Dra. Emília Snethlage e seu encontro com mamíferos


"[...]. Atrás da vila, existe uma estreita faixa de terra coberta com capim e arbustos baixos, que chamo de "sertão", e logo depois dela assoma a mata virgem. Para chegar até esta, é preciso, no momento, patinhar na água por uns cem metros, ou muito mais, por uma espécie de lama fluída, cujo solo forma uma massa escorregadia e barrenta, da qual só com extrema dificuldade se consegue puxar os pés. É preciso tomar cuidado ao andar, senão se fica enfiado em pé como se estivesse sentado, como eu outro dia. Fiquei lá, entalada naquele líquido nojento, não até o joelho, como é comum ficar, mas até a cintura. Sorte que, para alívio geral, logo antes de entrar  na região de mata mais alta, há um igarapezinho lindo com cascalho no fundo e água transparente onde aproveito para me lavar. Depois disso, entro num caminho bem estreito em meio à profunda solidão da mata, da qual só consigo sair quando o meu estômago começa a roncar alto. Contudo, ainda não vi muito da abundância de onças, maracajás, porcos-do-mato que a mata abriga, conforme asseguram as pessoas do local; mesmo assim, já observei aqui mais mamíferos do que em todas as minhas excursões anteriores. Podemos ver, sobretudo, cutias, quase diariamente. Recentemente, apareceu uma vindo em minha direção, bem tranquila, quando eu estava em pé, com uma fruta na boca, e passou mansinha bem pertinho de mim. Também já dei com quatis, mas o mais interessante de tudo foi encontrar macacos. [...]". Emília Snethlage (1868-1929). In: SANJAD, N. et al. Emília Snethlage (1868-1929): um inédito relato de viagem ao rio Tocantins e o obituário de Emil-Heinrich Snethlage. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, Belém, v. 8, n. 1, p. 202, 2013.


Cutia
Dasyprocta sp.
Ilustração de Eron Teixeira

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