A vegetação da floresta virgem!
"A vegetação da floresta virgem é de beleza e vigor incomparáveis. Nela se circula sem dificuldade, em geral através das altas matas que não deixam passar um raio de sol. O sol apenas deixa filtrar uma luz difusa: é dispensável usar chapéu. os índios também não têm nenhum. Eles se contentam com um diadema, para ornar a fronte e talvez para manter a cabeleira arrumada. Lianas de todas as espessuras se elevam em direção à luz, apoiadas nas grandes árvores, misturando sua folhagem às dessas últimas, mantendo-se cerradas.
[...]. Há grande número de árvores sem muito valor: não se chega a utilizá-la nem para carpintaria, nem para a marcenaria - porque muito duras ou muito moles, nem mesmo para a produção de calor. Há à beira dos rios grandes extensões que se diriam virgens, e não se encontra aí uma árvore a abater para [a construção de ] vapores; procurar-se-ia igualmente em vão um pilar de casa, um tronco para escavar uma piroga, embora as árvores grandes e grossas sejam aí abundantes. Lá, porém, onde o homem ainda não devastou tudo, encontram-se essências raras, belas, duráveis e preciosas: as madeiras imputrescíveis, como o uacapu e o paracutaca, ou muito duráveis, como a itaúba e a muiratauá; ou muito duras e muito retas como o punã. Mas o que mais se encontra talvez nessas florestas é a palmeira. Há cerca de quarenta espécies comuns, de todas as formas, todas as espessuras, todas as elegâncias e todas as grandezas. Algumas sequer têm tronco; outras são apenas lianas, algumas saem da terra inteiramente retas, outras têm como que um pé de colunas formadas de raízes aéreas por meio das quais engancham-se na terra nutriz; algumas são úteis, outras não têm mais nenhuma serventia. O açaí, o patauá, a bacaba, o mititi são apreciados por seus frutos, cuja drupa triturada na água morna faz uma bebida muito nutritiva e bastante agradável. O ubi, o caranaí, o jaci, o cocão, o miritirana fornecem as folhas para cobrir casas. Os caroços do urucuri, e inajá, que têm a dureza do carvão, fumegam e solidificam o leite da borracha; a jarina produz o marfim vegetal, o babaçu, um grosso caroço com muito óleo; a paxiúba, o javari e a juçara, fendidos em quatro no sentido do comprimento, e despojados de seu âmago interior, formam pranchas totalmente prontas para as paredes e assoalhos dos casebres, para os ancoradouros e para os jiraus de secar peixe ou cacau; o tucum, o tucumã e a piaçaba provém fibras para tecer cordas, chapéus e vassouras; enfim a pupunha (Guilielma speciosa) e o coqueiro são cultivados por seus frutos, os primeiros pelos indígenas e os outros, mais como curiosidade, pelos imigrantes brancos o mulatos. [...]". Pe. Constant Tastevin (1880-1958). In: FAULHABER, Priscila; MONSERRAT, Ruth (Orgs.). Tastevin e a etnografia indígena. 2008, p. 28-29.
Uma floresta virgem. Johann Moritz Rugendas (1802 - 1858) |
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