Um lugar de extraordinário encanto


"Depois de Laguinhos há uma praia plana e coberta de árvores, que formam um belo bosque.
Por volta do mês de abril, quando a água chega ao nível da praia, as árvores estão cobertas de flores, e uma bela orquídea, um Epidendron, cobre o tronco das árvores de uma profusão de grandes flores brancas. Várias espécies de maçaricos afluem para ali, sendo que num pequeno trecho da praia podem ser encontrados quatro tipos diferentes - o maior deles do tamanho de um corvo, de plumagem pintalgada de cinza e um bico enorme, e o menor praticamente do tamanho de um pardal. A ave maior faz o seu ninho nos penhascos de argila situados a cinco ou seis quilômetros dali. Nenhum desses  maçaricos tem uma plumagem tão brilhante quanto a das nossas espécies inglesas. As flores das árvores atraem algumas espécies de colibris, e o mais notável deles é um beija-flor grande, (Eupatomena macroura) com uma cauda semelhante à das andorinhas e uma brilhante plumagem de tons verde-esmeralda e azul-aço. Notei que ele não permanecia parado no ar, diante das flores, tanto tempo quanto as espécies menores; pousava nos ramos com mais frequência e às vezes partia veloz atrás de algum inseto que passava voando por perto. Depois desse bosque há um trecho de praia arenosa; o terreno ali é alto e rochoso, e o cinturão de mata que margeia o rio é muito mais largo nesse trecho do que em outros lugares. Finalmente, depois de se contornar um escarpado penhasco, alcança-se a enseada de Mapiri. O aspecto do rio ali é característico do Tapajós: as margens são cobertas de matas, e no lado oposto se vê uma linha de penhascos argilosos tendo ao fundo uma série de morros cobertos por ondulantes matas. Uma comprida ponta de areia avança para dentro do rio, e depois dela só se vê a vasta extensão de águas escuras, com a margem oposta do Tapajós visível apenas como uma fina linha de árvores cinzentas no horizonte. A limpidez do ar e da água na estação da seca, quando sopra o forte vento do leste, e os vívidos contornos dos morros, matas e praias arenosas emprestam ao lugar um extraordinário encanto".

FONTE:

BATES, Henry Walter. Um naturalista no rio Amazonas. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1979, p. 146-147. il. (Reconquista do Brasil, v. 53).




Beija-flor. em Nymphaea sp.
Gould, J. A monograph of the Trochilidae, or family of humming birds. v. 3, t. 172, 1861. 
www.plantillustrations.org



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