Lendas e Histórias da Amazônia: A Vitória-régia


"A lenda da Vitória-régia é uma original história de procedência indígena, coligida por Lindley.
Havia numa tribo do Amazonas, linda cunhã que embora recebesse o carinho e amizade de todos de sua taba considerava-se muito infeliz. Durante a noite punha-se a fitar o céu, cheia de nostalgia, contemplando miríades de pontos reluzentes, que eram mulheres transformadas em estrelas pelo amor do astro noturno. Todos os anos a lua descia dos páramos celestes, escolhendo na terra as virgens de sua predileção e com elas se envolvia no manto acolhedor das nuvens, antes de transfigurá-las em constelações. A moça, apesar de seus atrativos físicos, não merecia a atenção do volúvel amante.
Uma noite, indo banhar-se nas águas do lago, viu a imagem do bem amado cintilando no espelho líquido, e nas linfas se atirou num paroxismo amoroso. O luar coava-se pelas árvores da mata adormecida, quando o corpo da cunhã, com os cabelos coroados por uma grinalda de flores roxas do aguapé, pairava eternamente adormecida no dossel verde dos mururés, como a Ofélia de Hamlet. A lua, pesarosa com o sacrifício da virgem e não podendo mais fazê-la estrela do céu, tornou-a estrela das águas e rainha das plantas lacustres - a Vitória-régia - cujas flores delicadas e odoríferas só se abrem durante a noite, para que o astro opalino contemple, sem companhia, a floração da amante desditosa".

TOCANTINS, Leandro. O rio comanda a vida: uma interpretação da Amazônia. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1961. p. 51-52. (Retratos  do Brasil, v. 7).



Victoria regia
Pintura de Walter Hood Fitch (1817-1892)

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