Viajantes: Os sons da floresta.


"Pouco antes do pôr-do-sol, chegamos a uma margem um pouco mais elevada, com algumas palmeiras tucum espinhosas, onde montamos acampamento. Havia poucos mosquitos, um acontecimento tão agradável que merece comentário. Foi uma noite fresca, enluarada, mais cheia de ruídos do que nunca. Não sei se consigo me lembrar de todos: eram gritos, berros, rugidos, estrondos, gemidos, coaxos, assobios, sibilos, cantos e zumbidos enchendo o ar. Eu os ouvia meio dormindo, meio acordado. Mas o mais primoroso era o som abafado e grave dos mutuns, que do alto soltam melancólicos e repetidos mu-tum-tum, como se soprassem uma corneta.
Dizem que as anhumas gritam de hora em hora. Pode-se ouvir o som penetrante e repetitivo das cigarras nas árvores próximas. De vez em quando, ouve-se o grito rouco dos jacarés vindo dos aguapés próximos. Barulho maior ainda fazem os Penelope araquãs. Machos e fêmeas gritam, um após o outro, no mesmo tom. Os portugueses contam que o macho diz "Quero casar!", e a fêmea responde: "Para Natal!". [...]. No meio de todos esses sons ouvem-se nitidamente as numerosas Ardea (socó-bois), as gaivotas e outros pássaros aquáticos, o coaxar dos sapos e rãs. Toda essa barulheira acabou abafando completamente o odioso zumbido dos mosquitos. [...]". Georg von Langsdorff (1774-1852). Os diários de Langsdorff. 1997, p. 36-37.
 
 
Aracuã-de-sobrancelha.
 Desenho de Antonio Martins. Brasil 500 pássaros. 2000.


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