Um gigantesco cenário de vida
[...]. Tudo se move ou se agita inata e singularmente, nesse gigantesco cenário de vida, nesse templo maravilhoso de todas as religiões.
Os mesmos movimentos do Sol e as cintilações estelares, parece que se modificam ou aceleram, em face dessa agitação, regionalíssima, que se estende por todo o grandioso painel imutável.
Mas é que tudo se move ou se agita, sobre o rio lendário, ou na sua direção.
Tudo se movimenta sobre as suas águas turvas, ou para elas chegar.
É uma espécie de atração do abismo essa gravitação em torno do rio, das diversas zonas que ele banha ou inunda, e das quais arranca ou desagrega barrancos, árvores, flores, frutos e vidas.
Já vimos, numa ilha flutuante, enorme barranco desagregado das terras do rio Jutaí, frondentes árvores, carregadas de frutos, passarinhos e grandes aves, um veado e uma capivara.
E no fato não acreditaríamos, se dele não tivéssemos sido testemunha. [...].
Nada mais imponente do que o espetáculo do rio, descendo, agitado, marulhoso, balouçando, nas ondulações das águas intranquilas, o cedro majestoso, as mungubas e samaumeiras, as frondentes touceiras de aturiás, o mururé, os sacaís, os miritis e outros espécimens da flora amazônica, barrancos e pássaros, que tudo desce de bubuia, tudo se arrasta sobre a torrente do rio, que se espraia pelos alagadiços ou se esbate, calmo ou violento, contra as margens. Até os vapores, as canoas dos regatões, a montaria do seringueiro, o cascozinho do tapuio, descem assim, de bubuia. [...].
FONTE:
Guajará, Aldo. De bubuia: aspectos e assumptos regionaes e paraenses. Folklore. Belém: Livraria Gillet, 1925. p. 4-5.
Sumaúma (Ceiba pentandra) Marianne North. Paintings. t. 129. Ilustração de M. North. www.plantillustrations.org |
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