Na densa floresta
"Na floresta densa voam guarás vermelhos como labaredas e tucanos de purpurina plumagem como ígneos lampejos, aladas chamas, nesse reino ornitológico faunístico, onde se assiste o singularíssimo tumultuar de asas e de garras. É o ambiente próprio, o cenário a preceito desse mundo imaginoso do habitante ingênuo.
Ouve-se, vê-se, sente-se ou advinha-se como canta Plínio Salgado no seu admirável poema:
...o riso selvagem das bromélias,
as sedas vaporosas das orquídeas,
a orgia das asas das araras,
o ouro dos ipês, dos muricis e dos timbós,
o roxo das paineiras, jacarandás e sapucaias,
a púrpura dos suinãs,
as faces coradas das mangabas,
os lábios rubros das pitangas,
o papo imperial dos tucanos
e a túnica escarlate dos guarás.
Todo esse mundo assombroso onde:
...as iaras desfraldam as bandeiras
do arco-íris
nas folhas,
e nas flores,
e na plumagem das aves.
À beira dos rios escutam traiçoeiros os jacarés, passeiam nostalgicamente jacamins e mutuns, este negro, de crista amarela, como áureo diadema, ambos pernaltas; aquele com o seu canto monocórdico, gutural; este soltando na noite silenciosa um som contundente de corda de harpa repuxada com violência; as colhereiras de tom rosado, os casais de torcazes e as garças brancas ou cinzentas - aristocráticas, que traçam no azul cobaltino, no esplendor dos poentes inenarráveis, um recorte airoso por sobre a multiplicidade bem harmonizada de verde, estranha sinfonia de uma só cor em múltiplos tons". Gastão de Bettencourt (1894-1962). A Amazônia no fabulário e na arte. 1946 p. 57-59.
Uma densa floresta Johann Moritz Rugendas (1802 - 1858) |
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