Os sons da Natureza


"[...]. Como continuássemos o nosso passeio, começou o breve crepúsculo e da vegetação em torno nos chegavam os múltiplos sons de uma vida multifária. O zangarreio das cigarras, o canto estrídulo dos grilos e esperanças, cada espécie com a sua nota particular; o coaxar plangente das pererecas, tudo fundido num soido contínuo:  - a expressão audível da profusão prolifica da natureza. Com o cair da noite muitas espécies de rã e de sapos dos alagadiços próximos vieram juntar-se ao coro: seu coaxar e martelar, muito mais alto que qualquer outro que eu tinha ouvido até então, juntando-se aos demais ruídos, faziam um alarido quase ensurdecedor. Mais tarde verifiquei que esse rumor nunca cessava completamente, dia e noite, mas com o decorrer do tempo eu me habituei a ele, como os outros residentes. É esta, contudo, uma das singularidades do clima tropical - pelo menos do Brasil - que provavelmente mais surpreende ao estrangeiro. Quando voltei para a Inglaterra, o silêncio de morte dos dias estivais no campo me pareceu tão estranho como o ruído confuso por ocasião de minha primeira chegada ao Pará. Terminado o objetivo de nossa visita, voltamos para a cidade. Miríades de vagalumes voavam então pelos bosques sombrios e até pelas ruas frequentadas. Metemo-nos em nossas redes, cheios de satisfação pelo que tínhamos visto e antecipando a riqueza das coisas naturais que tínhamos vindo explorar". Henry Walter Bates (1825-1892). O naturalista no rio Amazonas. 1944. v. 1, p. 36-37.


Heliconia com sapos.
Arte de Tim Marsh
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