As solitárias aves pernaltas
" Ao caminhar ao longo daquela praia fluvial, várias coisas ali me lembravam a beira do mar. Bandos de gaivotas brancas planavam no alto do céu, soltando seus pios característicos, enquanto numerosos maçaricos desfilavam pela beira d´água. Solitárias aves pernaltas perambulavam, com ar solene, para cá e para lá. Uma delas, a curicaca (Ibis melanopis), levantou voo à minha frente soltando um cacarejo surdo, sendo logo seguida por um pássaro, o unicórnio (Palameda cornuta), que voou de uma moita assustado, com a minha presença; seus pios roucos, lembrando o zurro de um asno, porém mais agudos, perturbaram desagradavelmente a quietude do lugar. Entre as moitas de salgueiros viam-se bandos de um belo pássaro da família dos icterídeos, ornados com uma linda plumagem negra e amarelo açafrão. Passei algum tempo observando um bando de pássaros que os nativos chamam de tamburi-pará; achavam-se todos agrupados nas cecrópias. Trata-se do Monasa nigrifrons, segundo a classificação dos ornitólogos; sua plumagem é cor de chumbo e seu bico alaranjado. Pertence à família dos capitonídeos, cujos os membros, em sua maioria, são conhecidos por seu temperamento indolente e pouco vivaz. As espécies classificadas como pertencentes ao gênero Bucco são chamadas pelos índios, na língua tupi, de taiaçu-uirá, ou pássaro-porco. Esses pássaros permanecem por horas a fio pousados em bandos nos ramos baixos das árvores, à sombra, e só se animam a fazer algum esforço quando algum inseto passa voando perto deles. Já os tamburi-pará mostravam-se o oposto deles; saltitavam e esvoaçavam de ramo em ramo, perseguindo uns aos outros alegremente, e enquanto se divertiam dessa maneira soltavam pios curtos e melodiosos que produziam, em conjunto, um coro musical que muito me surpreendeu". Henri Walter Bates (1825-1892). Um naturalista no rio Amazonas. 1979, p. 114.
Curicaca-Colhereiro-Arapapá. Augusto Ruschi. Aves do Brasil. v. 2, 1986. |
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