente não se assemelha a nenhum deles. Na Amazônia, a anhuma é encontrada principalmente nas áreas de várzea dos rios barrentos, onde as plantas herbáceas aquáticas são abundantes. É particularmente barulhenta, por causa dos sons estridentes que emite quando no solo ou enquanto voa. Aprecia muito os aguapés, especialmente as folhas novas, mas também se alimenta de outras plantas aquáticas, inclusive de alguns tipos de gramínea. Quando os lagos de várzea secam e a produção de plantas aquáticas fica bastante reduzida, as anhumas migram para outras  áreas.


Anhuma
Leop. Jos. Fitzinger. Bilder-Atlas zur Wissenschafthich - Popularen naturgeschichte der Vögel in ihren Sämmtlichen hauptformen. 1864.
www.biodiversitylibrary.org

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