Barra do Rio Negro


"No dia 31 de dezembro de 1849 chegamos à cidade de Barra do Rio Negro. Na véspera desse dia, ao por do sol, ainda estávamos nas águas amarelas do Amazonas, mas continuamos remando pela noite a dentro, até bem tarde. Ao chegarmos à confluência do Rio Negro, junto a uns rochedos, paramos nos baixios da margem e ali pegamos alguns peixes. Quando raiou a manhã, vimos com surpresa que as águas haviam sofrido uma extraordinária modificação. Podíamos até imaginar que estivéssemos no Rio Estige, pois as águas que nos rodeavam pareciam antes uma tinta preta, a não ser onde as alvas areias, a alguns pés abaixo da superfície, rebrilhavam com laivos dourados. Na realidade, a água tem uma pálida coloração pardacenta, conforme se pode observar colocando-a num copo de vidro. Mas quando ela está reunida na volumosa massa deste rio profundo, adquire uma cor preta como azeviche, justificando plenamente o seu nome de Rio Negro. [...].
A cidade de Barra do Rio Negro está situada na margem oriental do Rio Negro, a doze milhas de sua confluência com o Amazonas. Assenta-se em terreno irregular, a uma altitude média de uns trinta pés acima do nível do rio. Atravessam-na dois córregos tão insignificantes que até parecem valos. Na época das chuvas, porém, as águas sobem consideravelmente nos seus leitos. Para atravessá-los, foram construídas duas pontes de madeira sobre cada um. As ruas são dispostas de maneira regular, mas não têm qualquer tipo de calçamento. Ademais, são esburacadas e cheias de altos e baixos tornando bem desagradável o ato de caminhar-se por elas à noite. [...]". Alfred Russel Wallace (1823-1913). Viagens pelos rios Amazonas e Negro. 1979, p. 109.
 
 
 
Barra do Rio Negro
Aquarela de Jacques Burkhart, 1865.


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