Viajantes: A gaivota, a vigia dos navegantes na Amazônia

Raimundo Morais (1875-1941), que serviu durante anos como comandante de navios fluviais na Amazônia, fala em sua obra Notas de um jornalista. 1924. p. 123-126,  sobre os hábitos das gaivotas e de como ajudam os navegantes nessa região:     

           

        A ave que mais se vê e se ouve, de dia e de noite, no volume da grande artéria, é a gaivota. Vindo do mar foi subindo este mediterrâneo fluvial como sucedeu a toninha, que virou boto, até os últimos filetes d´água. É um dos animais da fauna alada que mais prestam favores ao homem. De verão, em todo o curso da grande corda líquida, que flui sob a linha ideal do Equador, na volta do mês de dezembro, quando principiam a desabar os primeiros temporais, é ela o melhor vigia dos navegantes. Em noites escuras, eletrizadas, quando os fogos santelmos acendem os seus fachos azulados no tope dos mastros, é a gaivota, com seu grito estridente, que denuncia as praias e os bancos. Mal o navio se avizinha dos tabuleiros de areia, ouve-se aquela voz de mãe aflita, que defende o ninho. [...]. Os viajantes já sabem: é banco no quadrante donde vier o aviso está seco. Vale por um sinal, pois, que ajuda a derrota. Mas não é só de verão que ela presta serviços ao tráfego, de inverno também. Quando o rio transborda, que começa a descer ao som da corrente, na flor da água, toda a sorte de corpos de ilhas flutuantes, compostas de gramíneas, de ninfeias, de galhadas, a gaivota dá o sinal, pois os periantans, legítimo nome ao que o sulista chama barrancos, servem-lhe de pouso, são o seu barco, o seu transporte. Grandes troncos de árvores, em geral cedros tombados dos taludes marginais, vêm de bubuia cobertos de gaivotas. De noite são perigosos para as hélices dos vapores esses madeiros flutuantes. Pois bem! Mal a embarcação chega próximo, do tronco, as gaivotas, numa revoada, avisam, por um grito metálico, qual a direção do toro que deriva sobre as águas. Os oficiais de quarto desviam logo o navio desse rumo. Os seus hábitos de vida, como se vê, são úteis aos homens, aos marinheiros, aos armadores. [...].


Carará -Mergulhões - Gaivotas  (embaixo)- Trinta-réis - Arirambas. 
Álbum de aves amazônicas. 1900-1906
Desenho de Ernst Lohse (1873-1930)







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