Um penumbroso caminho!
"Partimos ao amanhecer numa pequena igarité manobrada por seis jovens remadores indígenas. Depois de navegarmos quatro quilômetros e meio através do trecho mais largo do igarapé - o qual, rodeado pela mata, tem a aparência de uma lagoa - chegamos a um ponto onde nosso caminho foi interrompido por uma impenetrável barreira de árvores e arbustos. Levamos algum tempo para encontrar uma passagem, mas quando nos vimos dentro da mata causou-me admiração o cenário que tinha diante dos olhos. Foi o meu primeiro contato com esses singulares caminhos aquáticos. Uma estreita alameda razoavelmente reta, estendia-se diante de nós a perder de vista; de cada lado, a copa dos arbustos e de árvores baixas formava uma espécie de borda ao longo do caminho, enquanto que troncos de gigantescas árvores se elevavam da água a intervalos irregulares, suas ramagens se entrelaçando muito acima de nossas cabeças e formando um espesso dossel. Finas raízes aéreas pendiam em feixes do alto, e alças de cipó dependuravam-se nos galhos mais baixos; tufos de capim, de tilândsias e de samambaias enganchavam-se nas forquilhas mais grossos, e na parte inferior dos troncos das árvores, ais próxima da água, grudava-se uma massa seca formada de esponjas de água-doce. Não havia correnteza perceptível e a água tinha uma tonalidade verde-escuro; entretanto, os troncos submersos eram visíveis até uma grande profundidade. Durante três horas navegamos em boa velocidade por esse penumbroso caminho; [...]. Nossas vozes ecoavam soturnamente naquele ermo, e o ruído feito pelos peixes ao espadanarem água na superfície nos dava sobressaltos. Um ar frio, úmido e pegajoso pairava sobre o penumbroso caminho." Henry Walter Bates (1825-1892). Um naturalista no rio Amazonas. 1979, p. 223.
Um Igarapé na Amazônia Johann Baptist von Spix. Selecta genera et species piscium. 1829. |
Comentários
Postar um comentário