Sem o auxílio do lápis é deveras difícil dar uma ideia adequada da magnitude desta vegetação, em especial do modo com que tantas variedades se agrupam. Podemos ver crescer, é certo, em nossa próprias estufas algumas graciosas palmeiras, belas orquídeas com suas flores anormais, plantas do gênero Aroideae de folhas viçosas às vezes perfuradas em padrões regulares; mas o quão diferente é ver tudo isso na mata virgem, onde a natureza imperturbada pelo homem cria seus próprios prodígios, e onde não há vasos separando as filhas do solo maternal, e onde nenhum teto opaco de vidro intervém entre elas e o éter azulado!
Também nas estufas nossos olhos jamais poderiam ser agraciados com tamanhos contrastes de cor como os matizes cinza-prateado e marrom-ferrugem das folhas caídas de palmeiras e samambaias, ou o negro-escuro de um tronco apodrecido em contraste com o vermelho flamejantes da flor de uma helicônia. Só pode compreender o quão difícil deve ser dar a cada planta dessas, especialmente as orquídeas, a exata quantidade necessária de iluminação, calor e umidade quem já as viu amontoadas e escondidas sob a sombra profunda das copas das árvores, enquanto outras são expostas a escaldantes raios solares nas imediações de um rio ou em alguma clareira na floresta; algumas espécies prosperam mesmo sobre a rocha bruta, e outras, de raízes claras, firmam-se e sobrevivem da umidade de troncos caídos em decomposição.
FONTE:
KELLER-LËUZINGER, Franz. Os rios Amazonas e Madeira: esboços e relatos de um explorador. Belo Horizonte: Editora Dialética, 2021. p. 174-175.
Pintura de Martin Johnson Heade (1819-1904) |
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