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Mostrando postagens de dezembro, 2020

Um concerto noturno

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         Todas as noites enquanto estávamos na parte mais alta do rio, tínhamos um concerto de sapos, os quais fariam os mais estranhos e extraordinários ruídos.         Há três espécies, que se ouvem frequentemente de uma vez.         Uma delas faz um ruído algum tanto parecido com aquele que só se pode esperar mesmo de um sapo, isto é, um triste e horrível coaxar.         As outras não o faziam semelhante aos de nenhum outro animal que eu já houvesse ouvido antes.         Um trem, correndo a uma certa distância, ou um ferreiro malhando com sua bigorna, eis o com que isso mais exatamente parecia.         As imitações eram tão perfeitas, que, quando eu estava deitado em minha rede, meio acordado, meio dormindo, e ouvia uma dúzia deles como que me imaginava em casa escutando os familiares ruídos de um trem de ferro a aproximar-se, ou um ferreiro a malhar em sua bigorna. FONTE: WALLACE, Alfred Russel. Viagens pelo Amazonas e rio Negro. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2004

As Lauráceas

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             Numerosas são as espécies de Lauráceas que fornecem      madeiras estimadas, e achamos nesta família madeiras próprias para os usos mais variados. O nome vulgar genérico dos representantes desta família, na Amazônia, é "louro", o que é mais apropriado que o nome "cédre" que lhes dão na Guiana francesa. No sul do Brasil o nome de "louro" é aplicado às espécies de Cordia , sendo o nome genérico das Lauráceas "canela". As Lauráceas são geralmente fáceis de distinguir pelas suas folhas lanceoladas e muitas vezes aromáticas, pelas inflorescências de pequenas flores amareladas ou brancas, com anteras que se abrem por meio de pequenas válvulas, e pelos frutos aromáticos muitas vezes circundados, na sua base, pelo cálice engrossado, de maneira que eles se parecem com  um fruto de carvalho. FONTE: HUBER, Jacques. Mattas e madeiras amazonicas. Boletim do Museu Goeldi (Museu Paraense) de Historia Natural e Ethnographia , Belém, v. 6, p. 174, 19

Ilhas de juncos flutuantes - um belo espetáculo

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        Um  dos belos espetáculos da Amazônia é ainda o das ilhas de juncos flutuantes e os comboios intermináveis de paus mortos e de árvores caídas que descem a corrente no momento da enchente. As primeiras se formam nas campinas moventes de juncais moles de nenúfares de "murerus", formados nos inumeráveis lagos que ladeiam os grandes cursos d´água e onde o vento as empurra, ao seu capricho, como jangadas sem direção, tanto em um sentido como em outro. No momento da cheia, são levadas pela corrente dos paranás e vêm em fila interminável tomar o caminho do oceano. Em caso de tempestade, não há refúgio mais seguro: de um vigoroso impulso faz-se aí subir a piroga e não há mais a fazer senão se deixar descer: as maiores vagas não chegam a quebrar sua coesão.          Elas são emolduradas pelas séries de troncos caídos que descem durante meses de todos os rios de águas brancas: bambus, caniços, arbustos árvores gigantes, todos se põem em movimento à medida que as águas sobem, l

Os troncos flutuantes no rio Amazonas

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         Na época das cheias no Amazonas, esses cedros são arrancados das florestas frondosas pela torrente, e constituem grande quantidade de troncos flutuantes, que tantas vezes vi flutuarem ao nosso encontro no rio caudaloso. [...].          Esses troncos flutuantes têm ainda uma utilidade muito singular para a navegação em pequenas canoas e igarités, como chamam as embarcações leves de tamanho médio. Quando a canoa, descendo com a corrente do rio, está em perigo de ser impelida para trás pelo forte vento contrário, os tripulantes amarram-na a um grande tronco flutuante de amiris, que arrasta facilmente a canoa e o tripulante contra o vento. Se, porém, as ondas revoltas pelo vento e açoitando por todos os lados, ameaçam encher a canoa ou fazê-la virar, há ainda um outro meio fácil de evitá-lo. Levam-na para uma ilha flutuante de canarana. O capim meio mergulhado na água quebra toda a força das ondas, ondula só ligeiramente, e o índio prossegue arrastado pela grande árvore da florest

A Preguiça (Bradypus tridactylus)

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         [...]. A preguiça era da espécie chamada por Cuvier Bradypus tridactylus e que apresenta um áspero pelágio cinzento. Os naturais chamam-na, em tupi, aí-ibiritê (preguiça da terra-firme) para distingui-la do Bradypus infuscatus , que apresenta larga faixa negra entre os olhos e é chamada aí-igapó (preguiça das vargens). Alguns viajantes na América do Sul descreveram a preguiça como muito ágil em suas matas de origem, e contestaram a justeza do nome que lhe foi dado. Mas os habitantes da Amazônia, tanto os índios como os descendentes de portugueses, participam da opinião geral e consideram a preguiça como o tipo da indolência. É muito comum ouvir-se um nativo, reprovando a preguiça de outro, chamá-lo bicho da embaúba, porque as folhas da Cecrópia são o alimento da preguiça. É estranho espetáculo ver-se a extravagante criatura, produto legítimo destas sombras silenciosas, mover-se tardamente de ramo em ramo. Cada movimento traduz, não exatamente a indolência, mas a cautela. N

As grandes araras e araraúnas no cenário amazônico

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         [...].   Daí por diante, misturavam-se grandes araras e ararúnas no cenário amazônico. Espetáculo soberbo, e realmente esplêndido, quando nos galhos mais altos das sumaumeiras trepam nuns e noutros com o auxílio do bico, dos pés e da cauda, exatamente como faziam no Mucuri no cimo das barrigudas. Mas seus gritos não tardavam a denunciar que já nos tinham visto; voavam então dali com altas gralhadas aos pares, muito juntas, ostentando ainda melhor as cores brilhantes, espargindo verdadeiras centelhas.          As araraúnas produzem também maravilhoso efeito de cores, quando voam. Mais tímidas do que as araras, voam com mais rápido bater de asas, com o que o azul de cima e o amarelo de baixo se fundem num só cambiante. FONTE: AVE´-LALLEMANT, Robert. Viagem pelo norte do Brasil no ano de 1859 . Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1961. v. 2, p. 72. Canindé ( Ara ararauna ) e Aratinga ( Ara severa ) J. Th. Descourtilz. História natural das aves do Brasil . 1983.

Cercados de água e tucuns

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        Depois de um longo dia de viagem, com a chuva nos ameaçando o dia inteiro, alcançamos, pouco depois do pôr-do-sol, o acampamento que o guia, que tinha ido na frente, escolheu para nós. No pantanal propriamente dito, é muito difícil encontrar um local seco e elevado, nesta época em que o rio se enche e inunda as margens. Este lugar onde acampamos hoje, que o guia já conhecia de viagens anteriores, já foi uma área aberta, espaçosa e agradável. Mas, agora, estávamos cercados de água e tucuns por todos os lados; mal havia espaço para montar os mosquiteiros. FONTE: OS DIÁRIOS de Langsdorff. Campinas: Associação Internacional de Estudos Langsdorff; Rio de Janeiro: Fiocruz, 1997. v. 3, p. 60. Tucum ( Bactris setosa)   Expedição Langsdorff ao Brasil, 1821-1829.  Desenho de  Taunay.

O canto do socó-boi

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           " Os dias se sucediam e a vida decorria relativamente monótona na maloca cachuianá.         Acordávamos às madrugadas frias com o canto do socó-boi, quando ainda as estrelas brilhavam pálidas e lágrimas de orvalho tremulavam na folhagem do anel de mata que nos cercava. E nos deitávamos pouco depois do surgir da lua amarela, quando o assédio dos carapanãs se tornava o menos suportável e por entre as lianas serpeantes começava a encarniçada luta pela vida dos animais da selva".    FONTE: VINHAES, Ernesto. Aventuras de um repórter na Amazônia . 2 ed. Porto Alegre: Globo, 1944. p. 161. Socó-Boi. À esquerda um jovem da espécie.  ELETRONORTE. Brasil 500 pássaros . 2000. Desenho de Antônio Martins

O Uirapuru e seu inimitável canto

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      Como rival do cauré pode-se considerar o uirapuru. Como aquele, exerce uma atração irresistível por meio do terror que sabe incutir sua vizinhança assim este atrai também, mas seduzindo, encantando pelos meios brandos da simpatia e inclinação. O uirapuru  é uma ave pequeníssima, mas que canta tão bem como nenhuma outra ave. As notas que desfere, agudas ou graves, reúnem todas as modulações, e esta avezinha, com seu inimitável canto, domina as demais que a ouvem atentas. [...].          Ao belo canto desta ave, que é imitativo, com o qual provoca o cortejo das demais, dedica, com espirituosa e irônica alusão a outros cantores o poeta maranhense Humberto de Campos o soneto:  Dizem que o Irapuru, quando desata A voz-Orpheu do seringal tranquilo, O passaredo, rápido, a segui-lo, Em derredor agrupa-se na mata. Quando o canto, veloz, muda em cascata Tudo se queda, comovido a ouvi-lo: O mais nobre sabiá surta a sonata. O canário menor cessa o pipilo. Eu próprio sei quanto esse canto é s

Uma vegetação pomposa

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          A vegetação ali, nas margens do rio, uma milha abaixo do Pará, era muito pomposa.             O meriti ( Mauritia flexuosa) , linda palmeira com folhas em forma de leque, e outra espécie, mais débil, o marajá ( Bactris maraja ), de pequeno porte, de caule todo cheio de espinhos, e que produz um fruto de agradável sabor, mas um tanto ácido, eram vistos frequentemente.           Uma moita de cactos, de aspecto verdadeiramente tropical, e de trinta pés de altura, crescia perto da casa, mas fora plantada ali.           Os matos estavam cheios de curiosas bromeliáceas e aruns , e bem assim de muitas árvores e arbustos isolados. [...]. FONTE: WALLACE, Alfred Russel. Viagens pelo Amazonas e rio Negro . Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2004. p. 57-58., il. (Edições do Senado Federal. v; 17). Arun William Curtis, 1787.  www.br.pinterest.com