O canto das aves depois da tempestade

        [...]. A tempestade aproxima-se e estala, a chuva desaba em torrentes. A própria violência do furacão dissipa-se, carregada para longe e estabelece-se a calma. Então os andorinhões e as andorinhas brincam nos céus onde reina a doçura do ar, os pequenos granívoros recomeçam suas garrulices, o bem-te-vi articula de novo as sílabas que lhe deram o nome e o sabiá, pousado no ramo ainda gotejante, entoa a sua canção magoada.

        A natureza parece por então certa harmonia entre o canto melancólico deste pássaro e o declinar do dia, ele torna-se mais agradável, mais tocante após essas horas de terror e quando a terra úmida exala seus perfumes, impressão que não nos pode dar o barulhento gorjeio das aves campestres, sob o aspecto dum sol sem nuvens.

FONTE:

DESCOURTILZ, J. Th. História natural das aves do Brasil: ornitologia brasileira. 2. ed. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 1983. p. 26. (Coleção Vis Mea in Labore, 4).


Bem-te-vi. 
J. Th. Descourtilz. Ornithologie Brésilienne ou Historie des Oiseaux du Brésil, [1854-1856] 
www.biodiversitylibrary.org



 

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