Zarabatana



"Certo dia, o índio em cuja casa eu me encontrava resolveu ir à floresta em busca de tubos para suas zarabatanas. Decidi acompanhá-lo. Seguimos por cerca de uma milha, até um local onde cresciam diversas palmeirinhas da espécie Iriartea setigera (Martius), de 10 a 15 pés de altura, cuja espessura variava de um dedo a duas polegadas de diâmetro. Em virtude das marcas deixadas pelas folhas que caíam, elas davam a impressão de possuir gomos. Dentro, porém, havia uma tenra medula que, quando extraída deixava ver uma cavidade ininterrupta, lisa e polida. Meu companheiro selecionou algumas das mais retilíneas que encontrou, de todos os diâmetros possíveis, levando-as para casa. Ali, os caules foram deixados ao sol para secar. Suas medulas foram extraídas por meio de uma comprida vareta feita do cerne de outra palmeira, e os interiores limpos e polidos com pequenos feixes de raízes de um feto arborescente, puxados e empurrados diversas vezes por dentro dos tubos. Feito isso, cada índio selecionou dois tubos de grossuras diferentes, de modo que um coubesse dentro de outro. Essa escolha era feita com cuidado, até que se encontrassem dois tubos de tal modo feitos um para o outro que até suas pequenas curvaturas se encaixassem perfeitamente. Para completar, colocaram-se os bocais, constituídos de uma peça cônica de madeira. Pronta a zarabatana, alguns preferiam enrolar todo o tubo com a casca de um cipó liso, escuro e brilhante.
As setas são feitas das fibras espinhosas do patauá (Oenocarpus batawa), as quais são apontadas e untadas de veneno numa das extremidades. A outra ponta é envolvida em paina (o revestimento sedoso das sementes de um Bombax), enrolada de modo a formar um pequeno cone de diâmetros tal que tape exatamente o tubo, mas sem ficar apertado. As setas são transportadas dentro de uma aljava de vime, calafetada com resina  no fundo. Quando está chovendo, inverte-se a aljava e as setas permanecem secas.
A zarabatana é a principal arma desses índios. Todos têm a sua, e quase nunca vão à mata ou aos rios sem levá-la consigo". Alfred Russel Wallace (1823-1913). Viagens pelos rios Amazonas e Negro. 1979, p. 139.



Caçando com zarabatana
James Orton (1830-1877).  The Andes and the Amazon or across the continent of South America. 3. ed. New York Harper & Brothers, Publishers, 1876.

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