Quando o sol se esconde atrás das árvores


"O tempo estava agora firme e seco, e o rio baixa rapidamente - seis polegadas em vinte e quatro horas. Nesse recanto remoto e solitário posso dizer que ouvi pela primeira e quase única vez, o tumulto da vida ao por do sol, que Humboldt diz ter assistido nas fontes do Orenoco, mas que é desconhecido nas margens dos outros rios maiores. Os ruídos dos animais começam  logo que o sol se esconde atrás das árvores, depois de tarde abafadiça, deixando o céu tinto de azul intenso. Dois bandos de guaribas, um perto de nossa embarcação, o outro a um oitavo de milha de distância, enchiam as matas de seu horrendo bramido. Bandos de papagaios, incluindo as araras azuis que buscávamos, começaram a passar e os diferentes estilos de guinchos e crocitos faziam terrível desafinação. Juntavam-se a estes ruídos os cantos de estranhas cigarras. Uma grande espécie pousava nos ramos altos das árvores em torno de nossa pequena enseada, fazia o mais estridulo zangarreio: começou com as notas ásperas e dissonantes, comuns de sua tribo, mas estas gradativamente se tornaram mais agudas até que terminaram em nota alta, parecendo o silvo de uma locomotiva. Meia dúzia destes pasmosos executantes tomavam parte considerável no concerto vespertino. Já ouvia antes a mesma  espécie no Pará, mas era aí muito rara. [...]. O ruído de animais, aves e insetos demorou pouco tempo; o céu perdeu rapidamente o seu tom intenso e a noite caiu - quck - quack, drum - drum, hu-hu. Estas, acompanhadas por um melancólico bacurau, soltaram seus monótonos gritos até tarde da noite". Henry Walter Bates (1825-1892). O naturalista no rio Amazonas. 1944. v. 2, p. 135-136.




Pôr do sol  na Baía do Guajará em Belém do Pará
Brasil-Amazônia
Fotografia de Olímpia Reis Resque -  Jul. 2018





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