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Mostrando postagens de agosto, 2020

Uma beleza regional

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"O rio gigante assume então uma beleza toda regional. Para o norte e mais tarde para o oeste, iluminado pelos raios do sol poente, a Serra de Almeirim estende-se em quatro ou cinco tabuleiros, saindo ridente do escuro crepuscular da floresta. Mais longe, a oeste, flutuava no amarelo-dourado da luz crepuscular a Serra de Paru. Algumas araras gritavam na mata; um bando de esmerilhões voava calmamente para a  dormida; da floresta mesmo emanava o forte hálito noturno da baunilha, até nós. Raramente vira um dia despedir-se com formas mais puras, cores mais brilhantes, e silêncio mais deleitoso". FONTE: AVÉ-LALLEMNAT, Robert. Viagem pelo norte do Brasil no ano de 1859 . Rio de Janeiro:Instituto Nacional do Livro, 1980. p. 69. (Coleção de obras raras, 7). Baunilha (Vanilla grandiflora)  Revue horticole . série 4, v. 28, 1856.  www.plantillustrations.org

As palmeiras na Amazônia

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  "Se acompanhássemos Lineu quando diz que o homem nasceu entre palmeiras e é essencialmente palmívoro, não teríamos dúvida em fazer da Amazônia o berço da humanidade. E isto porque das mil e muitas plantas dessa família que estão hoje conhecidas, mais da metade tem larga representação no grande vale e, conforme já acentuamos, empresta-lhe à paisagem caráter todo especial. Umas têm porte vultuoso e, de estípite grosso e linheiro, levam o capitel até quinze e vinte metros de altura, como acontece com a pupunheira e a inajá. Outras são acaules e com a sua fronde aberta logo à flor da terra, como fazem as curuás, recordam garbosos cocares indígenas. Estas são esbeltas e delicadas, como a piririma ou marajaí; aquelas têm o tronco desconforme como a paxiuba barriguda, ou ramificado como a jauari, ou descansando sobre um pedestal de raízes adventícias, como a caiaué e ainda as Iriartea. Da maioria, as palmas  serão pinadas e, de poucas, mas das mais belas, como a miriti, flabeliformes.

As palmeiras Miriti: princesas das matas

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[...]. Um cenário inteiramente novo, em extremo, surpreendente, apareceu-nos nessa ilha, apenas alguns palmos elevada acima das águas. Inúmeras palmeiras miritis ( Mauritia flexuosa , L.), cujos troncos cinzentos de um e meio a dois pés de circunferência, trazendo na copa um formidável penacho de leques à altura de 100 e mais pés, pareciam as únicas moradoras dali, e cresciam tão densamente, que em muitos pontos se apertavam uma às outras, como uma estacada de fortificação. Nos lugares onde o rio as havia derrubado, deixando-as todas atravessadas em desordem, formava-se um baluarte de algumas braças de altura, por onde trepamos penosamente, para apreciar toda a redondeza. Essas princesas das matas, tombadas aos milhares, umas sobre as outras abandonadas ao embate furioso das vagas ou à lenta podridão, como que choradas pelas sobreviventes, cuja fronde geme incessante aos açoites da tempestade, é um espetáculo portentoso da inexorável potência dos elementos.   [...]". FONTE: SPIX,

Árvores de portes diversos

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"A quem olha essas margens, de longe, só o verde unítono da mata se apresenta com as árvores sempre do mesmo porte, apenas aqui e ali, uma sumaumeira gigantesca sobressaindo por cima do copado denso da mataria. Passando rente às bordas, o cenário é bem diferente: árvores portentosas dominando e ensombreando outras menores; arbustos, plantinhas, lianas, touceiras, canaranas, muris e matupás boiando nas águas. Agora são árvores de portes diversos; além das sumaumeiras, os cedros, as sapucaias, as itaúbas e as acariquaras de cerne resistente como o ferro, os piquiás, todos dominando pelo seu porte avantajado as outras espécies mais baixas   . E sob as copas das árvores mais altas, uma promiscuidade de galhos e de folhas, mil espécies diversas se apertando, se sufocando e se ajudando na contínua escalada para o alto em busca de luz. [...]". PEREIRA, Jayme R. Amazônia : impressões de viagem. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1940. p. 74-75. Cedro ( Cedrella odorata)   Ruiz,

A utilidade das palmeiras

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"[...]. Estas palmeiras têm aplicações variadas para os misteres da vida: da casca do miritizeiro    e do açaizeiro fazem-se taboas para o soalho de casas e pontes; dos pendões das palmeiras tiram-se talas para fabricação de cestos, gaiolas, esteiras, tipitis, etc.; com as folhas do ubinzeiro cobrem-se as choupanas e até grandes casas; o âmago do pendão do jupatizeiro presta-se para se fazerem paredes divisórias nas habitações. Grande parte dessas palmeiras são apreciadas na alimentação: o suco do açaí, tirado da película que cobre as sementes, e que é amolecida por meio de água tépida, transforma-se, depois de peneirado, em um vinho de cor vermelho-escura, de um sabor agradabilíssimo e muito apreciado pela quase totalidade dos habitantes; da bacaba e do patauá extrai-se também um vinho muito agradável, de cor branca ou avermelhada; os vinhos do caraná, do miriti, do tucumã e de algumas outras palmeiras também são muito apreciados, diferindo entre si pela cor de cada um dos frutos

Representantes da avifauna neotropical: tucanos e araçaris

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"Se quiséssemos buscar entre as aves do Brasil, uma que bem caracterizasse as singularidades das formas e a beleza de colorido de representante da avifauna neotropical, a escolha necessariamente recairia nos tucanos e araçaris. Só eles, de fato, ostentam aquelas formas aberrantes dos clássicos    modelos da natureza, só eles se vestem com púrpuras realengas, com o amarelo alaranjado dos frutos tropicais, com o azul dos mares brasileiros, com o verde da nossa bandeira". FONTE: SANTOS, Eurico. Da ema ao beija-flor. 2. ed. Rio de Janeiro: F. Briguiet, 1952. p. 296. (Zoologia Brasílica, 4). Araçari  (Pteroglossus pluricinctus ) John Gould (1804-1881). A monograph of The Ramphastidae or family of toucans . 2. ed.  1992.

Uma enorme borboleta azul flutua no ar

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"[...]. Mil coisas nessas matas atraem a vista e nos distraem daquilo que procuramos. Quantas vezes paramos para admirar um tronco por si só constituindo um mundo vegetal! A cada nodo, a cada encontro dos ramos, as parasitas se agarram; as lianas pendem dos galhos altos até o chão; os cipós enleiam o tronco, tão estreitamente unidos uns aos outros que se diriam as caneluras duma coluna. E quantas vezes ficamos imóveis, à escuta, para distinguir o sussurro do vento nas folhas das palmeiras, a uns cinquenta pés acima de nossas cabeças; não é ruído lento e surdo de vento nos galhos dos pinheiros das nossas florestas; mais parece o som claro duma água corrente. Através da estreita trilha, uma enorme borboleta, dessa cor azul vivo que se admira nas coleções de insetos do Brasil, flutua serenamente no ar diante de nós; ei-la pousada  quase ao nosso alcance, dobrando os seus esplendores azulados e parecendo calma e imóvel, uma simples flor castanho-escuro salpicada  de branco! Aproximand

Vitória-régia ou "forno-de-jaçanã"

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"[...]. Ao me aproximar da extremidade oposta da lagoa eu vi, pousadas na superfície da água, numerosas folhas grandes e arredondadas, de bordas voltadas  para cima; tratava-se da vitória-régia. As folhas estavam começando a expandir-se (3 de dezembro); algumas ainda estavam debaixo d´água, e as maiores, dentre as que já tinham chegado à superfície não mediam mais do que um metro de diâmetro. Encontramos uma canoa com um remo dentro dela, encostada no barranco, e eu tomei a liberdade de usá-la sem pedir licença ao desconhecido proprietário. Luco levou-me até onde se achavam as nobres plantas, para eu ver se achava algumas flores, o que infelizmente não aconteceu. Mais tarde fiquei sabendo que essa planta é comum em quase todas as lagoas das redondezas. Os nativos a chamam de forno de jaçanã, porque o formato de suas folhas se assemelha ao do forno onde é tostada a farinha de mandioca. [...]. FONTE: BATES, Henry Walter. Um naturalista no rio Amazonas . Belo Horizonte: Itatiaia; São