Lendas e Curiosidades: O Sabiá-laranjeira.
"Apesar de Goeldi não lhe ter apreciado o canto, dizendo que seus trinados não passam de um "furi-furi" levado ao infinito e, nem, tão pouco ter manifestado simpatia por essa alminha encantadora de Gonçalves Dias, eu o classificarei dentre os nossos pássaros cantores genuinamente brasileiros, como o primus inter pares.
Se tenho razão, não discuto. Julgo que, talvez, esse meu modo de pensar seja questão de profundo entusiasmo que lhe dedico a ponto de reconhece-lo um artista impecável do canto.
Vou, pois apresenta-lo aos meus leitores, em primeiro lugar, não como espécimen raro, merecedor de análise circunstanciada no meio ornitológico, mas, tão somente, como um dos maiores cantores da primavera.
Quem o não conhece?
É ele o mais simpático da família, tanto pela compleição magnífica do corpo, como também pelo brilhante talento musical, fazendo a seus pares enorme sombra.
Olhinhos vivos, cabeça altamente erguida, peito arquejante, uma das pernas escondida por entre as penas bruno-avermelhadas, ei-lo senhor da Natureza, pousado elegantemente num galho, solitário, chamando com um canto vibrante e dolente a terna e encantadora companheira.
Vê-lo nesta sublime posição, dominando os encantos da terra é uma maravilha, um deslumbramento!
Ouvi-lo gorjear neste aspecto airoso, nesta atitude fidalga e enérgica, mas cheia de ternura, é um desdobramento compassivo e doce de saudades infinitas, - indizíveis, perpassadas de emoções evocativas, que nos transportam a tempos remotos, a regiões distantes, longínquas, indecifráveis. [...]". Antônio Caetano Guimarães Junior. Ensaios sobre ornithologia. Revista do Museu Paulista, São Paulo, t. 16, p. 99-100, 1929.
Sabiá laranjeira. R. von Ihering. O livrinho das aves. 1914. |
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