Almanaque de curiosidades amazônicas: O exótico Pavão-do-mato
O Conde Ermanno Stradelli em sua obra Vocabulários da língua geral Portuguez-Nheêngatu-Nheêngatu-Portuguez, publicada na Revista do Instituto Historico e Geographico, t. 104, v. 158, 1929, explica que o Pavão-do-mato (Cephalopterus ornatus) é um lindo pássaro azul escuro de larga poupa em forma de chapéu de sol e um apêndice carnoso, também coberto de plumas que lhe desce do pescoço em forma de badalo, e que lhe serve para tornar mais sonora a nota aflautada que costuma emitir.
Seu nome em Tupi é Uirá-membi, que significa "O flautista, pássaro flauta".
O pássaro também é conhecido como anambé-preto, uirá-membi.
Eurico Santos em Pássaros do Brasil. 7. ed. 2004. p. 88-89 complementa:
Mede quase 45 cm de comprimento, sendo pois, um dos maiores pássaros da família. A plumagem é dum preto-azulado. Sobre a cabeça, uma poupa original se encurva para a frente e do pescoço lhe pende balouçante, um longo penduricalho emplumado, como se fosse um badalo.
Ora, só essas duas peças já dariam o que falar desse esquisitão, mas ele ainda mais surpreso nos deixa ao sabermos que, quando emite o seu grito aflautado, o estranho badalo se incha, como o fole de uma gaita. Vejam só a que se expõe um pobre bicho, quando Dona Natureza está disposta a brincadeiras.
O anambé-preto, entretanto, não se rala, com todas essas quinquilharias, que é obrigado a carregar desde que nasce. vive muito satisfeito e até parece que se enche um tanto de vaidade com a comenda que lhe orna o peito. A fêmea, que é um pouco menor, carece do penduricalho e mostra topete pequeno, não muito caído. [...].
LITERATURA: O Naturalista inglês Henry Walter Bates (1825-1892) relata em seu livro Um naturalista no rio Amazonas. 1979. p. 247 seu encontro com o uirá-membi:
Tive também o prazer de ver ali pela primeira vez o uirámembi, Cephalopterus ornatus, um pássaro que se assemelha no tamanho, cor e aspecto ao nosso corvo comum, mas possui um topete de longas plumas recurvas, que quando se eriçam formam no alto da cabeça uma espécie de para-sol franjado. Tem também um estranho penduricalho no pescoço, composto de um chumaço de sedosas penas azul-aço, que revestem uma longa excrescência carnuda. Essa excrescência, ou lóbulo, é ligada à traqueia e aos órgãos vocais que são hipertrofiados, fato esse, sem dúvida, ao qual o pássaro deve o seu canto grave e forte que soa como uma longa nota aflautada. [...]. Tivemos sorte de ouvi-lo cantar, depois de termos ficado quietos por um certo tempo. Ele esticou o corpo, levantou o topete, abrindo-o como um para-sol, estufou o penduricalho no deu peito e soltou o seu canto alto e aflautado, inclinando a cabeça levemente para a frente. [...]. Essa ave parece estar confinada às planícies do Alto-Amazonas (principalmente aos igapós), nunca sendo encontrada a leste do rio Negro.
Pavão-do-mato - Uirá-membi. (Cephalopterus ornatus)
J. Th. Descourtilz. Oiseaux brillans du Brésil. 1834.
www.biodiversitylibrary.org
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