Palmeiras amazônicas


"[...]. Aqui, de troncos retos, esbranquiçados, pardos, escuros, manchados; ali, em corcovas, em anéis, em arcos; além, trepando pelo caule das árvores, invocam serpentes monstruosas que tivessem glaucas orelhas de burro. Lisas numa espécie, enrugadas noutra, sem acúleos nesta, espinhentos naquela, amigas da claridade hoje, dadas à penumbra amanhã, as palmeiras amazônicas não somente guardam o sentido da Planície, pelas transformações que sofrem de dia para dia, como pelos deslocamentos que lhes imprimem as correntes fluviais, as marés oceânicas, levando-as dum extremo a outro, transplantando-as, alterando-lhes a estrutura, o colorido, o porte.
Além dessa mobilidade proveniente da ação hídrica, força viva e constante no vale, elas varam, pela mão do homem, do seu habitat agreste para os povoados, para os vilórios, para as cidades, e vão numa apoteose peregrina, abrindo os leques nos jardins, nos parques, nas ruas, nas salas, nos templos. É um molde de beleza que se topa em todos os ângulos da bacia. A clorofila que as tinge, nuançada em mil tonalidades, dilui-se no azul, no cinzento, no roxo, no pardo, no vermelho. Na concorrência em busca do sol, esses indivíduos chegam-se tanto às margens, que representam, naquele lance geográfico da planura, vizinho do mar, a terceira manifestação vegetal de qualquer terra nova. Nos furos, nos canais, nos poções, nos igarapés dos verdejantes Estreitos de Breves, parece haver, pelo decorativo da palmeira, uma eterna festa da Primavera, tal a ornamentação da selva". 

FONTE: MORAIS, Raimundo. Paiz das pedras verdes. Manaus: Imprensa Pública, 1930, p. 99-100.


Oenocarpus minor - Bactris acanthocarpoides
João Barbosa Rodrigues (1842-1909). Sertum palmarum brasiliensium ou Relation des palmiers nouveaux du Brésil, découverts, décrits et dessinés d´aprés nature. 1903.
www.biodiversitylibrary.org

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