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Mostrando postagens de novembro, 2018

Vegetação aquática

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"[...], meti-me em uma pequena montaria e fui examinar o igapó que cobre a baixa das terras na frente do engenho. A vegetação aquática aí, é a mesma que encontrei nos lagos de Santarém. Compõe-se de duas espécies de pontederias uma de folhas largas e outra de folhas estreitas: sendo a primeira conhecida no Rio de Janeiro, de uma espécie de utricularia de flores amarelas, de várias nympheaceas , entre elas uma espécie, que estava então em flor e que julgo ser a nymphaea alba . Borda esse igapó, assim como quase toda a margem do Ayayá, a canarana, que é uma gramínea, que cresce quase sobre a água nos lugares baixos, onde as raízes possam tocar o solo, e que substitui o capim d´Angola, do sul. Desta canarana é que são formados quase todas as ilhas que matizam o Amazonas. Assemelha-se à cana crioula, quando nova, e daí o nome de canarana, ou cana-falsa. Serve de abrigo a diversos pássaros aquáticos que nela procuram ocultar-se do caçador, ou mesmo aí acham o seu alimento, como a p

Um lago de vitórias régias

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"Saí de Tefé às 10 horas da manhã, atravessei a lagoa em duas horas de canoa, e entrei sob as árvores no furo (varadouro) ou canal de Caiçara que liga, em tempos de enchente, o Solimões ao lago de Tefé. A lagoa estava inteiramente imóvel. O sol, em todo seu esplendor, lançava raios de ouro sobre a superfície límpida, cujo tom escuro fazia as vezes do estanho em nossos espelhos. Produzia um reflexo deslumbrante. Tivemos a sorte de encontrar refúgio nas sombras frescas de um igapó (floresta inundada), de lá saindo perto das duas e meia da tarde. No começo as águas são estagnadas, até chegar a um lago de forma oval, atravancado de juncos, nenúfares, ervas e vitórias régias. Ao sair do lago, é preciso enfrentar uma correnteza mais ou menos forte em função do nível das águas que vêm do Solimões. Esse furo é evidentemente testemunho da época longínqua em que o Amazonas aqui se unia ao lago de Tefé, no ponto em que ainda existe o pequeno lago. [...]. Eu tinha comigo apenas um remador,

Quando o sol se esconde atrás das árvores

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"O tempo estava agora firme e seco, e o rio baixa rapidamente - seis polegadas em vinte e quatro horas. Nesse recanto remoto e solitário posso dizer que ouvi pela primeira e quase única vez, o tumulto da vida ao por do sol, que Humboldt diz ter assistido nas fontes do Orenoco, mas que é desconhecido nas margens dos outros rios maiores. Os ruídos dos animais começam  logo que o sol se esconde atrás das árvores, depois de tarde abafadiça, deixando o céu tinto de azul intenso. Dois bandos de guaribas, um perto de nossa embarcação, o outro a um oitavo de milha de distância, enchiam as matas de seu horrendo bramido. Bandos de papagaios, incluindo as araras azuis que buscávamos, começaram a passar e os diferentes estilos de guinchos e crocitos faziam terrível desafinação. Juntavam-se a estes ruídos os cantos de estranhas cigarras. Uma grande espécie pousava nos ramos altos das árvores em torno de nossa pequena enseada, fazia o mais estridulo zangarreio: começou com as notas ásperas e

Os interessantes tucanos

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"Ninguém vendo um tucano, consegue dizer qual a utilidade do enorme bico que, em algumas espécies, chega a sete polegadas de comprimento por mais de duas polegadas de largura. Farei aqui algumas observações a esse respeito. Os primeiros naturalistas, tendo visto apenas o bico do tucano, que tinha sido considerado como produto maravilhoso pelos virtuose dos séculos XVI e XVII, concluíram que a ave devia pertencer a ordem aquática, de pés palmados, na qual se encontram tantas espécies de notável desenvolvimento de bico, adaptado para apanhar peixe. Alguns viajantes também contaram histórias fabulosas de tucanos, que vinham às margens dos rios alimentar-se de peixes, e tais narrativas também incutiram, a respeito dos hábitos de tais aves, as vistas errôneas que prevaleceram durante tanto tempo. Mas atualmente os tucanos são bem conhecidos como aves eminentemente arborícolas e pertencem ao grupo (que inclui também os trógones papagaios e tamatiás) cujos membros são todos frugívoros.

Os colibris multicores

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"[...]. A vegetação não era de modo algum densa e composta como a floresta da Amazônia, pois os raios de sol escoavam profusamente pelas clareiras entre as árvores maiores e permitia à luz do sol manchar as folhas polidas e brilhantes das plameiras com sua luz dourada, em um lindo contraste com as partes sombreadas. Muitos pássaros frequentam estas valeiras adoráveis, com suas penas de cores vívidas, combinando com a paisagem. Havia araras carmesim, azuis e douradas, papagaios verdes, colibris multicores, longos tucanos de bico amarelo e púrpura e corpo branco, periquitos tagarelas verde-azulados, pica-paus de cabeça vermelha batendo nas árvores com pancadinhas rápidas e agudas em busca de larvas e insetos, e os ninhos do japim suspensos em feixes de ramos entrelaçados. [...]". James W. Wells [1841-?]. Explorando e viajando três mil milhas através do Brasil : do Rio de Janeiro ao Maranhão. 1995, v. 2, p. 200-201.  Colibris em Heliconia sp.  Gould, J. A monograph

Uirapuru, o mais notável pássaro canoro

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"Eu ouvia frequentemente, nas vizinhanças dessas choças, o canto do realejo ( Cyphorhinus arada ), o pássaro canoro mais notável das florestas amazônicas. Quando a pessoa ouve pela primeira vez as singulares notas do seu canto, a impressão que tem é que elas partem de uma garganta humana; imagina, então, que algum menino, amante da música, anda colhendo frutas no meio do mato e cantando para se distrair. O tom vai-se tornando cada vez mais aflautado e plangente, lembrando o de um flajolé, e, embora isso seja absolutamente impossível de acontecer, a pessoa se convence por uns momentos de que alguém está tocando esse instrumento. Não se vê nenhum pássaro em parte alguma, por mais que se esquadrinhem as árvores e arbustos das redondezas, e no entanto o som parece vir da moita mais próxima. O final do canto é um tanto decepcionante. Começa com algumas notas lentas e suaves, emitidas em sucessão, como se fosse o início de uma melodia; ficamos à escuta, esperando ouvir a frase musical

As belas "canindés" amarelo-azul-claro

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"Pela madrugada, o bugio enche a selva com seus estertores enquanto as "araras-guaçus" de azul intenso e as belas "canindés" amarelas-azul-claro, saúdam estridentemente o nascer do Sol, voando aos pares. Manadas de macacos, como acrobatas prodigiosos, vão de galho em galho, de árvore em árvore, curiosos, devassando, esmiuçando tudo. A jaguatirica manhosa e paciente já está à espera para abocanhar o imprevidente quadrumano.  Pendente das pontas dos "sarans" e das goiabeiras bravas, o camaleão espreita. Horrível, mas inofensivo, miniatura de seus antepassados diluvianos, provoca asco e temor. Suspenso como fruta, cai, de súbito, vítima, também ele, do imprevisto, dentro dos batelões ou das canoas que margeiam o rio na subida. O "socó-boi" imita o mugido da vaca e os olhos do viajor procuram, instintivamente, a rez tresmalhada movido pela surpresa de um encontro fora do comum. Mergulhões lindíssimos ficam em equilíbrio sobre os paus que a