Almanaque de curiosidades amazônicas: O Tanguru-pará
José Coutinho de Oliveira(1887-1965), folclorista, etnólogo e linguista da Amazônia, em sua obra Imaginário amazônico. 2007. p. 138, relata essa curiosa lenda sobre as aves rivais, o Japiim e o Tanguru-pará:
O japiim tornara-se o horror da passarada.
O Tanguru-pará nunca se havia encontrado com o japiim. Vivia lá para a sua banda, cantando baixinho e ensaiando passos de dança clássica, para um dia apresentar-se a Tupã, na certeza de o agradar e ser contratado para a corte celeste.
Aconteceu, porém, que o Japiim, o avô dos japiins; pois a família aumentara muito na Terra, numa das suas viagens pela mata, ouviu aquele canto esquisito; foi-se aproximando, aproximando e deu com o tanguru a cantarolar e saltitar no galho de pau.
Daí a pouco estava a arremedar o inofensivo tanguru.
O tanguru era pacato, e por isso, quando se zangava, zangava mesmo.
- Que é isso camarada, por acaso me estou metendo na tua vida? perguntou ao japiim, que não fez caso e continuou no arremedo.
O tanguru voa-lhe em cima e engalfinharam-se. A briga foi feia. As penas saltavam de ambos os contendores. Daí a instantes chegavam espectadores e a torcida era grande pelo tanguru, que num momento feliz conseguiu ferir o adversário no coração. O sangue espirrou e o japiim caiu morto. A ovação da assistência coroou a vitória do tanguru-pará.
Tupã, que a tudo assistira falou: "De agora em diante todos os teus descendentes trarão ao bico a marca desta vitória".
E é por isto que o tanguru-pará tem o bico vermelho.
E é por isto, também, que os japiins continuam a arremedar todos os pássaros, exceto o tangurú-pará.
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| Tanguru-Pará à direita Álbum de Aves Amazônicas (1900-1906) Ilustração de Ernst Lohse (1873-1930) |
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