Nesses recessos silenciosos ...

        Tomamo-nos de admiração  vendo vegetais amontoados que entre si disputam a liberdade de crescer, elevar-se, procurar a vida, um ar puro e a claridade, em alturas prodigiosas, espalhando a sombra e a morte a seus pés, enquanto que inúmeros fetos e musgos recobrem de fina camada verde os destroços de um tronco que há muitos anos deixou de existir!...

        Quem não admirará árvores de dimensões gigantescas que após terem lutado contra vários séculos veem-se cingidas e perecem sob o abraço de enormes lianas que de formas várias se apresentam, ora esticadas como cabos, trançadas como rede, ora enroladas em espiral regular, vazia em consequência da decomposição do tutor ao qual sua existência parecia estar ligada, formando então colunas ocas cuja base se fixa no solo e o cume avança para o céu e aí se coroa de folhas.

    Nesses recessos silenciosos, quantas espécies de pássaros vivem e morrem ignoradas. Bandos numerosos de tangarás, ou gaturamos, saíras, povoam essas solidões que seus cantos variados animam.

FONTE:

DESCOURTILZ, J. Th. História natural das aves do Brasil: ornitologia brasileira. 2. ed. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 1983. p. 19-20.


Saíras
Descourtilz, J. Th. Oiseaux brillans du Brésil. 1834.
www.biodiversitylibrary.org



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