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Mostrando postagens de abril, 2016

A Sumaumeira

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"Depois que partimos de Manaus, a floresta se mostra menos luxuriante e mais baixa nas margens do Solimões que nas do Amazonas, mais fragmentária, mais aberta. As palmeiras mesmo são menos numerosas do que antes, mas vê-se agora uma árvore que rivaliza em majestade com elas. Sua copa achatada, em forma de disco, domina a floresta das alturas, e vista de longe, ela tem alguma coisa de arquitetural tão regular é a sua forma. Essa árvore majestosa é a Sumaumeira. É uma das árvores, raras nesse clima, cujas folhas caem periodicamente, e, precisamente agora, ergue acima da massa verdejante da vegetação que a rodeia, uma copa arredondada, quase destituída de folhas. Os galhos de ramificação múltiplas, muitos nodosos, de simetria perfeita, são como o tronco cobertos por uma casca branca. Não deve tardar muito que a Sumaumeira readquira a sua verde coroa, pois já despontam aqui e ali as folhas novas. [...]." Luiz Agassiz (1807-1873); Elizabeth Cary Agassiz (1822-1907). Viagem ao Br

Os encantos de uma região

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"Os encantos de uma região vão-se revelando pouco a pouco, à medida que contemplamos as diversas partes que a compõem, e à proporção em que nossa educação e nossos hábitos nos permitem compreendê-los e admirá-los. É isso, particularmente o que se dá e relação às regiões tropicais. Alguns desses locais, sem dúvida, poderão causar, à primeira vista, uma grande impressão, como se fossem algo absolutamente inigualável; todavia, na maior parte das vezes, será  somente com o passar do tempo que diversas peculiaridades tais como os costumes da população, as estranhas formas de vegetação e as novidades do mundo animal se irão apresentando de maneira a formar na mente uma impressão coerente e definida. [...]. Como um exemplo do que acaba de ser dito, posso mencionar que, durante a primeira semana de nossa residência no Pará, embora eu estivesse constantemente excursionando pelas florestas existentes nas cercanias da cidade, não consegui enxergar sequer um único beija-flor, papagaio o

Os vales enflorestados

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"Durante todo o dia atravessamos magníficas florestas sobre morros, uma terra que produziria com exuberância todas as plantas tropicais. A cana-de-açúcar permite a colheita, ano após ano, sem replante, por dez anos ou mais. O rio corre por um vale profundo e estreito, serpenteando entre precipícios cobertos de matas, cujos lados descem diretamente para a beira da água, sempre forrados de densa floresta. Alguns destes vales enflorestados eram extremamente pitorescos: o céu azul refletido na superfície do rio que coleia em torno das bases das encostas de vegetação verde-escura, onde as árvores são cada uma diferente de sua vizinha, algumas erguendo-se acima de suas companheiras e espalhando-se como um imenso guarda-chuva de folhagem verde-escura;  altos troncos cinza-claros, azuis, acamurçados e marrons, retos como um poste, destacam-se com clareza contra o fundo escuro e sombreado de cipós emaranhados e folhagem; a imbaúba de folhas prateadas e tronco esguio e alto, a begônia púr

As Saracuras

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"As saracuras dão muita vida aos juncais e moitas de mangue das nossas praias daqui, às regiões baixas e pantanosas das embocaduras dos rios, às matas que bordam os ribeiros, às margens dos lagos e às úmidas campinas do interior. São aves extraordinariamente ativas, que vagueiam o dia inteiro e por assim dizer não descansam um segundo. Quem quiser observa-las nessa faina, deve procurar de preferência o romper d´alva, colocando-se em lugar protegido e conservando-se aí quieto. Não tardará a aparecer uma, depois outra, espiando cauta e desconfiadamente em volta, de cabeça erguida, na qual apresentam esplêndido aspecto os olhos ornados de íris cor de sangue. Se acham tudo em ordem e não reconhecem perigo, começam então a mover-se mais livre e despreocupadamente. Ora caminha ela vagarosa, agitando frequentemente a curta cauda, ora precipita-se rápida para um ponto onde avista alimento. Às vezes solta um rosnado de satisfação que parte do mais fundo do peito e se pode comparar ao s

Seringueiras

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"Há, ainda, nos arredores da cidade, muitas árvores, que produzem borracha ou goma elástica, chamadas, pelos brasileiros, de seringueiras. É uma árvore  de tronco alto e fino, com o casco de um cinzento amarelado, áspera embaixo, lisa em cima. Essa casca secreta, às vezes espontaneamente, mas, em geral, quando é picada, expele um suco leitoso, que se endurece no ar; apresenta, então, cordões de um cinzento pálido, da grossura de uma pena de ganso e com o comprimento de algumas varas Quando recobrem galhos finos, esses filamentos formam tubos elásticos que, sem dúvida, ensinaram aos nativos que aquela substancia poderia ser utilizada com vantagem. Os próprios índios já haviam feito com ela seringas e tubos para cachimbos. Hoje, são os cultivadores isolados e os mestiços pobres que recolhem e preparam aquela goma. Esse trabalho lhes valeu o nome de seringueiros. Embora a árvore da borracha seja abundante no Estado do Grão Pará e em toda a Guiana Francesa, a mais importante colhe

A pupunha e seu fruto valioso

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"A palmeira mais cultivada em Barra e nos sítios vizinhos, e que dizem nascer em estado silvestre a montante dessa cidade, é a pupunha, que suponho seja a mesma piriaô ( Guilielma speciosa , Mart.) que Humboldt menciona ter encontrado no alto Orinoco. Seu fruto é talvez mais valioso como alimento que qualquer outro tipo de coco pois o mesocarpo contém grande quantidade de amido, e este às vezes se desenvolve de modo tal que o núcleo fica inteiramente obliterado. Assado ou cozido, e depois temperado com sal, seu sabor lembra muito o da batata. Costuma-se também servi-lo acompanhado de melado. Uma espádice de pupunha carregada com frutos maduros constitui uma das mais belas imagens proporcionadas pelo reino vegetal: os frutos são escarlates na metade de cima, amarelos na parte central e verdes na base". Richard Spruce (1817-1893). Notas de um botânico na Amazônia . 2006, p. 168.     Fruto da pupunha  C. Fr. von Martius (1794-1868). Historia Naturalis Palmarum. (1823-1

Os arredores de Belém

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  "Depois que se ultrapassa a linha dos jardins e quintais, onde crescem a noz moscada, o cravo, a canela e outras árvores de especiarias da Malásia, os arredores de Belém assumem, de súbito, o aspecto geral de um campo cortado de águas e florestas. Poucos caminhos, mas brejos, no meio dos quais foram abertos pequenos trilhos. Ordinariamente, as fazendas e sítios ficam na vizinhança da água, que constitui quase que a única via de comunicação, no meio daquela rede de rios, ribeiros, regatos, canais e lagoas. O colono do Pará, o índio, o mulato, estão a tal ponto habituados àquela existência aquática, que atravessam o rio, na sua foz, em uma canoa escavada em um tronco de árvore. Uma distância de várias léguas, o movimento da maré, a ressaca de barra, as ondas do largo, nada os intimida. Se a canoa vira, procuram pô-la de novo sobre a quilha e esvaziá-la de água e, se isso se mostra impraticável, alcançam a costa, a nado. Em geral, um daqueles pequenos barcos (montaria) vai pres

As esguias palmeiras Açaí

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"De ambos os lados  do vasto lençol de água elevam-se florestas virgens de altos troncos, interrompidos o mais aprazivelmente por eretas e esguias palmeiras açaí, que, leves e graciosas quais etéreas sílfides saindo das colossais paredes da floresta, inclinavam-se para a frente daquele caos de lianas, dentre as quais se salientavam sobretudo as purpúreas que muitas vezes revestiam inteiramente, como se fossem joias de coral, árvores de muito mais de trinta metros de altura. Nunca mais esquecerei esta encantadora riqueza de colorido, que não nos fartávamos de contemplar; tampouco o lindo quadro, que um igarapé, vindo do leste e saindo das profundezas deste bosque encantado, nos oferecia na sua embocadura, permitindo-nos ver até ao mais íntimo desta maravilha da criação." Príncipe Adalberto da Prússia (1884-1948). Brasil: Amazonas-Xingu . 2002, p. 239.       Euterpe oleracea .  C. Fr. von Martius. Historia naturalis palmarum. 1823-1850 

As fúrias de um furacão equatorial

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"A bordo da goleta mercante, partimos para a cidade de Belém no dia primeiro de setembro de 1828. Abrindo velas à fagueira brisa, depressa deixamos de avistar Santarém com seus navios ancorados e suas duas torres, entrando em cheio no imenso Amazonas. A gosto se me dilatava o peito, navegando em alterosa embarcação naquele rio que tanto tem de largo quanto muitos da Europa de comprido, avistando grandes ilhas a correrem, chatas e extensas como pontões gigantescos cobertos de luxuriante vegetação, avistando a Guiana, admirando o movimento das ondas como em pleno oceano, e de vez em quando tendo ante os olhos um horizonte em que o céu se confundia com as águas do grande caudal. Poucos dias depois de entrado nele e em lugar muito largo e semeado de baixios e escolhos, tivemos que suportar as fúrias de um furacão equatorial. A trovoada não cessava e o vento soprava rijo. Nestas condições caiu densa noite. Eis senão quando o proeiro deu um grande grito em guarani: Itá (pedra) . Não

Excelentes voadores e admiráveis mergulhadores

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"[...]. O modo de vida de todas essas espécies tem muitos pontos de contato. Quando muito, consigo encontrar uma diferença no fato das espécies maiores mostrarem-se mais espantadiças diante do homem e costumam fugir já ao avista-lo de longe, enquanto que a pequena Ceryle americana muitas vezes deixa o homem chegar bastante perto. Todas elas excelentes voadores e admiráveis mergulhadores. Gostam muito de pousar  num ramo isolado pendente por cima da água, frequentemente na sombra  de arbustos e arvoredos debruçados num tronco da árvore ou uma estaca à margem do rio. Aí conservam-se muito tempo quietos, movem de vez em quando a cauda para cima e para baixo e eriçam, talvez para variar, as penas da cabeça. Como os seus pequenos e curtos pés - são só próprios para o pouso, mas não para o andar comodamente, raras vezes se mudam dos lugares que uma vez escolheram para se sentarem, e só quando por acaso lhes escasseia a caça. Quem observar por muito tempo um "Martim pescador"