Viajantes: Botos no Araguaia.
"Aparecem ao redor da canoa os primeiros botos, resfolegando ruidosamente e expelindo a água pelo focinho, em altos jatos. Como o peixe-boi, a baleia e a doninha, o boto é um cetáceo, animal aquático de sangue quente, possuindo pulmões ao invés de brânquias, de maneira que tem necessidade do ar atmosférico para respirar de espaço a espaço. [...]. Comum na Amazônia, nos mais remotos recantos deste sistema fluvial constata-se a sua presença. Os caboclos tratam-no como animal sagrado e ninguém o mata, porque a lenda lhe atribui a virtude de proteger os náufragos aos quais empurra com a cabeça para as margens dos rios. Persegue desapiedadamente os peixes com exceção somente dos de elevado porte, e demonstra habilidade extraordinária quando os encurrala nos remansos onde consegue pródigas caçadas. Creio que o privilégio do boto termina unicamente nas garras da onça, que às vezes vence a sua astúcia, pegando-o nos lugares rasos. [...]". Hermano Ribeiro da Silva. Nos sertões