Viajantes: Macaquinhos na floresta.



"[...]. Poucos dias atrás, ouvi um ruído estranho e um estrondo na mata, que a princípio não conseguia explicar. Por um momento, pensei que uma gigantesca árvore tinha caído no meio da mata, tamanho foi o estalo da galharia; notei, então, que o barulho mudava de lugar e achei que era o estouro de um bando de animais de grande porte, quem sabe até porcos selvagens correndo pelo mato. Por fim, quando o barulho que vinha em minha direção estava bem perto, ouvi também o chilro agudo e estridente com o qual  todos os nossos macaquinhos se distinguem, porém sem conseguir ver nada além de alguma sombra por entre os galhos, de vez em quando. Então, de repente, surgiu numa copa de palmeira mais baixa, bem perto de mim, uma cabecinha: duas orelhinhas pontudas e cara rosada com focinho preto permitiram reconhecer, na mesma hora, o meu predileto do jardim zoológico, o macaco-de-cheiro (Chrysotrix sciurea), atual Saimiri sciureus. Por vários instantes, ficamos nos olhando imóveis, cheios de interesse um pelo outro; então, a pequena sentinela (claramente o chefe do bando) demonstrou preocupação; emitindo um som curto, quebrado, recuou; em seguida, ouvi o barulho de galhos quebrando de novo e, agora por todo o lugar, o grito de alerta, enxergando em seguida os bichinhos esguios praticamente voando de copa em copa em enormes ajuntamentos. Por muito tempo, foi possível saber para onde iam pelo barulho que faziam. Ao retornar, encontrei macacos pela segunda vez no dia, desta vez dois pequenos exemplares (Saguinus niger), sujeitinhos curiosos que, mesmo deixando claro o seu temor e mantendo respeitosa distância, não conseguiam parar de  seguir por um só segundo aquela coisa lá embaixo. Toda hora eu via nas copas de árvores acima de mim uma cabecinha espiando, que recuava espavorida toda vez que eu parava. No entanto, eles não precisavam temer minha espingarda.[...] Ouvem-se guaribas quase todo dia; pouco tempo atrás, estive bem perto deles também, sem enxergá-los, no entanto. [...]". Emília Snethlage (1868-1929). In: SANJAD, Nelson et al. Emília Snethlage (1868-1929): um inédito relato de viagem ao rio Tocantins e o obituário de Emil-Heinrich Snethlage. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, Belém, v. 8, n. 1, p. 202-203, jan.-abr. 2013.
 
 
 
Macacos novos e pouco conhecidos da região alto-amazônica (Rio Purus).
 Ilustração de Ernst Lohse (1873-1930)


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