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Mostrando postagens de novembro, 2017

Floresta de igapó

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"O trecho da floresta, que estávamos atravessando, era um igapó, mas os pontos mais elevados do terreno só eram inundados por uma camada de poucos centímetros de água na época das chuvas. Esse trecho era composto por uma assombrosa diversidade de belas e majestosas árvores, nas quais uma infinita variedade de trepadeiras lenhosas e grossas se enroscavam e formavam caracóis e anéis, guirlandas e festões, tranças e franjas. A palmeira mais comum era a imponente Astrocaryum jauari , cujos espinhos, caídos no chão, nos obrigavam a ter o máximo cuidado ao pisar, pois estávamos todos descalços. A vegetação rasteira era rala, exceto nos trechos onde havia bambuais, os quais formavam impenetráveis moitas de plumosa folhagem e agressivas hastes cheias de nós, o que sempre nos levava a fazer uma volta para evitá-las. O chão se apresentava inteiramente atulhado de frutas podres, vagens gigantescas, folhas, ramos e troncos de árvores, dando a impressão de ser ao mesmo tempo o cemitério e o

A naturalista na floresta

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"[...].Tão distraída andou porém que a noite a surpreendeu numa clareira rasgada na floresta. O céu fosco, sem ameaça de chuva, mas também sem a rosa do sol, lembrava esses dias toldados de cinzento que aparecem no Alto Amazonas ao tempo das friagens, de maio a agosto. Calma, confiante no astro a surgir e que a orientaria, Snethlage reuniu um pouco de sacaís, ateou-lhes fogo e, para alimentá-la durante a noite, arrastou para junto da fogueira vários galhos de árvore por ali tombados. Fez a cama de folhas secas perto das labaredas e recostou-se no chão com a espingarda no regaço. Adormeceu profundamente. Ao repontar baço da claridade notou que o dia de novo não deixaria ver o disco vermelho do sol, o que a impossibilitava de se orientar ao rumo do rio. Comera na véspera o chocolate que levara. Era preciso arranjar alimentos. Prestou atenção em roda e viu uma grande árvore de caju do mato. Foi até embaixo da copa monumental onde recolheu muitas frutas, doces, vermelhos, saboroso

Em pleno rio Amazonas

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"Estamos agora em pleno rio Amazonas. O nosso barco parte as águas do rio-dos-rios, majestoso e soberbo. Paus rolam, na corrente, serena. Ao quarto dia, na fímbria do horizonte, o azul forte das serras. Começou, assim, aspecto novo para a nossa visão. O Jari...Arumanduba... A serra da Velha Pobre, com o cimo pelado e nu. Troncos esguios, retos, dourados, de folhas amarelas e secas, que brilham batidas de sol... Trepadeiras tristes que envolvem as árvores. O rio é  mais espumoso e mais cor de barro. Junto das montanhas, a vegetação torna-se mirrada, pequena, raquítica. Bananeiras que farfalham ao vento. Os ramos deitam-se sonolentos sobre o espelho líquido. O painel imutável torna-se, às vezes, monótono. Na agonia da tarde, os céus ficam translúcidos como uma lâmina rebrilhante. O rio - um lago sereno - reflete o firmamento: torna-se, também, claríssimo". Raimundo de Menezes. Nas ribas do rio-mar . 1928. p. 177-178. Bananeira. Musa paradisiaca.

Uma paisagem deslumbrante

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"A janela aberta do salão formava uma moldura para um quadro da cena lá de fora. Lá, no espelho do rio, flutuava a vasta extensão de folhas verde-claras e as delicadas flores cor-de-malva das massas de nenúfares, aqui e ali pontilhadas com as jaçanãs vermelho-castanho, que gritavam como gatinhos e cujos corpos leves e patas largas lhes permitiam correr com facilidade sobre a superfície da vegetação flutuante em busca do alimento. Cortando o centro das massas revolventes de plantas, a forte correnteza tinha formado um canal de água aberta, que brilha à luz do sol como um fio de ouro brunido. Longas linhas de mato espesso indicavam as margens do rio ao fundo, muitas carnaúbas, solitárias ou em grupos, erguem seus caules roliços, frequentemente cobertos de bromélias, samambaias e trepadeiras parasitas. Suas folhas em leque sussurram e cintilam com muitos brilhos, faiscando quando soprados pela brisa. Mais ao longe, uma cadeia de montanhas forma o último plano; seus sulcos, seus cum

Os encantos da natureza tropical

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"Com a entrada neste grande rio, toda a vegetação mudou como por magia. A mais bela floresta virgem, que nos mostrava ao mesmo tempo tudo o que é grandioso e tudo o que é encantador que tínhamos visto nas florestas do Brasil, subia pela margem do rio como se quisesse tornar-nos a despedida mais penosa no último momento ou enfeitiçar-nos com o desdobramento na tranquila magia de suas sombras, de todos os encantos da Natureza tropical. Majestosos troncos colossais com leves tetos de copas, impenetráveis maranhas de lianas quais paredes semeadas de lindas flores e entremeadas de todas as espécies de palmeiras imagináveis, cada uma procurando exceder a outra em beleza e graça, acompanhavam a margem esquerda por onde agora seguíamos. E como sabiam as palmeiras agruparem-se pitorescamente em volta das numerosas e umbrosas inflexões da floresta, como nichos, destes santuários escondidos nos quais os raios do sol da tarde quase que não podem penetrar, enquanto aqui e ali, uma audaz pass

O clima na Amazônia

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"[...]. A aproximação das nuvens de chuva se fazia de uma maneira sempre uniforme e muito interessante de se observar. Primeiramente, a fresca brisa marinha, que começava a soprar por volta das 10 horas e se ia tornando mais forte à medida que aumentava o calor do sol, diminuía de intensidade e finalmente cessava. O calor e a tensão elétrica da atmosfera tornavam-se então insuportáveis. O torpor e o desconforto se apossavam de todo mundo, e até mesmo os animais da floresta demonstravam seu mal-estar. Nuvens brancas começavam então a aparecer no leste, formando cúmulos que se iam tornando cada vez mais negros na sua parte inferior. O horizonte inteiro para os lados do leste, escurecia repentinamente, e esse negror ia subindo e se espalhando pelo céu até encobrir finalmente o sol. Ouvia-se então o rumor de uma forte ventania varrendo a floresta e agitando o topo das árvores. O vívido clarão de um relâmpago cortava o céu, seguido do estrondo do trovão, e a chuva desabava em torrent

Um espetáculo imponente

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"Fiquei deveras encantado ante a beleza da vegetação. Esta ultrapassava tudo que eu até então tinha visto. A cada volta do rio, algo de novo se nos apresentava. Ora um enorme cedro, que pendia sobre as águas, ora uma enorme árvore de algodão-seda que se destacava, como um gigante, acima da floresta. Viam-se continuamente as esbeltas palmeiras açaís em vários grupos, muitas vezes erguendo os seus troncos uns cem pés para cima, ou se arqueavam então em graciosas curvas, quase encontrando  as da margem oposta. Comumente encontrávamos também a palmeira "miriti", com os seus estípites retilíneos e cilíndricos, semelhantes a colunas gregas, tendo imensas copas de folhas em forma de leque, e de onde pendem os seus gigantescos cachos de cocos. O espetáculo era na verdade imponente. [...]. Essas palmeiras cobrem-se de trepadeiras, que sobem até alcançar as suas grimpas, onde soltam então as flores. À beira da água, veem-se numerosos arbustos em florescência, por v