Orquídeas preciosas
"[...]. Ergueu-se e apanhou a flor. Quanto valeria aquilo em Portugal? E a mata estava cheinha delas! Eram orquídeas preciosas, de recorte bizarro e cores surpreendentes, cataléas de pétalas tersas de lírio, que tinham algo de sexo virgem e fascinavam como uma ilusão. Parasitárias, as raízes que lhes davam vida prendia-se, como tentáculos, a caules de seiva rica e nunca mais desfaziam o abraço. E o drama não era único. Metade da selva vive da outra metade, como se a terra não bastasse para o império vegetal e fosse necessário sugar as árvores que chegaram primeiro. Não havia ramagem que não alimentasse, com o próprio sangue, o seu parasita - as grinaldas estranhas que a envolviam. O apuiseiro de vasta bibliografia, levava mais longe o seu despotismo: a princípio, era semente anônima, pousada numa forquilha; depois, raiz bamboleante e humilde, procurando, a medo, a terra distante e, por fim, devorava toda a árvore, até ficar sozinho. Na sua mudez, aquele mundo vegetal tinha feroc